Chegou o final de ano, e com ele todas as nossas expectativas voltam-se a 2010. Mas pode-se dizer que 2009 foi um ano muito bom para o Gelo em Marte.
Inicialmente, vou tentar fazer um balanço baseado em números:
Estamos no ar, oficialmente, desde 28/06 (data do primeiro post, coincidentemente meu aniversário, data que persegue o GEM furtivamente desde sua origem). Foram cerca de 150 posts, entre textos, fotos e entrevistas. Vocês acessaram este humilde site cerca de 50 mil vezes (embora o contador oficial registre um pouco menos, mas ele foi colocado quase dois meses depois da inauguração da página), o que dá algo em torno de 12.500 visitas por mês, 416 visitas por dia, 17 visitas por hora e pof.
Seremos sempre gratos àqueles que nos ajudaram em nosso crescimento: Aos colaboradores fiéis, que sempre nos mostram um lado diferente de algum assunto, sob o ponto de vista único daquele que sabe o que dizer; aos colaboradores menos assíduos, mas que tiveram seus nomes eternizados em nosso humilde rol; aos parceiros e divulgadores do site, seja através de Twitter, blogs, sites, boca a boca, enfim, a todos que leram nossa mensagem, acharam interessante e passaram adiante.
O que esperar para 2010? Não sei A mesma qualidade de sempre, com novos e antigos colaboradores, novos textos, novas fotos, novos eventos que ocorrerão no dia 28 de junho...
De minha parte, um ótimo final de ano para todos vocês, um 2010 com muitas promessas cumpridas, muitas outras quebradas, algumas esquecidas, como todo bom ano novo.
Acho que herdei uma maldição genética. Assim como minha mãe, empolgo-me com a propaganda que os outros fazem sobre determinada coisa e sempre me decepciono. É assim com filmes, músicas e comidas, etc. E foi quase exatamente assim com o dia posterior ao natal americano.
Cega pelos comentários sobre o absurdo que são as promoções pós-hollidays feitos pela minha host-mãe, convenci duas amigas (também au pairs e brasileiras) a nesse sábado (26) de manhãzinha deixarem o conforto e comodidade dos respectivos edredons para praticar o consumismo em uma temperatura de 6 graus negativos.
Fiz até as contas pra não gastar das minhas economias mais do que o suficiente para deixar na conta apenas o dinheiro para pagar as aulas de ESL (English as a Second Language) em janeiro, levando em consideração os salários que eu ainda iria receber, é claro.
Bobagem.
Devido a uma mistura do que acredito ser o contraste da minha pobreza com o poder aquisitivo do americano médio, não consegui gastar. Porque ao meu bolso quase tudo continuava incomprável. Pois aquilo que estava razoavelmente barato era dispensável e o que era absurdamente barato era medonhamente demodé.
Para não dizer que não comprei nada, achei em uma das tantas lojas que entramos, lá na arara que tinha a placa de 90% de desconto, duas blusinhas básicas de verão por pouco menos de 3 dólares cada.
O que não permitiu que meu final de ano consumista não se resumisse em frustração foi a decisão de contrarias as forças malígnas do GPS e irmos para a delicatessen de produtos brasileiros - que não estava em promoção.
Achei lindo pagar 2 dólares por um pacotinho de polenta instantânea que nem de marca boa é. Foi mágico ver Maguary de maracujá. Quase me belisquei quando encontrei a tão sonhada farofa temperada. E o feijão carioquinha, então!? Hmmm...
Minha host que me desculpe, mas só de lembrar o que tem ali na minha sacola de compras, não sinto nem vontade de ir até a cozinha buscar a caçarola de vagem que ela fez para a janta. E olha que eu costumo adorar aquela caçarola.
Londres, não quero me apaixonar por você. Colabore! Preciso querer voltar pro Brasil, e continuar meus planos por aqui.
Verei vitrines, moda, música, businesses, e palavras novas. Cinco semanas podem até parecer pouco tempo, mas este se torna gigante se eu pensar que é a primeira vez fora do Brasil, imersa num mundo frio, cinzento, e ao mesmo tempo cosmopolita em meio a muitos povos, marcas, sotaques e diversas programações a todo momento.
Apesar de todos falarem que Londres é o máximo, meu amigo bom humor precisará 'trabalhar' bastante durante estes dias. Será janeiro, inverno, e lá a noite dorme somente das 10h às 16h. Mal terei tempo de ver o sol, se é que ele vai decidir aparecer.
Adoradora de casacos e cachecóis não poderei reclamar de que realmente fui para o local ideal. Por outro lado, adoradora também de pés na areia durante um brilhante verão de Florianópolis, dói o coração ter de trocar um janeiro de sol por chuva, muito frio e talvez neve. Bem que podia ser primavera...
Bastante curiosa e com um olhar aguçado pra ver os modelos de negócios na cidade, não seria eu mesma se apenas visitasse tudo apenas com os olhos de estudante ou de turistas gastadores de dinheiro, pois quero comparações, quero ver novidades. Afinal, é de lá que surgem muitas das nossas referências aqui pro Brasil.
Sem mais adiar momentos, e histórias, e aprendizados, fevereiro já está próximo. Poderei retomar vários trabalhos, mas sei que por este instante precisava voar, ir em busca de aperfeiçoamento do meu inglês, pra então tentar coisas novas pra este 2010 que pelo próprio nome já sabemos que será 10.
Acho que Londres será um daqueles amores que a gente vive evitando... pra não se render aos seus verdadeiros encantos. Difícil vai ser admitir e querer revê-la, caso realmente venha pra ficar, e roubar meu coração.
A Argentina mais uma vez balançou, como nos últimos anos, econômica e politicamente. A Venezuela, Colômbia e Equador mantiveram suas confusões diplomáticas e trocaram acusações. O Chile, ao lado da Argentina, foi dos países que mais sofreu com a nova gripe. O Uruguai conquistou uma vaga na Copa e mudou de presidente. O Brasil você sabe, escândalos políticos, dinheiro escapando pelo ralo e a notícia da escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016.
Bem, vamos por partes:
Argentina: O governo de Cristina Kirchner continua com as pernas bambas. Tentaram até controlar a imprensa – não de forma discreta, como fazem nos outros países da região.
Bolívia: Evo Morales foi reeleito. Continuam plantando coca com subsídio do governo. Fato importante: ganharam da Argentina por 6 a 1.
Brasil: Internamente o Brasil repetiu um evento comum há 500 anos, a corrupção. Fora das fronteiras nos vimos envolvidos num golpe de estado hondurenho com ocupação, acredite, da embaixada brasileira – que dura até hoje. Também planejamos comprar aviões de combate – mas pelo visto nada prioritário, nenhuma compra até então.
Chile: O país sofreu um tanto com a gripe A – os números foram altos por lá. O Chile encerra o ano pensando no segundo turno das eleições presidenciais que, ao que parece, pode devolver o poder à direita – aquela do Pinochet.
Colômbia: Falam mal da Venezuela e Chávez, mas pensam em aceitar um terceiro mandato para o mesmo presidente. Continuam em um tipo de crise diplomática com os vizinhos Equador e Venezuela. Fecharam um acordo com os Estados Unidos – o que criou suspeita da parte de todos os demais vizinhos.
Equador: Apesar da crise com a Colômbia e do apoio ao estilo Chávez o país continua num “silêncio” internacional – pelo menos aqui. Ah, houve aquele caso dos brasileiros da Odebrecht que levaram a culpa por uma obra que, segundo eles, não funcionou como deveria.
Paraguai: Ah o Paraguai! O presidente deles, um ex-bispo, parece saído de um jogo de xadrez: come todo mundo. Já tem alguns filhos. E conseguiram uma ajudinha do Lula quanto ao preço praticado em Itaipu.
Peru: É nas águas peruanas que acontece o El Niño. Culpa do calor por aqui, das chuvas, da seca, etc. Um novo projeto de rodovia ligará o Brasil ao Pacífico através do Peru – ou não.
Uruguai: Um novo presidente assumiu e recusou a residência oficial, vai ficar no seu sítio – menos gasto público, bom exemplo. O país também conquistou uma vaga no Copa do Mundo.
Venezuela: Hum, por lá tudo que acontece de ruim “é culpa dos Estados Unidos”. Compraram umas armas de guerra, da Rússia.
E a Guiana, Suriname? Continuam “desconhecidos” para a maioria dos brasileiros – talvez por participarem do futebol caribenho. A Guiana Francesa... bom, é da França – que quer vender aviões para o Brasil – e vários brasileiros da Amazônia vão pra lá tentar a vida em euros. Rendeu até um Globo Repórter – ou isso foi em 2008? Melhor parar por aqui.
E no último ano da década metade do que foi descrito acima deverá se repetir no continente. No Brasil, até fevereiro vai se falar do carnaval e a partir de março o assunto será Copa do Mundo. Ah tem eleições! Como um jornal disse dia desses: Panetonem et circenses. Até lá!
Enquanto eu cuidava dos meninos na sala, a minha host me chamou da cozinha. A propósito, eu trabalho como au pair em Chicago.
— Camila?!
— Yes?
— Do you guys have some kind of Christmas songs in Brazil?
— Sure. Most of them are translations or versions of the American ones.
— Really? Which ones?
— Silent Night, Jingle Bells...
— Oh! Can you sing Jingle Bells for me?
— Oh, well... [putz grila, e agora? Bom, que se lasque, ela não sabe Português mesmo e eu não lembro a versão bonitinha] Jingle bells, jingle bells, acabou o papel. Não faz mal, não faz mal, limpa com jornal... [que ridícula que eu sou, quero morrer!]
— Hahaha nice. Can you teach Jake?
— Sure! [Foi ela quem pediu, né?!]
Tecla SAP:
— Camila?!
— Sim?
— Vocês têm algum tipo de música natalina no Brasil?
— Claro. A maioria delas são traduções ou versões das músicas americanas.
— Sério? Quais delas?
— Noite Feliz, Jingle Bells...
— Ah! Você poderia cantar Jingle Bells para mim?
— Bom, hãã... [putz grila, e agora? Bom, que se lasque, ela não sabe Português mesmo e eu não lembro a versão bonitinha] Jingle bells, jingle bells, acabou o papel. Não faz mal, não faz mal, limpa com jornal... [que ridícula que eu sou, quero morrer!]
— Hahaha legal. Você pode ensinar o Jake?
— Claro! [Foi ela quem pediu, né?!]
Desde o começo de novembro, são quatro horas que me separam da minha vida real, lá no Brasil.
Todo dia que acordo para tomar água ou ir ao banheiro, lá pelas três da madrugada, penso: já são sete da manhã lá. Todo mundo deve estar acordando e eu ainda posso dormir mais quatro horas. Oba. Mas a parte boa do fuso para por aí.
Pois depois que o dia de trabalho começa, não consigo fazer outra coisa a não ser fitar meu relógio e lamentar, pois enquanto aqui ainda é meio dia e eu ainda tenho seis horas de trabalho pela frente, está todo mundo em clima de fim de expediente lá no Brasil.
