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Destaque Quitandas e a volta aos tempos românticos Thiago Schwartz


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segunda-feira, junho 29, 2009

Queria tanto um santo assim!

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Estou pra ver homem de santo tão forte quanto o do escritor, ex-presidente da república e senador José Ribamar Ferreira de Araújo Costa (quem? José Sarney, que utiliza o nome do pai, Sarney de Araújo Costa, desde 1965).

Não deve ser a toa que o maranhense, senador, curiosamente, pelo poderosíssimo Amapá há 19 anos, foi o 31º presidente do Brasil. Pois então, notou a mística? Inverteu 31º? Brasil, il, il!

Quem pensa apenas no presente pra dizer que Sarney é um cabra de sorte precisa esticar a memória. Tudo bem que ele deve estar tão feliz quanto a Revista Veja (que vende como água, capas de tragédias), com a queda do avião da Air France, a morte de Michael Jackson e a conquista da Copa das Confederações pela Seleção Brasileira.

Para cada fato desses, José Sarney, autor de mais de 22 livros e dono da cadeira número 38 da Academia Brasileira de Letras, deve agradecer a São Fidelis de Sigmaringa, o santo do dia 24 de abril, seu nascimento.

Ou alguém assiste na TV mais do que três minutos algo sobre os escândalos envolvendo o senador e seus queridos parentes?

Coincidências a parte, a família Sarney controla o conglomerado Sistema Mirante de Comunicação, dono de três retransmissoras de televisão (afiliadas à Rede Globo), seis emissoras de rádio e o jornal O Estado do Maranhão.

Mas lá atrás, há exatos 24 anos, num dia 21 de abril, a sorte sorria com todos seus dentes imaculados para o “dotô” José Sarney. Quando morreu Tancredo Neves de causas até hoje fantasiadas pelos paranóicos, Sarney tornou-se presidente da Terra de Vera Cruz e os bons ventos parecem nunca mais ter parado de soprar em seu rosto.

A sorte de Sarney está ali, penduradinha nele, zombando das nossas caras, enquanto o presidente do Senado nomeia seus protegidos e os paga com dinheiro que não é dele.

No final disso tudo, é só escolher o sabor e não esquecer de pedir a borda com catupiry.

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*Eduardo Daniel é jornalista, crê na Justiça apesar dos pesares, mas por via das dúvidas, pra não alimentar os parasitas, prefere mesmo é votar nulo.

Os suínos somos nós?

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Ao procurar por alguma resposta sobre a forma de prevenção da gripe suína, matei dois coelhos numa paulada só. Dizia a informação que para evitar a propagação da doença são necessárias três medidas:

– Lavar as mãos com frequência;
– Levar a mão à boca ao tossir;
– Levar a mão à boca ao espirrar.

Se eu ainda duvidava que a gripe suína viesse realmente do porco, sanei minhas indagações. Afinal, o sujeito que não lava as mãos com frequência e tosse e espirra sem esconder as obturações, é ou não é um belo dum suíno?

Do ensino de jornalismo para gente nova

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

É possível, e bem provável, que os que hoje ocupam as salas de aula da faculdade de Jornalismo tenham tido uma formação que não lhes ensinou a pensar. O ensino fundamental no Brasil ainda não forma livres-pensadores – ensina-se mais a crer do que a questionar. Quando chegam ao ensino médio a realidade é outra: o vestibular. As preocupações com a tão difamada prova duram três anos e então chegam à universidade – por sinal, jovens demais. São considerados jovens demais, porque espera-se que com a idade as pessoas se interessem por buscar o conhecimento – e não só navegar por informações. E então, nas salas de aula, são pessoas cheias de emoção e, às vezes, vazias de razão e de lógica. Estas são questões importantes no jornalismo e como nem todos foram formados com a presença delas, poderão passar por constrangimentos.

Distinguir as variações da história e refletir sobre as verdades apresentadas deve ser natural do jornalista. É mais ou menos como responder a uma questão aparentemente simples: por ser simples na aparência, hesitamos; ao hesitar, pensamentos algumas vezes antes de responder e então, ficamos mais próximos da resposta errada. Se a lógica fosse natural a resposta assim seria também – sem medo ou preocupações. Essas situações vêm de questões humanas – apresentadas na filosofia, sociologia, antropologia –, muitas delas ignoradas nos primeiros anos do curso por pessoas jovens demais. Possivelmente por não terem sido estimulados a pensar, buscam o que já está feito. O que leva alguns àquela que podemos chamar de “síndrome do ctrl-c, ctrl-v”.

Após passarem pelas disciplinas de Psicologia, Sociologia e Epistemologia – desde que tenham aprendido de verdade e não apenas presenciado as aulas – deveriam ser estimulados a ler obras que mostrem as versões da realidade e como pode-se conviver com elas. Um bom exemplo e adequado a esta profissão é Como vencer um debate sem precisar ter razão, de Arthur Schopenhauer, pois passarão por situações duvidosas com os mais variados tipos de pessoas. Este e outros clássicos de grandes autores são importantes por mostrarem situações humanas reais e seus temas seguem atualizados. Outros autores como George Orwell e Hunter Thompson – de tempos mais recentes – também são relevantes para se conhecer estilos literários. Porém, estes autores não só apresentavam estilos como também conteúdo em seus escritos.

