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Destaque Quitandas e a volta aos tempos românticos Thiago Schwartz


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quarta-feira, setembro 30, 2009

"Você não faz uma limonada sem limão"

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Em agosto de 2007 Paulo César Carpegiani acabava uma curta e conturbada passagem pelo Corinthians: seis vitórias em 24 jogos. O jogo derradeiro: uma derrota em casa para o Cruzeiro por 3x0. Dias depois, ele procurou e encontrou refúgio em Gravatal, no Sul de Santa Catarina.

Este escriba que traça umas linhas tortas neste blogue, ainda era repórter do Jornal O Esporte e, junto com o colega Fabiano Bordignon, encontrou um Carpegiani à vontade, de chinelo e bermuda, no hotel em que descansava com a esposa e nos aguardava para a primeira entrevista do ex-jogador de Flamengo e Internacional após a demissão do Corinthians.


Um time com um bom técnico, mas com jogadores fracos, dá certo?
Você não faz uma limonada sem limão não é tchê? – indagou.

E vice-versa: com jogadores bons e com técnico fraco, o time dá certo?
O técnico é 20, 30% no time. É uma complexidade muito grande a relação treinador com jogador. Você tem que administrar tudo quanto é tipo de problemas sem desestabilizar o grupo.


Mas por que diabos, afinal, eu desenterrei esta entrevista? Não, não é um delírio da febre que me atingiu há alguns dias. É que o Muricy Ramalho tem tudo para ser campeão brasileiro pelo quarto ano seguido, com um segundo time.

Quando a equipe vai mal o primeiro a ter a cabeça guilhotinada é o treinador. A oferta no mercado de treinadores é grande. Entende-se. O próprio Carpegiani, abusando mais um pouco daquela entrevista, alerta para a falta de união da classe.


Treinador assume o lugar do colega demitido rapidamente. Falta união?
Nossa classe é muito desunida, não tem jeito. É cada um por si. Eu tive dois convites de times que tem treinador e o presidente fez o contato. Eu nem aceitei conversar.


Trabalhar com toda essa pressão e responsabilidade de levar nos ombros os louros da vitória e os espinhos da derrota não é fácil. Que diga o técnico Dunga, classificado com folga para a Copa do Mundo, com títulos expressivos pela Seleção e mesmo assim sofrendo críticas pesadas da imprensa. Ô raça, diria Tutty Vasquez.

Depois é a vida de goleiro que é dura, não é?

Mas cheguemos de tocar a bola de lado no meio-de-campo e partamos logo para o ataque, que ninguém tem tempo pra perder com lengalenga.

No final do primeiro turno do Campeonato Brasileiro do ano passado, o Grêmio aparecia na tábua com 41 pontos, seguido por Cruzeiro, 36, Palmeiras, 34 e São Paulo, 33. Eis que no returno a trupe comandada por Muricy Ramalho perdeu apenas na abertura da segunda parte do certame – justo para o Grêmio – e depois não foi mais derrotada. Resultado? São Paulo campeão com 75 pontos, Grêmio em segundo com 72, Cruzeiro em terceiro com 67 e Palmeiras em quarto com 65.

Técnico ganha jogo? Pode até não ganhar, mas eu nunca vi um time ser campeão com treinador medíocre.

No Brasileiro deste ano, Muricy trocou de casa. Saiu do São Paulo e foi para o rival Palmeiras, que dispensou o também campeão Vanderlei Luxemburgo. O Palestra terminou o primeiro turno em segundo, empatado com o Internacional com 37 pontos, seguido por Goiás, 35 e São Paulo, 33.

O Tricolor Paulista apostou em Ricardo Gomes e está vivo no campeonato. Ricardo Gomes é discreto, mas já treinou vários times brasileiros e conquistou títulos como técnico na Europa.

O campeão Muricy assumiu um Palmeiras sem favoritismo e prepara aos poucos uma doce limonada. Ricardo Gomes, a procura de afirmação no Brasil, pegou um São Paulo acostumado aos títulos, com água gelada, limões maduros e o melhor açúcar. Tudo na mão para um suco daqueles!