Também é difícil manter amigos online, quando eu acordo na hora que eles estão indo almoçar ou se quando estou livre do trabalho muitos deles já foram dormir. E é triste ter apenas uma opção de horário decente para ligar para a família. E é deprimente que às cinco da tarde já esteja noite gelada aqui, enquanto no Brasil tem gente tomando banho de sol às sete.
Mas ganhando disparado no quesito chatice em relação a fuso-horário, vem o fator ano novo. Vou ter que ligar às oito da noite para dar feliz ano novo para todos lá de casa e esperar mais quatro para que esse ano de 2009 vá embora de uma vez. Com o agravante de que aqui ninguém dá a mínima para as viradas de ano. Só eu e outras amigas brazucas que estão na mesma que eu.
Vindo de Santo André, na grande São Paulo, Valter Ziantoni formou-se engenheiro florestal e nunca parou de registrar o que enquadrava com seus olhos. Desenhou florestas com luz – como na cena capturada em Sarajevo, capital da Bósnia –, e a diversidade brasileira da Mata Atlântica e Floresta Amazônica. Suas imagens verdes também contrastam com um álbum preto e branco de algumas paragens do leste europeu e com ora amarelo, ora colorido do deserto e da savana africana.
Sarajevo – Bósnia e Herzegovina
Ziantoni também faz questão de mostrar a dura realidade da agressão humana aos animais, com algumas fotos sob o título “cry jungle”. Uma forma de alertar para a crueldade que por aí se espalha contra a vida.
Valter e eu estudamos juntos na especialização em Relações Internacionais, onde também conheci sua noiva e companheira de viagens: a também engenheira florestal Leticia Hermoso. Costumávamos participar do mesmo grupo nos trabalhos da pós-graduação e a bagagem cultural diversa rendia bons conteúdos e boas risadas. Valter se mostrou um personagem interessante, com um bom humor, que pode ser conhecido – em partes – na conversa que segue.
Anderson Paes: Sendo engenheiro florestal e ligado aos assuntos ambientais, acredita na fotografia como forma de preservação ambiental? Há o choque visual da realidade?
Valter Ziantoni: A fotografia é o reflexo plano do real, capturar toda a beleza e diversidade de uma floresta em uma foto seria impossível, e mais impossível ainda seria capturar a dor e impotência diante de crimes ambientais. De qualquer modo a foto exerce um papel mais forte que a palavra, neste caso, a foto choca, a foto traz o real e o mostra, a foto convence e cria percepções até então desconhecidas, sendo uma ferramenta de mobilização fortíssima, pelo simples fato de ser real.
A foto eterniza o momento e o eterno se torna admirável, entretanto no âmbito jornalístico a foto é o veículo que leva a cena aos olhos, ela é uma pequena janela para o todo, o real que está acontecendo à volta, real esse que às vezes é esquecido enquanto a foto é lembrada. Pessoalmente eu penso que a foto deve perturbar, em um sentido positivo, mas tem que apresentar alguma inquietude, a foto deve ser viva. Uma foto é antes de qualquer coisa uma idéia e ao mesmo tempo uma frase não terminada.
AP: Dos novos cenários que encontra, o que tenta “tirar” deles?
VZ: Na verdade eu não tiro, são eles que me dão... (risos). Fotografia é “olho” e técnica, em um novo cenário ou situação, você evoca todos os lugares parecidos em que já tenha estado, por técnica. Mas por “olho”, você busca algo de novo, de impacto, de beleza etérea, alguma coisa que está esperando para ser eternizada. As cores mostram a vida das coisas, o Preto e Branco mostra a alma. É uma questão de como ver o mundo. Creio que quando fotografo o que tento “tirar” de cada novo cenário é a forma como eu mesmo o vejo – o que meus olhos me mostram.
E lugares novos para mim são todos aqueles que eu já conhecia e que por algum motivo qualquer terminei por redescobri-los.
O próprio Valter e sua câmera. Foto: Simone Torrini
AP: Como foram os primeiros cliques, primeiras câmeras?
VZ: Desde muito pequeno comecei a apaixonar-me por câmeras, posso dizer que começou com a câmera antes da foto – meio “o ovo e a galinha”. Meu tio avô tinha uma câmera muito antiga, alemã, um Rodenstock Prontoklapp, de fole, que eu costumava brincar, depois continuei fotografando, até que consegui dinheiro suficiente para comprar minha primeira Reflex usada. Desde aí, nunca deixei de ter uma câmera ao alcance do braço.
AP: Esse caso de “amor” com a fotografia já rendeu algumas premiações, trabalhos?
VZ: O último concurso que ganhei foi no Congresso Florestal Mundial no mês de outubro deste ano, na Argentina; com uma foto que aconteceu quando estava trabalhando no norte do país, realizando o inventário de uma Floresta Nacional. Sempre que tenho a oportunidade tento participar de concursos. Além desse, já ganhei ou consegui menções em outros tantos lugares – Brasil, Itália, Espanha, etc. Tenho vários trabalhos publicados em revistas e participei de vários projetos fotográficos. Fui responsável fotográfico do livro “Itupava, o Caminho de Nossas Origens” no Paraná e fiz fotos para diversos catálogos e livros, também trabalhei como fotografo de corridas de aventura na Bulgária.
AP: E o destino? Aonde pretende chegar?
VZ: Eu costumava fazer planos e pensar onde chegaria, mas agora me dedico ao máximo ao que faço sem esperar recompensas. Apenas deixo que a vida trabalhe um pouco. Eu fotografo porque sou apaixonado por isso e realmente sei fazer, então, posso dizer que as fotos fazem o caminho, assim só vou seguindo a qualquer lugar, desde que seja em frente!
Dezembro está aí, e com ele alguns (incluindo este que vos fala) são acometidos de uma doença ainda não completamente desvendada pela ciência: a Dezembrofobia.
Fases da Dezembrofobia:
Estágio inicial – A ansiedade. Geralmente manifesta-se no dia 1º. A espera do último salário do ano é angustiante. Mas lá pelo dia 10 ele chega, geralmente acompanhado de um amiguinho conveniente, o 13º.
Segundo estágio – A dor. Lá está você, com 150% do seu salário em uma das mãos, e um bolo de contas na outra. Você tem dinheiro, um dinheiro considerável. Dava até pra fazer uma mala e sair da cidade, vivendo como um riponga por alguns meses. Mas você não vai fazer isso. Vai pagar as contas.
Terceiro estágio – A culpa. Contas pagas, alívio. Não. Por causa delas – as contas –, sua sobrinha ficará sem a boneca que arrota. Por causa delas você não poderá dar um Pinot Noir pro pessoal da coleta de lixo. Eles vão ter que se contentar com o garrafão de "coquetel de uva" (aquela cachaça misturada com Q-Suco) tradicional de todo ano.
Quarto estágio – A ira. Vem o amigo secreto da firma. E você sempre tira alguém de outro setor. Que você cumprimenta 2 vezes por ano (uma delas na festa de amigo secreto, a outra por volta de maio, no corredor). Pra agradar, você dá aquele presente legal pro seu amigão, gastando algo que não gastaria para comprar um presente para sua mãe. E ganha, em contra-partida, um vale-cd da loja localizada no ponto mais distante possível em relação a sua casa.
Quinto estágio – A dúvida. Sua mulher diz que quer um presente. Mas não diz qual. Quer que você adivinhe o presente. Que olhe para o presente e pense: "Nossa, como esse presente me faz lembrar o meu amor... Que momento sublime iremos ter juntos com esse presente. Como ver ela ganhando esse presente me faz feliz". Num shopping center lotado, dia 23. E sim, você vai errar na escolha. Mas com alguma sorte, essa será a última briga do ano.
Sexto estágio – A revolta. Aparecem os itens mágicos de Natal. Um exército de Chesters, Perus e Tenders invade as prateleiras frias do supermercado. E, de acordo com sua mulher, todos são indispensáveis na ceia de Natal, mesmo que o tal do Tender fique rolando na geladeira por uns 4 dias, e acabe sendo cortado em cubinhos e colocado no "Arroz de forno" do jantar do dia 31.
Estágio final – A aceitação. É dia 26: Todos os sobrinhos já ganharam presentes (e detestaram as bonecas que não arrotam), o cara da coleta de lixo olha você com cara feia e "esquece" de pegar seu lixo por duas semanas, o vale-cd sobre a mesinha da sala, sua mulher ainda não conversa com você, você come o último pão do saquinho, recheado com um pedaço gelado de Tender (e pão agora só ano que vem, Papai Noel levou o dinheiro do mês). Dezembro está oficialmente acabando. Contagem regressiva. Amanhã eu vou pra praia, vou tirar a camiseta, passar o protetor fator 60, botar o pezinho n'água, fingir que estou lendo um livro pra poder olhar a mulherada sem levar bronca da patroa...
Ligam do escritório: Balanço anual na mesa do chefe pro dia 31. À tarde.
acho que cresci. Mas mesmo assim tenho vontade de conversar com o Senhor. Essa, acredito, é minha primeira carta, conscientemente escrita, sabendo que não será para um concurso de cartas para o Papai Noel. Então peço que leia até o final porque em cada linha tem um pedacinho de mim e da minha história, além do(s) meu(s) pedido(s), é claro. Como fui uma boa moça, passei de ano na faculdade e respeitei meus coleguinhas, resolvi escrever.
Eu não lembro de acreditar no Sr., mas acreditava cegamente no Coelhinho da Páscoa (ele deixou um ovo de chocolate, daqueles com brinquedo, junto com o meu coelho de pelúcia rosa, como não acreditar?). Acho que minha mãe sempre me explicou que o verdadeiro sentido do Natal era o nascimento de Jesus e que o bom velhinho era bem novo, não tinha cabelos brancos e trabalhava como eletricista, numa indústria de cerâmica. Era casado com uma professora de primário de escola pública e eles tinham uma filha: eu.
Mas mesmo assim gostaria de conversar. Lembro de um Natal em que cada parente me deu alguma coisa da Barbie. Eu não ganhava sempre o que eu queria, mas sempre ficava muito feliz com o que ganhava. Parecia um sonho: camping, cristaleira, guarda roupas, trailer, banheiro/academia, piscina. Pra mim eu tinha tudo da Barbie. Eu estava tão feliz que a memória disso está viva até hoje.
Fui crescendo, aprendi que era feio não dizer obrigada ao ganhar um presente. Inconscientemente, criei o hábito de sempre dizer, com um sorriso (sincero, ok?) de orelha a orelha: “Obrigada! Eu estava precisando...” Eu falei isso tantas vezes durante meus 19 anos de vida, que quando minha madrinha me dá alguma coisa ela pergunta se eu estava precisando.
