*Thiago Schwartz | www.twitter.com/perereco
Dezembro está aí, e com ele alguns (incluindo este que vos fala) são acometidos de uma doença ainda não completamente desvendada pela ciência: a Dezembrofobia.
Fases da Dezembrofobia:
Estágio inicial – A ansiedade. Geralmente manifesta-se no dia 1º. A espera do último salário do ano é angustiante. Mas lá pelo dia 10 ele chega, geralmente acompanhado de um amiguinho conveniente, o 13º.
Segundo estágio – A dor. Lá está você, com 150% do seu salário em uma das mãos, e um bolo de contas na outra. Você tem dinheiro, um dinheiro considerável. Dava até pra fazer uma mala e sair da cidade, vivendo como um riponga por alguns meses. Mas você não vai fazer isso. Vai pagar as contas.
Terceiro estágio – A culpa. Contas pagas, alívio. Não. Por causa delas – as contas –, sua sobrinha ficará sem a boneca que arrota. Por causa delas você não poderá dar um Pinot Noir pro pessoal da coleta de lixo. Eles vão ter que se contentar com o garrafão de "coquetel de uva" (aquela cachaça misturada com Q-Suco) tradicional de todo ano.
Quarto estágio – A ira. Vem o amigo secreto da firma. E você sempre tira alguém de outro setor. Que você cumprimenta 2 vezes por ano (uma delas na festa de amigo secreto, a outra por volta de maio, no corredor). Pra agradar, você dá aquele presente legal pro seu amigão, gastando algo que não gastaria para comprar um presente para sua mãe. E ganha, em contra-partida, um vale-cd da loja localizada no ponto mais distante possível em relação a sua casa.
Quinto estágio – A dúvida. Sua mulher diz que quer um presente. Mas não diz qual. Quer que você adivinhe o presente. Que olhe para o presente e pense: "Nossa, como esse presente me faz lembrar o meu amor... Que momento sublime iremos ter juntos com esse presente. Como ver ela ganhando esse presente me faz feliz". Num shopping center lotado, dia 23. E sim, você vai errar na escolha. Mas com alguma sorte, essa será a última briga do ano.
Sexto estágio – A revolta. Aparecem os itens mágicos de Natal. Um exército de Chesters, Perus e Tenders invade as prateleiras frias do supermercado. E, de acordo com sua mulher, todos são indispensáveis na ceia de Natal, mesmo que o tal do Tender fique rolando na geladeira por uns 4 dias, e acabe sendo cortado em cubinhos e colocado no "Arroz de forno" do jantar do dia 31.
Estágio final – A aceitação. É dia 26: Todos os sobrinhos já ganharam presentes (e detestaram as bonecas que não arrotam), o cara da coleta de lixo olha você com cara feia e "esquece" de pegar seu lixo por duas semanas, o vale-cd sobre a mesinha da sala, sua mulher ainda não conversa com você, você come o último pão do saquinho, recheado com um pedaço gelado de Tender (e pão agora só ano que vem, Papai Noel levou o dinheiro do mês). Dezembro está oficialmente acabando. Contagem regressiva. Amanhã eu vou pra praia, vou tirar a camiseta, passar o protetor fator 60, botar o pezinho n'água, fingir que estou lendo um livro pra poder olhar a mulherada sem levar bronca da patroa...
Ligam do escritório: Balanço anual na mesa do chefe pro dia 31. À tarde.
3 comentários:
Acho que qualquer adulto independente e não proprietário de qualquer tipo de comércio que triplique suas vendas nessa época do ano sofre dessa fobia. Até eu comecei a entender o pânico da minha mãe. E para agravar, aqui não existe décimo terceiro. E o meu salário sempre atrasa.
Muito bom seu texto!
Ótimo texto, finalmente descobri um nome pra aflição e ansiedade súbitas que tomam conta de mim em dezembro.
Eu tbm......
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