As cartas estão na mesa. Goiás, Internacional e Atlético Mineiro também estão na briga. Mas o que chama a atenção é a disputa entre o atual campeão São Paulo e o atual campeão Muricy Ramalho. Quem vai ficar com a limonada? Quem vai se consolar com a amargura do limão?

Ah! O Carpegiani? Depois daquele maldito agosto para ele, só foi conseguir emprego como treinador novamente em abril deste ano, quando foi contratado pelo Vitória. Foi campeão baiano. No Brasileiro arrancou muito bem e ficou muitas rodadas na liderança. Aí o filme se repetiu quando rubro-negro começou a despencar pelas tabelas e as criticas aos improvisos do treinador gaúcho voltaram.

Novamente em um agosto ele foi demitido quando o Vitória já ocupava a 10ª posição no Campeonato Brasileiro.

terça-feira, setembro 29, 2009

Eu já falei com robô?

*Fabiano Bordignon | fabiano@jornaloesporte.com

Quem costuma usar um aparelho telefonia móvel, certamente, já teve de tentar resolver algum imprevisto técnico para quem sabe dar sequência a uma conversa com a namorada – ou amante – ou mesmo chancelar a adiantada situação profissional que havia ficado praticamente decidida.

Efetivamente, a maneira do atendimento dos operadores(as) me faz dar margem a uma projeção: seria uma preliminar da robótica que se aproxima para tomar conta do que muitos já premeditam?

Nem mesmo a voz sensual ou o estilo “safada” de algumas atendentes conseguem despertar o interesse por uma interação. Mais parecem robôs falantes em circuito. Muitas vezes nem eles se entendem.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Será que peguei Gripe Equina?

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Febre. Uma dor no corpo desgraçada e um tose seca dos diabos. Numa observação superficial qualquer um diria que eu posso estar com a famigerada já démodé Gripe A, a Gripe Suína. Mas, algo que aconteceu comigo no final de semana retrasado, coloca uma pulga atrás de cada orelha de minha avantajada cabeça: posso ser o primeiro caso de Gripe Equina registrado no mundo!

Contarei para vocês do mesmo modo que contei ao médico que procurei neste sábado, procurando cada palavra como um míope tateando o chão a procura de seus óculos: devagar, com esmero, pau-sa-da-men-te.

Saíamos em três cavalos. Vá bem, podem fazer piadas, dois cavalos e uma égua, a que, por sinal, eu montei. Como estava calor, fui de chinelos. Já nos primeiros minutos da marcha de minha montaria, meus dois calcanhares deram sinais de que rapidamente perderiam nacos de pele com o atrito direto com a barrigueira.

Antes de prosseguir a história, é de suma importância lembrar que essa mesma égua havia se recuperado de uma forte gripe dias antes.

Pois bem. Não sei se já viram um cavalo após alguns minutos de cavalgada. Se não, já devem ao menos ter ouvido algo do tipo, “o fulano ta suando que é um cavalo”. O equino sua às bicas e o suor da dita égua ao “lavar” meus ferimentos nos pés os fazia arder.

Dois dias depois, na segunda-feira, comecei com a tosse. Na quarta já sentia febre e na quinta, como todo virtual-hipocondríaco, caçava no Google alguma informação sobre a gripe nos cavalos e mutações para os seres-humanos.

A informação que eu procurava, mas não gostaria de encontrar, está no diário popular Extra, do Rio de Janeiro, no dia 21 de agosto, com o título: "vem aí a Gripe Equina?".

Para o chefe do Departamento de Pediatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Marcos Lago, é possível que apareçam, nos próximos anos, casos de uma gripe equina.

O médico ainda explica que existem três tipos de vírus dentro da classificação influenza: A, B e C. Dos três, o do tipo A é o único que atinge os patos, os porcos, os cavalos e os humanos. Foram as variações do vírus A que causaram a Gripe Aviária (H5N1) e a Suína (H1N1).

A forma como o vírus consegue sofrer estas mutações ainda é desconhecida da medicina. Na entrevista, doutor Marcos explica que é ao acaso.

O doutor ainda lista o cavalo como o próximo animal a nos passar esta enfermidade e pondera, dando um pouco de alento aos que, ao menos, não tiveram uma experiência como esta que mencionei:

— Essa relação se dá pela proximidade. Pode acontecer, mas o contato do homem com o cavalo é menos constante e incisivo do que com aves e porcos.