Minha infância
Nessa vida já ganhei Barbie noiva, que tinha um cabelo que não dava pra pentear por causa do glitter; Barbie ginasta, que não usava os sapatinhos de salto porque os pés eram chatos pra entrar no tênis; Barbie grávida (que tinha o cabelo verde); um Ken, apenas um, loiro de olhos azuis, por qual todas as anteriores eram apaixonadas.
A história, dá pra imaginar. Ken rejeita Barbie ginasta, porque ela não usa salto (acho que por isso não vivo sem meus saltos), para se casar com... Barbie noiva! E no casamento aparece a... Barbie grávida! Sim. Eu assistia novelas mexicanas. Mas esses detalhes são só para que o Sr. faça alguns ajustes nos detalhes desse tipo de brinquedo. Influenciou muito na minha vida e personalidade e imagino que na de milhões de crianças pelo mundo também.
Nunca tive uma Barbie morena como eu, mas sei que hoje elas já existem. Minha última foi a Top Model (do vestido curto que ficava comprido) e eu nunca tive jeito pra ser modelo. Sabe aquelas coisas de projeção que estudei em Psicologia da comunicação? Acho que foi mais ou menos isso.
Aproveito para reclamar sobre sua falta de comunicação com Deus. Isso mesmo. No ano em que ganhei uma piscina de 3 mil litros no Natal, “fico moçinha” um dia depois. Caramba! Não deu pra aproveitar nada até o fim daquela semana, incluindo meu aniversário, no dia 29. Podiam, ao menos, ter mandado algo seco. Porém, no ano passado, acertaram em cheio, analisaram meu momento e me deram uma filmadora, meu sonho de criança, que meu Papai Noel, hoje já grisalho, conseguiu trazer em suaves prestações.
Meu pedido
Esse ano eu podia pedir um namorado, uma bateria mais durável pra filmadora, uns quilos a menos, uma ideia de tema para os meus projetos de rádio, tv e jornal e pra monografia, além, é claro de paz para toda a humanidade e a saciedade da fome dos necessitados. Tudo muito nobre. Então, achei que podia juntar os pedidos “namorado” e “quilos a menos” em um palpável aparelho de ginástica 3 em 1, que ta passando aí na TV, com um ex jogador de vôlei de garoto propaganda.
Que fique bem esclarecido que não quero ficar loira que nem a Barbie, amo ser morena, mas uma enxugada ia bem. Ah, e esqueci de dizer que só não pedi livros de presente porque peguei 10 na biblioteca da faculdade, comprei dois (sim, saí do castigo de não poder comprar livros, no qual entrei depois de gastar muito com este item da cesta básica) e acho que vou ganhar aquele do William Bonner – de um parente aí – de Natal e aniversário. Dois em um. Uma beleza, quando vale a pena.
Chamei minha Mamãe Noel pra ver o preço do aparelho de ginástica e achamos que o Papai Noel não vai poder trazer esse, nem em suaves prestações. Então, acho que terei meu primeiro Natal como adulta. Pedi, com toda a sinceridade do meu coração, que simplesmente assumissem uma determinada conta em conjunto com a minha mãe, que fiz há pouco tempo.
Assim, não precisam se preocupar com um presente especial (apesar de eu já saber que minha mãe comprou “duas coisinhas” como diz ela) e eu tiro o peso da consciência de não poder dividir o peso das parcelas, pelo meu atual desemprego. Coisa de pobre? Pode até ser, mas nada do que eu disse ali em cima, que quero, eles podem me dar (especialmente o namorado).
Minha mãe veio com aquela história que não vai cobrar de mim, e blá, blá, blá. Meu pai já trouxe a opção de um aparelho de ginástica mais simples, mais barato e eu disse que tudo bem. Afinal, está tudo bem. Não tem nada material que vá encher meu coração de alegria, como quando vejo minha família reunida e feliz.
Se o Sr. pode me dar presentes imateriais, então eu peço saúde para ela. Que ninguém precise ser hospitalizado no próximo ano e não sofra nenhum acidente. Que diminua o número de remédios da mamãe e o número do colesterol do papai. Que vovó, mãe de papai, continue forte e que o vovô, que já foi pro céu há 45 anos continue cuidando de nós. E também para os avós, pai e mãe de mamãe, recebam essa saúde, porque eles precisam muito.
Se essa foi minha primeira carta, agora o Sr. me conhece. Fui uma criança feliz sem o seu mito e cresci com o sentido religioso do feriado mais lucrativo do ano. Mas se o Sr. estiver lendo essa cartinha (escolhi a Internet porque todo mundo usa e o Sr. também, né?) peço que desculpe minha descrença e que me atenda em ao menos um dos pedidos.
Fica a seu critério.
Com carinho,
Emanuelle Querino
P.S.: Também vou ficar feliz se o Sr. mandar o namorado...
O velho país do futuro, da obra do austríaco Stefan Zweig, parece estar deslanchando naquele mesmo estilo do livro: ao seu tempo. Apesar de alguns contra-tempos enfrentados na política externa – como o caso de Honduras e Haiti –, quando o assunto é o próprio Brasil num cenário global, um dos maiores mercados do mundo, a história muda. Jornais de vários países contam os feitos brasileiros e apostam suas fichas na "esperança em verde-amarelo".
O espanhol El País mostra frequentemente casos brasileiros, o papel do país diante de outros atores internacionais, a economia que tem se segurado bem e, claro, contos da floresta – e não só para inglês (ou espanhol) ver. O nome do Brasil, tem sido uma forte marca no exterior. Nesse “fim” de crise, o país tem aparecido também no britânico The Economist e no francês Le Monde.
E foi no mesmo Le Monde que o atual governo se viu prestigiado e a oposição contrariada. Naquela historia da “marolinha” sobre a tsunami da crise, o jornal francês concordou com Lula. Na mesma hora surgiram comentários de que o cliente sempre tem razão – sobre a compra brasileira de caças de combate do país de Napoleão.
Mas o Brasil está tão bem assim? Para o governo está ainda melhor. Lula fecha o ano com mais de 80% de aprovação popular e com uma arma contra a oposição. Tudo pronto para a corrida eleitoral que também estará nas capas dos jornais do mundo todo.
E para o povo, como as coisas estão? Disso quase nada se lê no noticiário internacional. Mas se quem ama o feio bonito lhe parece, o simpático e adorável Brasil está perfeito aos olhos do mundo – pelo menos nos jornais.
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bate recordes de aprovação (83%), a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata governista à sucessão presidencial, é a mais rejeitada entre os eleitores. Na pesquisa divulgada pelo CNI/Ibope, 42% dos entrevistados disseram que não votariam em Dilma de “jeito nenhum”.
Mesmo assim, o PT será obrigado a jogar todas as suas fichas na única carta que lhes restou nas mãos após os escândalos do “mensalão” que derrubaram os Josés Dirceu e Genuíno ainda no primeiro mandato de Lula: a “dama de copas Dilma Rousseff”.
Por toda uma geração se ouviu falar pejorativamente que “petista votaria até em um cachorro se este fosse candidato pelo PT”. Agora, passados um par de anos e dois mandatos do pernambucano, a metáfora bem pode ser invertida:
— Será que Lula em outro partido levaria seus votos do PT?
Apesar do “filho do Brasil” intitular Dilma a “mãe do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)” e não desgrudar mais da economista mineira por onde quer que ande, Dilma não cai no gosto do povo.
O brasileiro, de modo geral, mostra que gosta de se ver no espelho. O tipo intelectual não lhe cai no agrado. Quer alguém de carne e osso. Alguém que goste de futebol, de música popular e, porque não, de uma cachacinha “pra abrir o apetite”.
Dilma é o oposto da figura de Lula em muitos aspectos. É dura, tem um discurso aguerrido, assim como o de Lula nos áureos tempos de ABC. Mas Dilma nasceu em berço de ouro, teve educação privilegiada e lutou contra a ditadura por um mundo mais justo, enquanto que os oprimidos pelo qual lutavam Dilma e seus companheiros, muitas vezes não entendiam aquela luta e os desprezavam, os deduravam e os temiam.
Apegando-se ainda a pesquisa, vale ressaltar que apenas 32% dos entrevistados disseram conhecer Dilma. Coincidentemente, os que alegam votos nulos, brancos e os que não responderam, também somam 32%. José Serra, pré-candidato tucano tem 38% e Dilma segue empatada com Ciro Gomes em segundo lugar com 17%.
A campanha eleitoral será capaz de reverter este quadro positivamente para o PT e para Dilma?
Vejamos: enquanto no Brasil pululam manchetes negativas nos principais jornais, no exterior o governo de Lula é citado como exemplo, tanto pelo crescimento do país, como pela diminuição da desigualdade social. Ou o brasileiro anda lendo mais jornais estrangeiros ou não anda lendo nada.
Levando em conta a segunda opção, o departamento de propaganda do PT terá um belo trabalho para transferir ao menos parte dos votos de Lula para Dilma.
Talvez a tarefa de Dilma nem seja tão difícil. Se 83% aprovam o governo Lula, é mais fácil elogiar do que atacar. Dilma também tem a seu favor o fato de ser mulher e a novidade de uma mulher presidente do Brasil pode ser o trunfo da petista.
Contra ela, por outro lado, certamente os tucanos vão certamente chama-la de terrorista (como assim fizeram e fazem com quem lutou contra os militares), pela sua participação em organizações de resistência ao golpe de 64. Também lembrarão do caso Varig e do Dossiê da Casa Civil. Contra Dilma também pesa o fato de nunca ter sido eleita à cargo algum e sua participação política se resumir a ministérios e secretarias.
Ah, e já que o brasileiro parece gostar tanto disso: a Dilma fala em inglês?
A pesquisa ouviu 2.002 pessoas entre os dias 26 e 30 de novembro em 143 municípios brasileiros. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com grau de confiança de 95%.
Outubro, novembro e dezembro. Abóbora, peru e Papai Noel. Exatamente nessa ordem.
E é melhor não falar em outra coisa em cada período, pois algo pode dar muito errado. Digo isso com a experiência de quem passou menos de três meses aqui e a perspicácia de qualquer asno. Pois não é preciso ser Eienstein para notar que os americanos levam mesmo a sério os seus feriados.
Quando cheguei aqui, no finalzinho de setembro, já pude notar o excesso de adornos macabros nas casas. Meu host me explicou que já eram para o Halloween, festa que seria comemorada apenas um mês a diante. Nesse período, as lojas se abarrotaram de fantasias, guloseimas em versão mini (para os doces ou travessuras) estoques de maquiagem a la Família Adams e sangue feito de glucose. No dia 31 de outubro, ao se andar pelas ruas, era quase impossivel se deparar com alguém que não estivesse fantasiado de alguma coisa. E pasmem, os americanos podem ser muito criativos.