A questão do conteúdo está diretamente ligada à paixão do jornalista pela sua profissão. Por ser passional, pode inconscientemente fugir da neutralidade esperada – da imparcialidade do jornalismo. Bertrand Russell disse em seus Ensaios Céticos que as pessoas são mais passionais que racionais, e, por isso, agem da maneira que agem. Portanto, seria interessante considerar um certo ceticismo no trabalho jornalístico. Um ceticismo realista, diferente daquele ceticismo chato que duvida de tudo.

Russell propôs mais dez mandamentos ao mundo, que podem ser aplicados também ao jornalismo:
1. Não tenhas certeza absoluta de nada.
2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
8. Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
9. Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.
10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

Para um novo jornalista, os mandamentos acima serão úteis no dia-a-dia da profissão. Ao lidar com jornalistas mais experientes, por exemplo, busque mostrar a razão de você pensar como pensa – só não tente pensar como eles pensam. Seja um livre-pensador.

Sugestões:
BALZAC, Honoré. Os Jornalistas. Rio de Janeiro. Ediouro, 1999.
DESCARTES, René. Discurso do Método. Porto Alegre. L&PM, 2005.
ERASMO. Elogio da Loucura. Porto Alegre. L&PM, 2003.
FORTES, Leonardo. Jornalismo Investigativo. São Paulo. Contexto, 2005.
NOBLAT, Ricardo. A arte de escrever um jornal diário. São Paulo. Contexto, 2005.
ORWELL, George. Na pior em Paris e Londres. São Paulo. Cia. das Letras, 2005.
RUSSELL, Bertrand. Ensaios Céticos. Porto Alegre. L&PM, 2008.
SCHOPENHAUER, Arthur. Como vencer um debate sem precisar ter razão. Rio de Janeiro. Topbooks, 2003.
THOMPSON, Hunter S. A grande caçada aos tubarões. São Paulo. Conrad, 2004.
VOLTAIRE. Conselhos a um jornalista. Martins Fontes. São Paulo, 2006.

domingo, junho 28, 2009

Não troque seu diploma por um cacho de bananas

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Toda a discussão por conta da decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) em decidir em favor da não obrigatoriedade do diploma de curso superior para a prática e o registro da profissão de jornalista, se bobear – alerta o sempre atento tio Bartolomeu – vai levar os diplomados contrários à medida, a transformarem seus canudos em coquetéis molotov para a guerrilha contra os que tomaram tal medida.

É preciso calma, antes de sair por aí rodando a baiana e oferecendo seu diploma por preço de banana.

Em primeiro lugar, aquele que diz que tem em casa um objeto inútil, tem, com toda a certeza, absoluta razão. O diploma de jornalista para este colega é tão inútil quanto o seria para ele um diploma de qualquer outro curso. Mais importante do que o simbolismo que aquele pequeno pedaço de papel possa ter, é o conhecimento sobre tudo aquilo que se prega como essencial para a profissão que foi adquirido nos anos em que os ditos estiveram nos bancos universitários.

Divagando com um professor de violão sobre dom e talento, é perfeitamente possível tirar um paralelo sobre qualquer profissão, suas qualificações técnicas e pré-requisitos. Eis o que o violonista diz:

— Dom não é nascer tocando violão ou qualquer outro instrumento. Dom é ter a vontade, muito mais do que a capacidade, de repetir por horas a fio um novo exercício. É calejar os dedos ao praticar uma nova técnica para buscar a perfeição.

Aqueles que tem o dom e o domínio da escrita, que seduz e prende os leitores num papel, não precisam se preocupar. Vai procurar uma qualificação universitária somente quem tem o talento nato. Ninguém vai sentar numa sala de aula acomodado com a certeza da reserva de mercado ou esperando se descobrir um jornalista.

Além da categoria inerente aos que, se não são gênios, estão próximos disso, o profissional de imprensa que possuir as técnicas para o exercício impecável do jornalismo, vai ser muito mais valorizado entre uma concorrência que faz o feijão com arroz. Entre aqueles que estão comemorando o fato de não precisarem mais do diploma pela desobrigação de alguns anos de estudo.

Quem não domina a técnica certamente não vai sobreviver no mercado apenas conhecendo o abecedário. E isso vale também para os diplomados.

Post-scriptum: Sou jornalista diplomado, registrado e carimbado.
 

CONTATO
Colaboradores Ana Carla Teixeira, Anderson Paes, Camila Rufine, Carlos Karan, Deyse Zarichta, Eduardo Daniel, Emanuela Silva, Emanuelle Querino,
Emmanuel Carvalho, Fabiano Bordignon, Fabrício Espíndola, Francine de Mattos, Gabriel Guedes, Germaá Oliveira, Guilherme Marcon, Isabel Cunha, Kellen Baesso, Manuela Prá, Patrícia Martins, Thiago Antunes, Thiago Schwartz, Tiago Tavares, Valter Ziantoni,Van Luchiari, Vanessa Feltrin, Vitor S. Castelo Branco, Viviany Pfleger

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