Se a teoria do amigo Anderson Paes em "Crise econômica e novas doenças" de que a cada período de crise se sobressai uma doença, a Gripe Equina bem pode estar guardada nas mangas ou na cartola de algum líder mundial para desviar o foco da próxima quebradeira global.

E, se eu estiver com essa novíssima gripe, que a CIA não fique sabendo, pois a pegando antes do tempo, estrago os planos para o novo aperto universal.

Sem mais delírios, deixo o computador e vou direto ao termômetro e ao anti-térmico. Caso não volte a escrever, vocês já sabem...

sábado, setembro 26, 2009

Nem tanta sombra e água fresca

*Emanuelle Querino | emanuellequerino@hotemail.com

É só olhar para os lados e ver: a galera com mais de 60 anos está em todo lugar. Seja nas lanchonetes, em cursos, universidades, academias, nas praias e por aí vai. Por já estarem aposentados, na maioria das vezes, nossos vovôs e vovós estão com o tempo livre pra curtir a vida. E às vezes pode até dar inveja em alguns jovens, já que eles recebem um salário da Previdência Social, alguns de planos privados, e não precisam mais trabalhar, porque já trabalharam a vida toda.

E se você já começou a fazer as contas de quantos anos vai precisar trabalhar pra chegar lá, pode parar. A nossa geração vai ter um destino um pouco diferente, porque a população do Brasil está envelhecendo! Isso quer dizer que as pessoas mais velhas estão vivendo mais. E quanto mais idosos existem, mais o governo precisa pagá-los sem receber seus serviços, isso sem contar os custos com tratamentos médicos.

O sistema previdenciário foi inventado nos EUA. Lá, os beneficiados seriam as pessoas com mais de 65 anos. Mas a expectativa de vida era de apenas 62 anos. O brasileiro já espera viver mais de 72! A revista Superinteressante, mostra que o envelhecimento da população vai causar um prejuízo nove vezes maior do que a atual crise econômica está deixando. Imagina?

O “x” da questão

Um país é considerado em fase de envelhecimento quando 15% da população tem mais de 60 anos, ou 65, para países desenvolvidos. Pessoas mais velhas tem menos filhos também. Uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) feita no final do ano passado, indica que as mulheres tiveram uma média de 1,83 filho. Contemos um filho apenas ou no máximo dois.

Essa média é menor que a taxa de reposição, que é 2,1, e significa o mínimo de filhos que cada mulher no Brasil deveria ter para que a população seja mantida, dentro de 30 anos. E apresenta ainda que em 2030 nosso país deverá ter seu pico populacional, com aproximadamente 204,3 milhões de pessoas. Mas, logo em seguida, em 2035, já seremos apenas 200,1 milhões.

A Superinteressante ainda diz que em 2020 já começarão a faltar jovens em cargos especializados. O que vai acontecer? Nossos vovôs (que até lá, talvez serão nossos pais) precisarão voltar ao trabalho. Mas para isso não acontecer precisaríamos ter mais filhos. E por que isso não acontece?

Será que Elis estava certa?

Elis Regina cantava: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...”. Mas não é bem assim. A urbanização no Brasil, que começou a crescer a partir dos anos 60, trouxe mais pessoas para viver nas cidades e fez com as mulheres entrassem no mercado de trabalho. Só que a maioria delas além de trabalhar ainda precisa cuidar da casa, o que leva a uma diminuição no número de filhos por falta de tempo para cuidá-los.

A maneira de viver mudou e com os métodos contraceptivos fica mais difícil ter filhos. Apesar disso as mulheres já tem a opção de congelar seus óvulos, assim como os homens podem congelar seu sêmen, quando desejam ter filhos mais tarde. Seja quando estiverem com a vida profissional estável ou até mesmo mais perto da aposentadoria. Porém, talvez agora essa fase de descanso esteja ficando um pouco mais longe, já que, ao que tudo indica, aumente cada vez mais a idade mínima para o descanso merecido depois de tantos anos de trabalho.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Bicho Ahy


Autor: Eduardo Daniel
Local: Reserva Indígena de Imbiriba – Trancoso, Bahia (Brasil)
Ano: 2009

*Ahy é o nome da Preguiça em tupi-guarani

quarta-feira, setembro 23, 2009

E a ultrapassagem de Hamilton na última curva?