Já na primeira semana de novembro, assustei-me ao ver que os adornos macabros tinham desaparecido, dando lugar a perus infláveis (que não deixam de ser macabros), índios e peregrinos. Nas lojas, perus de tamanhos naturalmente inconcebíveis e adornos campestres passaram a ser expostos com destaque, juntamente aos ingredientes da torta de abóbora e da caçarola de vagens, que são duas das comidas típicas do feriado. Assim foi até o dia 25, quando as famílias se reuniram para comemorar a festa em agradecimento às coisas boas que aconteceram durante o ano e para a janta, que é servida às 2h da tarde. No dia de Thanksgiving decidi que os americanos podem ser também muito óbvios, pois na casa das outras au pairs, foram servidos exatamente os mesmos pratos que na minha.
Interessante que nos dias seguintes os adornos típicos do novembro não tinham sumido. Pois era a Black Friday (Sexta-Feira Negra), dia em que todas as grandes lojas abrem de madrugada oferencendo promoções absurdas. E ninguém tem tempo de desenfeitar a casa quando um computador que custava 700 dólares está sendo vendido a 300. Mas tudo voltou ao normal a partir de terça-feira, dia primeiro. Hoje, quase todo mundo já colocou luzinhas, guirlandas e trenós na frente de casa (ou dos carros), já tirou dos armários os agasalhos típicos de natal e começou a visitar lojas com frequência a fim de consumir presentes para seus entes e amigos queridos.
E nessa brincadeira, eu vou entrando na onda. Comendo comidas pra lá de industrializadas e gastando minhas economias em fantasias que não usarei mais ou em presentes que serão colocados de canto no dia seguinte. Fiquei curiosa para saber qual será o feriado-febre de Janeiro. Mas minha host-mãe garantiu que depois do natal, aqui na América só se vive a Cabin Fever (Febre da Cabana), termo que eles usam para designar o desespero que dá nas pessoas trancafiadas em casa por causa do inverno.
Nada mais justo, pois qualquer trilogia que se preze é composta apenas de três edições, né não?
Na última sexta (4) a comitiva brasileira que está na Europa com o presidente Lula conheceu o trem de alta velocidade alemão, o ICE (InterCity Express), produzido pela Siemens. A ideia é trazer este modelo de transporte para o Brasil – talvez próprio modelo da Siemens, que é uma das concorrentes para a nova empreitada brasileira. Inicialmente o projeto pretende ligar as cidades de Campinas (SP), São Paulo e Rio de Janeiro, e futuramente expandir a rede em ramificações que alcancem Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, etc.
Mas para vencer a licitação os alemães terão que aceitar transferir sua tecnologia para mãos e cabeças brasileiras. A mesma situação da compra dos caças de combate – aquela em que França, Estados Unidos e Suécia competem para agradar Brasília. Tecnologia que, logicamente, estará incluída no preço final do produto – tanto do trem, quanto dos aviões.
Além do comércio com outros países, esteve na pauta dos jornais o recente acordo Brasil/Ucrânia para lançamento de foguetes daquele país a partir da base de Alcântara, no Maranhão. Assunto em que o Brasil tem muito o que aprender e o dinheiro é curto. Agora o BNDES vai financiar o projeto “quase pronto” da Ucrânia. Teremos acesso à foguetes que, teoricamente, voam mais que os nossos.
E o custo de se comprar ou investir em tecnologias prontas, compensa? A considerar o curto prazo... compramos o primeiro e aprendemos a montar o segundo, terceiro, quarto, etc; e ao pensar que investimentos em pesquisa e produção exigem planejamento e dinheiro por um certo tempo – o que a cada eleição é cortado para nova análise situação/oposição – podemos dizer que não estamos preparados politicamente para desenvolver tecnologia avançada e que comprá-las ainda é uma boa alternativa.
O que falei até aqui, são apenas exemplos de situações recentes onde recorremos às tecnologias adquiridas ou compartilhadas – não estou a sugerir que se escolha ou produza uma alternativa nacional, mas que a partir de necessidades como as atuais se pense em estimular a produção científica por aqui. Aliás, se existem boas coisas no mundo temos mais é que conhecê-las e se resolve nossos problemas, por que não comprá-las?
O ideal, penso eu, seria ver certos setores públicos do Brasil, como empresas e centros de pesquisa e educação, livres das amarras político-partidárias. Que se invista em educação e num modelo de formação de livres pensadores – para que no futuro possamos escolher novos caminhos, políticas públicas, parcerias com a iniciativa privada e um novo desenvolvimento nas terras brasileiras – no mesmo longo prazo do desenvolvimento social.
E, é claro, podemos lembrar dos bons exemplos nacionais, como a tecnologia desenvolvida pela Petrobras, Embraer, Embrapa, as pesquisas da USP, Unicamp e outros centros de áreas diversas – conhecimento que também exportamos.
Porém, depender de financiamento para se desenvolver é um caminho difícil; depender de interesses políticos – ora eleitoreiros – é outro, ainda mais complicado e bastante sinuoso. E apesar de termos capacidade intelectual – tanto que muitos de nossos cientistas são “levados” para outros países –, ainda estamos no segundo caminho – em obras.
--- O Trenzinho Caipira Heitor Villa-Lobos
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra, vai pela serra, vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar, no ar… (Ferreira Gullar)
O ano termina em 27 dias. Um ano que trouxe à tona datas marcantes em números redondos – uma interessante coincidência da História no fim de cada década: eventos que mudaram o mundo. E 2009 certamente já entrou para a lista de fatos marcantes com eventos como a grave crise econômica, gripe suína, morte de Michael Jackson, a descoberta de água na Lua e a posse de Obama.
Neste mesmo ano, prestes a terminar, lembraram dos 40 anos da chegada do homem à Lua e do disco Abbey Road, dos Beatles; 50 anos de carreira de Roberto Carlos, 20 da morte de Raul Seixas; o centenário dos clubes de futebol Internacional (RS) e Coritiba (PR); 110 do Vitória (BA), do Milan (ITA) e do Barcelona (ESP); 20 do São Caetano (SP) – precisamente neste dia 4 de dezembro.
São 50 anos também do início da Guerra do Vietnã; outros 30 da criação do Estado do Mato Grosso do Sul; 40 da criação dos Correios; 40 do Jornal Nacional (Rede Globo); e 40 do primeiro e-mail. São 120 anos da Proclamação da República no Brasil; 60 anos da criação da OTAN; 70 anos do primeiro poço de petróleo no Brasil; 70 do fim da Guerra Civil Espanhola e 70 do início da Segunda Guerra Mundial; e 80 anos do nascimento de Martin Luther King; 90 anos da primeira transmissão de rádio no Brasil; 120 anos do nascimento de Adolf Hitler e também de Charles Chaplin.
Há 120 anos também era inaugurada a torre Eiffel e fundada a cidade de Campo Grande (MS). Há 130 nascia Albert Einstein e Carlos Chagas; e há 140: Gandhi. Há 160 anos nascia Paul Cézanne. Outros 200 anos do nascimento de Abraham Lincoln e Charles Darwin. São 220 anos da Revolução Francesa e das primeiras eleições nacionais dos Estados Unidos; 710 da criação do Império Otomano – que durou até 1923.
E há 80 anos, também passávamos por uma grande crise econômica que deu dor de cabeça em muita gente – ainda bem que há 110 anos inventaram a aspirina. E tantas coisas mais...
Heroes explodiu na sua estreia, muitas pessoas repetiram mundo afora o bordão “Save the Cheerleader Save the World” e todos esperavam muito, mas muito mais desta série. A produção foi a mais aguardada no ano de 2007. Heroes é uma aventura que gira em torno de pessoas comuns de diferentes partes do mundo que se descobrem portadores de habilidades extraordinárias.
Os poderes se manifestam nos “heróis” depois de um eclipse total. Um professor de genética, que investiga o desaparecimento do pai, descobre uma teoria secreta que lhe revela a existência de pessoas com poderes especiais vivendo entre nós. Como em toda produção, o bem e o mal disputam espaço, um planeja dominar o mundo enquanto o outro tenta a todo custo salvá-lo.
Sylar é o principal vilão, perverso e com sangue frio, mata outros portadores de habilidades para se apossar dos poderes. Contra ele existe uma turma de mocinhos. Hiro é um simples funcionário de escritório no Japão, até que descobriu que pode controlar o tempo. Parker exerce a carreira de policial, mas passa por um momento turbulento em sua vida e é então que começa a ouvir o pensamento das pessoas ao seu redor. Peter e Nathan são irmãos, o último é um congressista que tem a habilidade de voar, já Peter absorve os poderes daqueles que encontra, sem tirá-los de seus donos, é capaz de voar, ouvir pensamentos, controlar o tempo, etc. Claire tem a capacidade de se regenerar, Micah é um garoto que manipula tecnologia e a lista continua. Esses personagens estão um passo à frente na evolução da humanidade e seus destinos já foram traçados. O objetivo da série é desvendar os mistérios e segredos dos heróis a cada episódio, mas a audiência atual da quarta temporada indica que não tiveram sucesso.
Recentemente Heroes entrou para a lista das piores séries da década. Não bastasse entrar na lista, ficou com o primeiro lugar. Séries que geram muitas expectativas tendem a decepcionar. Confesso que sou uma das decepcionadas, parei na terceira temporada e não consigo assistir mais, sempre coloco outra série na frente.
São inúmeros personagens, que geram inúmeras tramas e mistérios. Essa soma tem como resultado a confusão. As histórias já não fazem sentido e os pobres personagens estão perdidos. Uma produção que estreou para mais de 15 milhões de pessoas nos Estados Unidos, hoje não é vista por seis milhões de telespectadores. Tamanha baixa na audiência provocou burburinhos de cancelamento. Boatos dizem que o canal que veicula a atração já conversou com os produtores da série, para que eles preparem a finalização da série para maio de 2010.
Durante muitos anos (mais precisamente, desde 1998), convivia com uma certeza: A morte é inevitável.
Mas todos os conceitos humanos são passíveis de dúvida e refutação, e a morte é um deles. É possível enganar a morte, e prolongar sua vida por quanto tempo sua habilidade permitir.
Me refiro, claro, ao jogo SkiFree. O popular joguinho no qual você, no papel de um bravo esquiador, deve percorrer um percurso recheado de obstáculos, como montinhos de neve, árvores, cachorros e outros esquiadores de fim de semana.
Como é do conhecimento de todos, após a linha de chegada, percorrendo-se alguns metros, o nosso nobre cavaleiro encontra-se com aquilo que nos parece inevitável: O monstro cinza com bracinhos finos e cara de mau. Ele se aproxima, voraz, sedento pela carne de nosso heroi, enquanto olhamos para a cena com uma sensação de impotência, prevendo o final triste da história.
A morte, surda, caminha ao meu lado...
Até que hoje recebi a visita do Anjo da Anunciação (XKCD), que do alto de sua sabedoria, bradou-me: "Aperte o F".
Imediatamente baixei o jogo, com o objetivo de testar aquela receita da imortalidade. E como preconizado, o valente esquiador tornou-se uma verdadeira flecha, singrando as neves, rumo ao infinito. Pelo menos durante mais alguns segundos, quando uma pedra frustrou aquela tentativa de libertação dos grilhões da inefável morte. Talvez a morte realmente seja inevitável, mas por alguns segundos ela foi enganada, posta em xeque, por aquele bravo homem de roupas coloridas.
Quem, nesta reta final de Campeonato Brasileiro, que não seja são-paulino, e está torcendo para o São Paulo? Aposto minhas cuecas que são poucos, quiçá, não tenha ninguém.
Certamente apenas os vascaínos, botafoguenses e tricolores estão secando o Flamengo nesta batalha palmo a palmo contra o São Paulo.
É o São Paulo, com toda a sua estrutura européia, contra o Flamengo tipicamente brasileiro, carioca suburbano, com tudo o que há de bom e de ruim no Brasil ao mesmo tempo.
Dói ver a grama do vizinho mais verde do que a nossa. Da mesma forma, dói ver o São Paulo imbatível nos pontos corridos. Aí dissemos que esta forma de disputa está perdendo a graça, quando na realidade estamos apenas destilando inveja ao time do Morumbi. Se em todo o ano tivéssemos um campeão diferente, a conversa seria outra.
Esta má vontade que temos em relação ao São Paulo, talvez confirme a nossa síndrome de vira-latas. Enquanto os são-paulinos têm um grande estádio, planejamento, contas em dia, um centro médico de referência internacional, o Flamengo joga em um estádio do governo, pouco olha para sua casa e vem de um patrocínio envolto em mistério, que perdurou por décadas, com uma estatal.
Querer o Flamengo campeão é seguir a onda vintage. Torcer pelo Flamengo em detrimento do São Paulo, é olhar para trás. É patinar no tempo em que o nosso futebol era gerido com o coronelismo apaixonado dos cartolas.
Por outro lado, se um torcedor de outro clube admitir simpatia pelo São Paulo, vai ser achincalhado em praça pública. De visionário vai passar por segregador social e elitista.
Não sou nem flamenguista, nem são-paulino, mas, se uma mea culpa ainda cabe neste texto, admito a tendência retrô e a torcida pelo Flamengo, que mais do que nunca tem hoje quase o tamanho do Brasil.
Quem conhece as tiras de Calvin e Haroldo (Calvin & Hobbes), de Tim Watterson, sabe que Calvin é um menino de 6 anos de idade dotado de uma imaginação ultra fértil, que odeia legumes e lição de casa e que divide seus questionamentos filosóficos com o melhor amigo: um sábio tigre de pelúcia chamado Haroldo.
E quem conhece Calvin e Haroldo deve achar que eu tenho problemas mentais por ver no menino mais velho que cuido um pouquinho do personagem. Ele só tem só dois anos de idade. Não fala nada além de algumas sílabas como 'dó' (dog) quando vê cachorros e um persistente 'ogdan' que ele usa para tudo e que ninguém descobriu o que significa. Ele adora frutas e legumes, ainda não estuda e a maior preocupação é não ir trocar a fralda sem levar o balão de gás hélio a tiracolo. Ele nem sequer tem um tigre de pelúcia... a única coisa em comum entre os dois seja a cor do cabelo.
Mas eu não consigo deixar de comparar. Ainda mais depois do último domingo, na hora de ele dormir.
A rotina foi quase a mesma de sempre. O menino deu boa noite para o balão, para o irmão e a cachorra antes de subir para o banho. Gritou como se tivesse entrado em contato com ácido sulfúrico quando molhei o seu cabelo. Se debateu como sempre para vestir o pijama. Cantou o mesmo lalalá fora de ritmo (sua canção de ninar) abraçado ao meu pescoço. Mas quando dei o beijo de boa noite e fui encostando a porta do quarto, voltei meus olhos para o berço e me deparei com o menino pegando o urso (que é um cobertor peludo parecido com aqueles tapetes de urso dos desenhos animados, mas fofo e não assustador), trazendo para perto de si e começado um diálogo indecifrável, quase alienígena, com entonações de surpresa, carinho, curiosidade e até de bronca, como em qualquer conversa adulta.
Talvez ele e o urso estejam tramando alguma coisa para dominar o mundo. Ou, quem sabe, desenvolvendo uma nova teoria sobre o sentido da vida. Pode ser que estejam falando mal de mim. Pensando melhor, é possível que eu esteja apenas ounvindo choro de criança por horas consecutivas demais e falando bobagem. Mas oras... se ele pode dialogar qualquer coisa que seja com um objeto inanimado, eu também me acho no direito de compará-lo ao meu personagem de quadrinhos favorito.
Logo nas primeiras semanas aqui levei um susto ao recolocar um jeans. Estava apertando em todos os lugares possíveis. Maldito Subway, Mc Donald's, Pizza Hut, Dunkin Donnuts ou seja lá qual for a franquia que vende comida barata e deliciosamente calórica. Não podia ser possível que um lanchinho no sábado, após tanta andança pelo centro de Chicago e pelo Millenium Park (programação repetida durante uns 4 sábados consecutivos), fizesse tanto estrago em tão pouco tempo.
Comentei com tristeza o fato para uma menina que mora aqui há mais tempo. Ela, por sabedoria ou dó, disse que era pra eu ficar tranquila, pois a calça poderia ter encolhido na secadora de roupas, já que com as dela sempre acontecia isso. Para quem não sabe, aqui nos Estados Unidos não existe varal, roupa secando no gramado. Não que eu saiba. Talvez nos bairros pobres. Ou só nos filmes campestres. Mas ate onde eu sei, na vida real aqui as roupas sao jogadas na maquina todas misturadas e depois jogadas na secadora. E ponto. A propósito, passar roupa também não precisa.
Desculpa de gorda preguiçosa ou não, coincidiu de aquela calça realmente ser a única que eu já tinha lavado e secado no American Way. Ufa! Espalhei a notícia para todas au pairs que eu conheço aqui e comecei a evitar de secar as roupas mais justas na máquina, dando um jeito de estendê-las pelo quarto em algum lugar escondido, para não ficar parecendo um cortiço indoor, e sempre culpando a secadora pelos reajustes que eu vinha sentindo nas pecas mais largas.
Hoje fiz a minha laundry (maneira mais legal de dizer que lavei a roupa suja) decidida que essa história de encolher roupa seria apenas lenda e que eu teria que me conformar por ter ganhado umas libras. Joguei todas as roupas direto na secadora. Peguei todas as roupas na máquina e separei o pijama que iria colocar após tomar banho. Quando vesti meu pijama de pinguim de todo santo dia, senti uma vertigem. Ele estava curto nas pernas, justo no corpo, curto na barriga e as mangas, que eram longas, estavam quase nos cotovelos. Me senti a Alice depois do pedaço errado de cogumelo.
Quero só ver amanhã quando for colocar as roupas que uso para trabalhar. Calça de agasalho que virou capri, cacharrel-bolero, moletom-babylook... preciso começar a reforçar o controle nas calorias e arranjar umas pílulas de nanicolina se não quiser ficar magra de bolso. Não quero gastar meu salário com roupas de trabalho extra-grandes que terei que doar quando eu voltar para o Brasil. Preciso poupar dólares para encher minhas malas com um estoque bem grande de importados que tentarei revender pelo dobro do preço para meus amigos consumistas.
De um lado uma aspirante a modelo com corpo perfeito, cabelos louros e um namorado maravilhoso. De outro, uma solitária advogada, com manequim GG e uma vida dedicada ao trabalho. O que elas têm em comum? Morreram no mesmo dia e na mesma hora. Em Drop Dead Diva – série que estreia no canal de TV por assinatura Sony hoje (16 de novembro) às 22h – Deb, a modelo, morre após uma colisão com um caminhão. Já Jane teve a má sorte de ficar frente a frente com um homem armado e levar um tiro.
Lá em cima, Deb é recebida por seu Anjo da Guarda, Fred. O anjo é quem decide se a jovem de 24 anos vai para o céu ou para o inferno, decisão baseada nos feitos de Deb enquanto vivia na Terra. Os dois não se deram bem e no meio de uma discussão sobre Deb ser fútil, ela aperta o botão no computador destinado a devolver as almas à Terra. O que ela não esperava era que as almas voltassem para o primeiro corpo vago que encontrassem e, infelizmente para ela ou não, sua alma foi para o corpo de Jane Bingum, a advogada vivida pela atriz Brooke Elliott, muito talentosa e carismática.
Após o estresse inicial e a histeria de estar gorda, a nova Jane procura pela melhor amiga de Deb, Stacy – também magérrima e modelo. Jane/Deb consegue convencer a amiga da louca história que viveu e garante ali uma ajuda para seguir como Jane. O outro auxílio vem lá de cima, Fred foi rebaixado e deve acompanhar todos os passos de sua protegida para que ela não faça ainda mais besteiras.
O corpo de Jane agora tem as lembranças de Deb, mas continua com a inteligência de Jane, com um QI acima da média. Para dificultar um pouco a nova vida de Deb, seu namorado, o viúvo Grayson começa a trabalhar na empresa que ela, como Jane, também trabalha. E esse contato diário não será nada fácil. Agora infeliz com o corpo, Deb não consegue arrumar coragem para revelar toda a verdade ao namorado. Este por sua vez, começa a receber flertes da nova colega de trabalho, Kim.
Por incrível que pareça, encontrei semelhança de Drop Dead Diva com House. O fabuloso médico resolve quebra-cabeças envolvendo a doença dos pacientes, muitas vezes “a luz” para desvendar o caso vem em conversas com os colegas, principalmente Wilson. E assim ocorre com Jane, mas nos tribunais. Nos mais diferentes casos, Jane precisa de bons argumentos para vencer suas causas e nos momentos difíceis, que parecem sem solução, “a luz” aparece em conversas também com seus colegas e sua amiga Stacy.
Um outro ponto forte na produção é o uso de uma protagonista fora dos padrões estéticos de beleza. E até aqui, a série mostra que está no caminho certo, a temporada 2010 já está garantida. E esta primeira temporada conta com 13 episódios. Assisti nove deles e são divertidíssimos, ao mesmo tempo em que nos faz pensar em certos paradigmas, como o de que para ter sucesso, as estrelas precisam vestir tamanho P.
O fotojornalismo é capaz de nos colocar em situações difíceis muitas vezes, dramas que fotógrafos como Kevin Carter e Tiago Brandão já viveram e foram duramente criticados por fazerem fotos de situações complicadas em vez de oferecer ajuda.
É nessas horas que nos surge uma grande dúvida,fotografar ou ajudar? A reposta pode parecer simples, mas existem vários fatores envolvidos. No filme Fomos Heróis (We Were Soldiers, 2002) aonde o fotógrafo Joe Gallowar (Barry Pepper) concluiu que a melhor maneira de ajudar seus colegas de combate era registrando o seu sofrimento e perdas para que seu sacrifício não fosse esquecido. Essa é uma vertente do trabalho jornalístico fotográfico.
Uma situação citada pelo colunista do site Meio Bit (gilsonlorenti) me chamou atenção, conta ele que presenciou o atropelamento de uma criança. O garoto não sobreviveu ao acidente, tinha fugido dos pais e atravessado a avenida. Ele estava com a câmera na mão.
Qualquer imagem daquele acidente seria prato cheio aos jornais da região. Ele se perguntou qual seria o mérito daquela foto? Qual seria a compensação social daquela imagem para família da criança? Nenhuma! Seria apenas uma exploração visual para saciar a curiosidade mórbida do publico. Ele preferiu não utilizar aquela situação dolorosa para conseguir uma imagem impactante. Muitos criticaram por sua falta de senso de oportunidade, mas eu vejo como sinal de respeito.
No vídeo One Hundredth of a Second que está percorrendo blogs sobre fotografia e grupos de discussão pela internet. A mensagem é curta e direta, pois não existe resposta simples sobre a questão dos limites do fotojornalismo entre função social e exploração irresponsável da notícia. Mas, além disso, mostra que o fotógrafo não é um ser desprovido de emoções e que a carga psicológica desse trabalho é gigantesca.
As cenas são fortes, mas vale a pena ser assistido inteiramente. Mais do que o impacto visual, vale pela reflexão sobre essa profissão.
Há alguns dias quis cancelar uma linha telefônica. Entrei em contato com o 0800 da operadora durante o dia e o atendente me orientou a imprimir um formulário direto do endereço eletrônico da empresa. Anotei as instruções e a noite fui realizar a tarefa que prometia ser simples.
Fuça daqui, fuça dali e nada. Quem disse que encontrava o caminho indicado pelo dito cujo? Impropérios não faltaram em meu pensamento. Lasquei a mão no telefone.
Após intermináveis segundos ouvindo as vantagens de optar por aquela telefônica fui acolhido por uma bela voz feminina em seus rodeios formais e decorados. “Pois não senhor”, “boa noite senhor”, “algo mais senhor?”.
Expliquei meu caso e a moça apenas repetiu o que eu já sabia ser uma furada: no site não existia o bendito formulário. E a cada nova explicação minha, ela pedia uns segundos, voltava, pedia “desculpas senhor” e tentava me convencer de que no site existia o tal documento.
Por mais robóticos que sejam estes operadores, pelo tom de minha voz ela deve ter percebido minha impaciência. Apesar de toda educação que mantive, estava ríspido nas respostas e perguntas.
Demorou uns belos sete ou oito minutos para que eu a convencesse de me enviar por e-mail o maldito formulário. Por precaução, a segurei na linha até verificar em minha caixa de entrada o que tanto esperava.
E foi ai neste instante de espera que poucas palavras mudaram a minha forma de encarar estes operadores.
Eu disse qualquer coisa para quebrar o gelo e o que ouvi me fez esquecer a minha frase:
— Está um sufoco aqui. Estou com o senhor e outra ligação. Um segundo senhor...
Não deu outra. No fim do atendimento só tive que agradecer e pedir desculpa por qualquer coisa. Gentileza não faz mal a ninguém. Pelo contrário, faz muito bem, já pregava o saudoso profeta Gentileza.
Nós reclamamos que os operadores das centrais de atendimento são praticamente uns robôs, mas esquecemos de observar que muitas vezes não os tratamos com o devido respeito a ser destinado a qualquer ser vivo errante.
Do outro lado da linha está um trabalhador de carne e osso como eu e você. Ou você acha que eles sentem prazer de ouvir tua voz muitas vezes mal-educada? Eles estão no papel deles de nos oferecer os serviços e a nós cabe a opção de aceitar ou não. E esta negativa deve ser feita com respeito.
E quando durante o atendimento perdermos a linha, não custa no final encerrar com pedido de desculpas e lembrar que a melhor maneira de conquistar um aliado que dantes foi opositor, é reconhecendo o quão difícil é o seu trabalho.
Com educação, gentileza, paciência, respeito e generosidade, nós, os clientes, podemos provocar uma revolução nos telemarketing. Uma revolução que vai partir de fora para dentro. É só querer!
Um dia que começa normal para os moradores de Los Angeles – café da manhã, trânsito, trabalho –, mas que muda drasticamente às 11h. Um apagão levou todos ao chão inconscientes – era o que se pensava – por dois minutos e 17 segundos.
Quando acordam, as pessoas se deparam com uma cena catastrófica, muitos acidentes terrestres e aéreos, explosões, prédios em chamas, mortes, a verdadeira imagem do caos. Ninguém sabe o que aconteceu e todos querem respostas. Cogita-se ataque terrorista, mas a suspeita acaba quando se percebe que o apagão ocorreu no mundo todo.
Durante o tempo que ficaram desacordadas, as pessoas tiveram visões de seu futuro. Para uns, um milagre, um recado divino de boas novas, para outros um grande pesadelo. E ainda há os que não tiveram visão nenhuma, o que deve significar que não estavam mais vivos naquele futuro.
A possibilidade é assustadora, será que é possível mudar aquele futuro? O que aconteceu? Por que aconteceu? Essas são perguntas que os personagens da estreante FlashForward se propõem a descobrir no decorrer da série.
O agente especial do FBI de Los Angeles, Mark Benford – vivido por Joseph Fiennes –, é um dos protagonistas da trama. É casado com a cirurgiã geral Olívia e pai de Charlie. A filha foi a grande força para Mark lutar contra seu vício com bebidas. Mark, com a ajuda de seus colegas de trabalho, tem a missão de desvendar o mistério do apagão. Uma das primeiras constatações após os relatos é que todas as visões são do dia 29 de abril de 2010, às 22h.
Em sua visão, Mark trabalha na Operação Mosaico, que investiga o misterioso incidente, e é dela que ele conseguirá tirar algumas pistas para desvendar o apagão. Um detalhe interessante e, claro, misterioso – mistério é a palavra-chave da série – gera ainda mais questionamentos ao departamento de Mark: um vídeo analisado mostra um homem acordado e andando enquanto os outros estão no chão desmaiados.
FlashForward é baseada no livro homônimo de Robert J. Sawyer. Uma diferença da série para o livro é sobre as visões, na série o intervalo é de seis meses e na obra de Sawyer são 21 anos à frente.
O piloto me cativou e vou dar chance à série. Nos Estados Unidos a audiência não vai bem, mas por aqui li muitos elogios. Talvez, a pressão gerada em torno da produção, dita por muitos que seria o novo Lost, tenha atrapalhado. Vamos ver o que os próximos episódios me reservam, algo me diz que será muitos mistérios.
Apesar de não apreciar muito as produções que envolvem invasão alienígena, resolvi assistir a nova série que estreou nos Estados Unidos nesta semana, V – Visitors. Um dos motivos para assistir foram os elogios à obra e outro foi a presença de Elizabeth Mitchell no elenco, a Juliet de Lost. Gostei do que vi e vou acompanhar os próximos episódios.
Após alguns tremores a população fica assustada, mães preocupadas com seus filhos, casais se preocupam com os companheiros e no meio de tanta agitação naves gigantescas aparecem nos céus de 29 cidades em todo o mundo, denominadas cidades anfitriãs. Entre elas aparece o Rio de Janeiro.
Para tranqüilizar o povo, as naves passam uma mensagem de que vieram em paz e que pensavam ser as únicas vidas inteligentes no universo. O contato com os humanos ainda esclarece que os visitantes querem compartilhar sua tecnologia e milagres médicos com os habitantes da Terra. A porta-voz de tal mensagem é Anna, uma mulher envolvente e de boa aparência, a líder dos V, como são chamados.
Como sempre, as opiniões são divididas, alguns confiam e quase veneram os V, outros, porém, estão bem desconfiados com estes visitantes. Os tripulantes das naves têm a aparência idêntica a dos humanos, talvez por isso ganham a simpatia de alguns. Inclusive um repórter, que faz uma aliança com Anna e vê nela uma oportunidade para alavancar sua carreira.
Uma das pessoas que não acreditam nessa mensagem bondosa é a agente de segurança Erica Evans (Elizabeth Mitchell) que de tanto investigar, descobre um plano bastante sinistro. Os alienígenas são, na verdade, reptilianos que se escondem atrás da carcaça de aparência humana e que possuem planos para dominar a terra de forma nada agradável. Então um pequeno grupo de resistência começa a se reunir.
Os planos dos V para dominar a terra incluem infiltração nos governos, seduzir admiradores e também recrutar jovens humanos para embaixadores da paz. Um deles será, claro, o filho adolescente de Erica Evans, Tyler, que resolve entrar para o grupo porque se apaixona pela alienígena Lisa. Os recrutas, no entanto, não passam de pequenos espiões.
V é um remake da famosa série homônima da década de 80, considerada por muitos a precursora das séries de ficção científica. A produção original foi cancelada na primeira temporada. A nós, resta esperar pelos próximos episódios e pela audiência, especula-se que este V tenha quatro temporadas.
— Duas entradas para o Alô, alô Terezinha.
— É documentário, hein...
É evidente que eu não esperava muita procura para assistir ao documentário Alô, alô Terezinha, de Nelson Hoineff, sobre Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Mas a frase da moça da bilheteria do cinema foi aterradora.
Na sessão, mais um recorde que eu e minha esposa quebramos: apenas nós dois na sala. A outra vez que isto aconteceu foi no também nacional O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburguer.
Alô, alô Terezinha confirma o paradoxo do palhaço, que apesar de fazer – ou tentar – rir, tem a aparência triste. Embora entrecortado por cenas pitorescas do Velho Guerreiro, acompanhei a película com um embaraço na garganta que crescia a cada fala.
Que não se espere deste documentário um mastigado pronto sobre quem e o que foi Chacrinha. Muito mais do que isso, o filme é composto por retalhos de depoimentos expostos de maneira tão anárquica quanto anárquico era Abelardo Barbosa à frente de seus programas televisivos.
Ex-calouros buzinados por Chacrinha ajudam a compor o cenário de saudade. Gente simples que divertiu outros tantos como eles próprios naqueles já distantes anos 60, 70 e 80. Alguns, ainda que claramente desprovidos de qualquer talento artístico, continuam sonhando com uma carreira como cantores.
Das “estrelas”, Roberto Carlos, Alceu Valença, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, entre outros, declaram sua paixão por Chacrinha e documentam a importância do pernambucano para a história da música e da tv brasileira.
Mas o lado melancólico também surge quando as falas são dos “peões” de Chacrinha. As Chacretes, por exemplo. O desprezo dado por muitos ao filme em cartaz é praticamente o mesmo dado àquele pessoal que de uma hora para a outra se viu em total ostracismo.
E é disto justamente que o filme trata com profunda maestria, embora sem demonstrar a menor ambição de ser um melodrama justiceiro dos excluídos televisivos. Muitas das Chacretes entraram em depressão. Algumas enfrentaram problemas com drogas.
O nó que permaneceu na garganta nos 90 minutos de duração do documentário apertou ainda mais quando o maestro do Cassino do Chacrinha, Aloyr Mendes, em idade avançada, toca em seu piano, a clássica melodia do “ô Terezinha, ô Terezinha, é um barato o Cassino do Chacrinha”.
Acompanha a imagem uns últimos depoimentos aonde todos seguram o choro até reaparecer Russo, numa simplicidade extrema, em um bairro pobre, quase sem conseguir falar de tamanha emoção, para depois seguir em frente, num plano de uma rua precária, com um andar trôpego, devagar, sem tentar fugir do destino que há muito lhe alcançou.
Três ou quatro lágrimas escapam furtivamente de cada um de meus olhos. É uma saudade de um tempo que vivi na inocência infantil que esquece de muita coisa.
É triste ver uma sala de cinema vazia quando quem na tela apareceu precisa mais do que ninguém do aplauso e da audiência de todos nós. Só assim, algumas daquelas feridas podem ser cicatrizadas. Por sinal, o Canal Brasil, da tv por assinatura, promete para 2010 uma série especial com as Chacretes.
Antes que esqueça: o diálogo logo no início do texto é uma ficção. A moça da bilheteria, ao contrário do que eu poderia esperar, não demonstrou qualquer reação ao meu pedido. Mas as lágrimas segundos antes dos créditos irromperem a tela foram reais.
Nem sempre o povo sabe da sua história ou lembra dos problemas do passado. Você já ouviu falar em anistia? No dia 28 de agosto a assinatura da anistia militar no Brasil completou 30 anos. A Lei 6.683, assinada pelo presidente João Figueiredo, permitiu que mais de 2000 pessoas que estavam exiladas e 150 banidas voltassem ao país e libertou mais de 100 presos políticos.
Anistia é o termo jurídico usado no perdão de culpados por delitos coletivos, especialmente de caráter político. Assim, acabam as penas contra eles e tudo o que envolve o crime deverá ser mantido sob silêncio perpétuo (do art. 107, II, Código Penal). A grande questão é que também foram anistiados os militares acusados de terem violado os direitos humanos. Aí então você pensa: então nunca saberemos nada sobre os crimes da ditadura, nunca ninguém será punido?
Existem dois lados nessa história: o contra e o a favor. Cada um interpreta a lei de um jeito. O artigo primeiro da lei é o causador de tanta confusão: "É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes (...)". Os que são contra dizem que a anistia é só para as vítimas e aqueles a favor afirmam que os militares estão incluídos no trecho “conexo com estes”.
“Memórias Relevadas”
A campanha Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, tem o objetivo de reunir informações sobre os fatos da história política recente do país. Agora pessoas que têm informações sobre o período do governo militar pode enviar o que sabe ou o que tem, como fotos, documentos e cartas para que todo o Brasil saiba a sua história. Espera-se, principalmente, que netos e parentes das pessoas mais atingidas e envolvidas divulguem esses fatos.
Os dados sigilosos que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) guardava dos arquivos dos serviços extintos como o Conselho de Segurança Nacional, Comissão Geral de Investigações e o Serviço Nacional de Informações foram transferidos para o Arquivo Nacional. Aos poucos o Brasil vai descobrindo o que foi calado e escondido.
Depois de recuperar a democracia o que precisamos agora é resgatar a verdade. Muita coisa já foi documentada e publicada, mas ainda existe um clima de silêncio quando o tema é a ditadura. Os mais jovens não sabem muito bem o que aconteceu e o que é mais falado nas escolas é sobre a censura. Os desaparecidos políticos da época, os conflitos, o movimento das Diretas Já, são citados por cima. E a cada geração, com exceção de poucos que se interessam pelo assunto, nos tornamos cada vez mais esquecidos de nosso passado, não tão passado.
Nunca é tarde para começar
Para quem não viveu essa época do Brasil, uma boa maneira de entender o que aconteceu no período da Ditadura Militar é assistir filmes como O ano em que meus pais saíram de férias (Cao Hambúrguer, 2006), ou Batismo de Sangue (Helvécio Rattón, 2007) e O que é isso companheiro? (Bruno Barreto, 1997). Livros também são uma boa pedida, como Meu querido Vlado (Paulo Markun, Ed. Objetiva, 2005), Veja sob censura: 1936-1976 (Maria Fernanda Almeida, Ed. Jaboticaba, 2009) e A Ditadura Envergonhada (Elio Gaspari, Companhia das Letras, 2002).
Os títulos são recentes, com diferentes pontos de vista. Assim você pode criar a sua própria opinião sobre o assunto. Quanto mais conhecermos o passado, melhor entenderemos o presente e poderemos mudar o futuro.
Era um dia agradável quando ele entrou em seu carro e partiu para a praia, na cidade vizinha. Após procurar um local para estacionar, subiu até seu apartamento e deixou a mochila. Não havia ninguém em casa. Passava das 17h30 do dia 7 de janeiro de 2004, quando foi à praia com uma amiga e juntos saíram a caminhar pela areia. Andaram um por alguns minutos e pararam pouco antes de um dos pontos mais movimentados da Praia do Mar Grosso, em Laguna (SC).
Ali sentaram e conversaram – de tudo um pouco. Entre uma fala e outra, ele sentiu a musculatura de sua boca puxar para cima. Estranhou a fisgada, mas ficou por aquilo mesmo. Passado algum tempo, foram embora.
Sozinho em casa, ele foi cruzando o apartamento até chegar no banheiro da suíte. Tirando a camisa, foi logo ao espelho sobre a pia para ver se havia algo errado com sua boca. Havia! Foi quando percebeu que ao sorrir não conseguia mais mexer o lado esquerdo do rosto. Tudo era puxado para o lado direito. Seu sorriso estava torto.
Ligou de imediato para a irmã e foram para o Hospital de Laguna. Diagnóstico: Paralisia Facial Periférica. Recomendações médicas: procurar um neurologista na cidade vizinha (Tubarão) no dia seguinte; enquanto isso, compre chicletes para a musculatura não ficar parada por muito tempo.
— Feito.
No dia seguinte, em Tubarão, exames de todos os tipos. Medicação: nove injeções de um remédio do qual não lembra o nome; mais uns comprimidos de vitamina B e coisas que qualquer hipocondríaco ficaria satisfeito. Ah, e fisioterapia por alguns meses. Início do tratamento: Já! E em breve uma tomografia só para verificar se não houve problemas maiores.
Durante o período de tratamento,
sentiu-se inconformado com a
fragilidade de um tal de nervo facial.
Durante o período de tratamento, sentiu-se inconformado com a fragilidade de um tal de nervo facial. Pois agora, sequer podia fazer bochecho ao escovar os dentes, ou tomar qualquer tipo de bebida em copos normais – precisava de canudos. Ao mesmo tempo sentia-se bem por saber que o mesmo nervo, que considerou frágil, possuía a capacidade de se regenerar. Coisas do corpo humano!
Ao mesmo tempo sentia-se bem
por saber que o mesmo nervo possuía
a capacidade de se regenerar.
E assim aconteceu. Pouco antes de completar dois meses do fatídico dia na praia, e de ter passado pelas injeções e fisioterapia, ele já estava 99% recuperado. Sentia a musculatura do lado esquerdo da face novamente. Tudo estava quase normal, a não ser pelo reflexo um pouco lento do olho esquerdo em fotos com flash – o que logo recuperou.
A história acima é real e aconteceu comigo. Resolvi narrar este caso que vivi porque muitos ainda desconhecem a Paralisia Facial Periférica (PFP) ou Paralisia de Bell – aquela que os mais velhos insistem em dizer que é por causa da mudança brusca de temperatura –, e por isso acabam deixando para depois um tratamento que pode reverter 100% a situação.
As razões para a ocorrência da PFP sao desconhecidas. Acredita-se que alguns eventos possam prejudicar o nervo facial, como um trauma ou inflamação (em contato) na região por onde passa o tal nervo. A mudança brusca de temperatura, para os que ainda creem, é uma opção descartada pelos médicos. "Caso contrário, quem trabalha em frigorífico seria alvo fácil para a PFP", afirmam alguns.
Enfim, o problema se resolveu. Tratamento químico de imediato e exercício para que a musculatura não venha a atrofiar é a resposta. Pouco tempo depois tudo volta ao normal.
___ Mais sobre a PFP: Ayrton Senna e Sylvester Stallone passaram pela mesma situação, mas na época não havia o tratamento atual; A PFP pode atingir pessoas de ambos os sexos e de todas as idades – lembro de um menino de três anos que estava na fisioterapia pelo mesmo motivo que eu; Quanto antes iniciar o tratamento mais chances de voltar ao que era antes; Alguns casos, quando não tratados logo no início, exigem cirurgias corretivas.
Todo tipo de idealismo parece ter morrido. O que temos hoje são resquícios de tudo e de nada, distorções e mutações de todos os gêneros; e de todas as formas de governo conhecidas, não houve uma que não tenha tomado gosto pelo poder e usado isto em benefício próprio. Do ideal comunista vimos surgir o autoritarismo – da igualdade pela mão de ferro –, e do capitalista o consumismo – do quanto mais, melhor e para o bolso de poucos.
De toda forma, parte do mundo está migrando do consumismo – que ainda predomina – para um liberalismo real. Não aquele liberalismo econômico padronizado dos clássicos de economia, mas um que também possibilita a liberdade de pensamento. Um liberalismo mais social. A humanidade parece ter adquirido nestes últimos anos uma certa consciência de que a informação e a capacidade de pensar traz benefícios não só para o indivíduo, mas também para a sociedade. Pois é verdade que produzimos mais informações nos últimos 50 anos do que em vários outros séculos de História.
É claro que, em muitos lugares, muita gente ainda está longe disso. Além das limitações promovidas pela influência dos idealismos do passado – fatores econômicos, por exemplo –, há ainda os limitadores sociais – questões como o analfabetismo e a fome. Mas também se vê, em algumas regiões, o povo a escapar de dogmas – gerais, não somente os da fé –, e que a ciência tem possibilitado novas ideias – por mérito do acesso à informação. Ideias que podem mudar ainda mais o mundo.
Temos muito ainda para refletir e desenvolver, mas a saída desta mais recente crise econômica mostra que o mundo se reergueu com novas ideias, como novos anti-corpos. A crise ainda provou que o liberalismo atual não era lá muito liberal e que o Estado ainda é parte importante deste sistema. Mas agora, com as coisas voltando aos eixos, pode-se planejar uma nova estratégia para a economia – para que os erros não se repitam. E o papel do Estado não deve voltar a ser o proposto pelo capitalismo ou comunismo – como alguns acusaram o governo de Barack Obama, pós-crise –, nem por outros tantos ...ismos.
Resta a esperança de que se faça um Estado-Livre, planejado para que sua população tenha tempo de receber uma formação adequada e livre. O que só teremos depois de uma consciente disputa eleitoral e da pressão popular por resultados das ações dos eleitos. Bem, como disse: liberdade e esperança – ainda sonhos.
Existe nas cidades pequenas uma espécie de anúncio por indicação ou camaradagem. Boa parte dos anunciantes acabam fechando acordos comerciais no velho estilo “caderneta” do mercado da esquina. Há também grandes anunciantes que, apesar de terem agências de publicidade, acabam cedendo a todo tipo de mídia.
Mas a questão está na informação de qualidade – rara ou pouco acessível nessas cidades. Jornais semanários são produzidos aos montes em cidades menores – pode-se tirar um ou dois que publicam algo relevante; os demais, no maior espaço da edição, publicam releases de assessoria de políticos da região.
Já nos diários, a relação muda: publicam assuntos relevantes, mas são poucas as histórias que chamam a atenção no meio de tanta coisa noticiada. Aliás, a maior parte das coisas há tempos são apenas noticiadas. Poucas são as histórias que ganham uma narrativa, uma forma bem contada. E o profissional de jornalismo – quando profissional – às vezes se acomoda na pauta repetida, na cadeira e ao telefone; "muitas vezes por força do patrão", como disse um amigo jornalista.
O mesmo ocorre nas Rádios. Programas cheios de anúncios ou terceirizados. E onde o grande chamariz para o anunciante não é a audiência, mas a boa fala do apresentador – que quase sempre vende seus próprios anúncios. É um cargo bastante indefinido este de comunicador e vendedor de publicidade. Algumas TVs também oferecem espaço para anúncios e os produzem – aproveitando-se da cultura (ou falta de) dos anunciantes locais.
Observa-se que, sendo as coisas como são, os anunciantes de cidades pequenas não são muito exigentes – esperam apenas aparecer e certamente não tem controle do retorno de sua publicidade. No máximo possuem estimativas do alcance, de acordo com a tiragem do veículo impresso – que muitas vezes não condiz com a realidade.
E então podemos questionar: se um novo veículo, interessado numa publicação de bom conteúdo, surgisse numa cidade dessas, teria sucesso? É possível que venha a fracassar em pouco tempo. Pois entraria na disputa pelos mesmos anunciantes que já possuem um laço com seus veículos preferidos – difícil de ser quebrado –, e pouco se importam com os leitores destes veículos – preocupam-se mais com o preço do anúncio e a exibição de sua marca, da maneira que for.
É por este motivo que sempre existem anunciantes em revistas que publicam somente classificados e anúncios em geral – comum em cidades pequenas. É uma questão cultural que só se modificará com o acesso à informação de qualidade – e levará um certo tempo para que a população exija tal informação; assim como também levará tempo para que os anunciantes percebam as exigências do público e então escolham anunciar em veículos de qualidade.
No momento, na maioria dessas cidades, a informação vale menos que o espaço, o nome da empresa de comunicação, e a influência das pessoas que fazem a grande imprensa de uma pequena cidade.
Essa semana comecei a ler O Pequeno Príncipe. Confesso que tinha certo preconceito contra esse livro, mas li. Devorei metade do livro em alguns minutos, e não pararia, não fosse o sono daquela quase madrugada.
O jeito como Saint-Exupéry escreve é algo de extraordinário. Frases curtas, diretas, mas ao mesmo tempo lúdicas, que nos fazem desdobrar as milhares de possibilidades de cada uma. A impressão é que, cada vez que lermos o livro, imaginaremos cenas totalmente diferentes, de tantas nuances possíveis para o pensamento conhecer.
De repente, consegui entender o que atrai tanto nesse livro: A simplicidade. Os fatos, por mais surreais, foram narrados com uma simplicidade tanta que os tornam corriqueiros, como se fizessem parte de nossas vidas há tempos, e só não nos damos conta disso por estarmos ocupados demais com nossas próprias visões de realidade.
Essa simplicidade faz com que nos aproximemos do personagem, e comecemos a enxergar a narrativa sob outra perspectiva. O princepezinho deixa de ser apenas um pedaço do livro e passa a ser uma espécie de companhia, como um amigo que viaja conosco através da história.
E é essa simplicidade que nos faz pensar. Talvez a vida seja mesmo simples, e as preocupações que impomos sobre ela acabam por nos impedir de enxergar o que há de realmente importante. Resolver problemas, ganhar dinheiro e pagar contas são coisas importantes sim, mas são apenas meios, não metas. Muita gente faz disso um objetivo e aos poucos vai esquecendo o pequeno príncipe de cada um, que está lá no asteroide, olhando a vida de cima, à espera de uma chance de descer e pedir um desenho de carneiro.
Sempre tive como livro favorito O Apanhador no Campo de Centeio. Caulfield e sua ranzinzice sempre foram parte importante na minha formação pessoal e pseudo-literária. Mas a partir de hoje, além de ter que cuidar de sua irmãzinha Phoebe, Holden terá a companhia de um garotinho loiro, de olhos verdes, que tem medo de baobás e revolve vulcões.
O inverno ainda nem ameaçou começar, e já fui obrigada a decidir que não vou estudar até que o último floco de neve derreta. E não é só por causa do medo do frio de -35 graus. Além do fator térmico, existe o geográfico: a universidade mais próxima fica há mais ou menos uns 30 quilômetros (não sei exatamente nenhuma medida de peso, comprimento ou volume aqui. Tudo eu multiplico ou divido por 2 e adiciono o 'mais ou menos' na frente) e minha host já disse que não me deixa dirigir na neve, já que nem ela tem coragem.
No entanto, o tempo não para de passar e faz um mês e meio que estou aqui, me preocupando se vou atingir meu objetivo principal: dar um up no currículo, que continua tão pobre como estava antes de eu embarcar. Nem posso colocar nele que meu inglês é fluente, pois ainda me comunico como os índios dos filmes. Mim quer isso, você pegar aquilo. Pode ser que eu nunca venha a falar ingles fluentemente.
Será que para uma vaga como jornalista ou secretaria executiva, vale incluir nas habilidades algo como saber disfarçar ervilha no meio do morango? Ou então, poder trocar perfeitamente a fralda de uma criança que se contorce como se estivesse pegando fogo?
Em 2006, quando ainda fazia parte da redação do Jornal O Esporte, quase fui esquartejado em praça pública. Tudo porque questionei se Felipe Massa, recém contratado como piloto titular da escuderia Ferrari, seria o novo Rubens Barrichello. Escapei ileso daquela, eis de escapar são e salvo desta também.
Para deixar bem claro, não comparava o talento de um com o talento de outro. Muito menos a personalidade de Massa e Barrichello. Massa estreou na Sauber em 2002, no ano seguinte foi piloto de testes da Ferrari. Em 2004 e 2005 voltou para a Sauber, até que, finalmente em 2006 assumiu a titularidade na equipe italiana.
A expectativa criada em torno da possibilidade de finalmente o Brasil poder ter novamente um campeão mundial de Fórmula 1 deixou a todos eufóricos. Talvez por isso, eu, ao dar ouvidos ao ácido tio Bartolomeu, corri um sério risco de ser linchado no meio da rua.
Passaram-se três anos e até agora o título não veio. A Rede Globo segue nos fazendo crer que ele vira. Mas, amigos, espero que esteja errado, tudo indica de que minha profecia pode tornar-se verdadeira e irreversível. Com Fernando Alonso na Ferrari e o Banco Santander patrocinando a escuderia da velha bota, Massa tem tudo para ser jogado para escanteio.
Pior, no entanto, do que aconteceu com Rubinho que teve a árdua missão de substituir Ayrton Senna como o piloto brasileiro na Fórmula 1, é carregar um sobrenome campeão na categoria.
Nelsinho Piquet é nosso exemplo mais recente. Nosso Macunaíma às avessas (leia mais, aqui). Chegou à Fórmula 1 carregando uma dose inebriante de saudosismo. O mesmo nome e o sobrenome do vitorioso pai. Deu no que deu: em nada! (Que o futuro queime a ponta de meus dedos...).
Entre 1991 e 1994, Christian Fittipaldi, sobrinho do bi-campeão da Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, correu pelas equipes Minard e Arrows. Com um desempenho medíocre, Christian conseguiu como melhores resultados um sexto lugar e duas quartas colocações.
Agora é outro sobrinho que aparece para a Fórmula 1: Bruno Senna, contratado pela estreante Campos (segundo a revista alemã Motorsport Magazin e o site globoesporte.com). Seu tio, todos sabem, é Ayrton Senna (que se recusou a dar um autógrafo para o então garotinho Felipe Massa, aos oito anos, quando corria de kart).
O problema todo não está no talento ou na personalidade do piloto de 26 anos que vai debutar na Fórmula 1. Para ele, o sobrenome pode até não pesar sobre os ombros, mas para os fãs de automobilismo, até semelhanças físicas entre Bruno e Ayrton serão procuradas à exaustão.
Sou saudosista e confesso ter vibrado com esta notícia. Embora a porta pela qual Bruno Senna vai entrar na Fórmula não seja lá das melhores. A questão, no entanto, é ver como vai se comportar Galvão Bueno e sua trupe na lavagem cerebral que fazem aos milhões de brasileiros nos domingos de corridas pela tv.
Se os globais criarem expectativas em demasia, Bruno Senna não suporta três temporadas na Fórmula 1. Se jogarem limpo, se lembrarem que sobrenome não significa nada, Bruno Senna pode sim ser brindado com um futuro brilhante.
Talento pode até ser hereditário, mas sorte, trabalho duro e oportunidades, não. Ademais, a Fórmula 1 não é mais a mesma dos tempos de Ayrton Senna (três pontinhos).
Depois de ouvir essa e outras 20 variações dessa frase - em inglês, of course - e de responder "todo mundo me diz a mesma coisa" e suas tantas variantes, decidi que quando eu for fodona e tiver poder de persuasão sobre o mundo inteiro, sobretudo os americanos, escreverei um belo texto sobre o Brasil. Você sabe, só para lembrar a todos que temos bananas sim, mas não só isso.
Salientar que nem tudo é Amazônia. Que temos inverno em algumas regiões. Sabemos o que é eletricidade, internet wireless, disk entrega e shopping center. Conhecemos lavadora louça e carros automáticos. Que não jogamos só futebol. Não dançamos só samba. E que temos gente alta e loura também, oras bolas.
Acontece que eu ainda não sou fodona. Tampouco sou capaz de escrever um texto e passar para o inglês em qualquer tradutor online e mandar um spam assinando Paulo Coelho, por exemplo, que é brazuca e faz um sucessão por aqui. Não tenho coragem mesmo essa receita sendo infalível, como comprovei hoje ao ver na minha caixa de entrada três e-mails encaminhando o texto "Evite ser traído", atribuído falsamente a Arnaldo Jabor.
Não tenho prova nenhuma para afirmar a falsidade ideológica e nem sequer consegui ler um parágrafo inteiro do tal e-mail. Mesmo assim penso que as chances de Jabor escrever e publicar um texto tão feminista e clichê são as mesmas da heterossexualidade voltar a ser moda.
O jeito é pintar o cabelo. Ou mentir a nacionalidade. Mas isso também seria falsidade ideológica, não é mesmo?