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Tudo parecia perdido em Interlagos no dia dois de novembro de 2008, até que uma multidão tomada de esperanças transformou o que era um mar vermelho de bonés e camisas da Ferrari, em uma imensidão branca composta por capas de chuva, fazendo um apelo por uma ajuda dos céus, que exibia nuvens e trovões. E a ajuda veio, quatro voltas depois, a seis do final do Grande Prêmio Brasil, a última prova da temporada.

Quando a chuva caiu forte, as chances de que algo surpreendente acontecer na última corrida do ano e, o título ficasse com o brasileiro Felipe Massa, levantou os milhares de amantes do automobilismo das arquibancadas. O que se viu a partir daí foi uma das maiores emoções vividas por todos os presentes no autódromo José Carlos Pace.

O que a televisão mostrou, todo mundo viu. O que se passou debaixo daquela chuva com sabor de esperança, só quem estava lá sentiu.

As ameaças de Sebastian Vettel ao quarto colocado Lewis Hamilton provocaram um verdadeiro clamor ao possível herói nacional encarnado no jovem e promissor alemão. Massa precisava vencer e o inglês da McLaren terminar ao menos em quinto. E a torcida surtiu efeito.

Atônitos, gritávamos todos sem emitir palavras inteligíveis. Faltavam três voltas para o final quando Vettel deixou Hamilton para trás e a perseguição do inglês virou implacável curva a curva. Ninguém mais estava calado. Ninguém estava sentado. Almofadas e bonés voavam pelos ares.

Poucos, no entanto, notaram que no caminho estava Timo Glock. Outro alemão. Um o herói. O outro, o vilão da história.

Eu com o rádio grudado no ouvido direito, o volume no máximo. Uma volta para o final. A cada metro o título de Massa se aproximava. Do setor A, com uma visão da entrada da reta de chegada vimos o ferrarista passar rumo à vitória.

No telão, a imagem de jubilo nos boxes da Ferrari era paradoxal ao que ouvíamos no rádio, de que Hamilton havia ultrapassado. Acreditávamos que era Vettel de quem falavam. Vettel passou por nós à frente de Hamilton e tínhamos certeza de que erraram no rádio. O delírio era contido pela dúvida apavorante. A notícia veio tão rápido quanto curta foi a sensação de termos de novo um campeão de Fórmula 1.

Se à frente dos televisores Brasil à fora, aconteceu choro, lá, em Interlagos, tudo ficou engasgado. O estado era de choque. Não teve palavra trocada com ninguém. Cada um catou suas coisas e avançou em direção aos portões. Nem os hinos brasileiro e italiano consolaram a multidão silenciosa que seguiu aos seus destinos debaixo de uma chuva que caiu ainda mais forte no final da corrida.

A corrida foi surreal. Coisa de filme. Quem lá esteve está irmanado com os “sobreviventes” do Maracanaço. Quem viveu pessoalmente o momento daquele domingo, conseguiu descobrir o que querem dizer aquelas testemunhas do silêncio de 1950. Foi emocionante. Foi triste. Temos agora dois heróis: Vettel e Massa, mas um Ghiggia, encarnado em Glock e Hamilton.

Nunca vi, falando daquela Seleção de 50, um vilão em Barbosa, o goleiro que morreu sem ser perdoado pelo Brasil. Prefiro sempre acreditar também que quando um árbitro erra em uma partida de futebol, não é por maldade, mas por falha da qual nós, os humanos, estamos constantemente à mercê.

Não suporto opiniões do tipo: “se o juiz desse aquele pênalti pro Santo André o São Paulo ia perder o jogo”. Discordo. O empate naquele momento poderia provocar uma reação no Tricolor Paulista para aplicar quatro, cinco gols.

Glock de fato não trocou seus pneus. Aquela corrida teve de tudo. Sol, chuva, tempestade, sol de novo e chuva de novo. Por não parar quando todos pararam há poucas voltas do fim, Glock se posicionou no pelotão da frente. Olhando do lado de fora é difícil imaginar que o piloto não pôde segurar mais uma curva ao menos e na reta pisar fundo sem problemas com os pneus inadequados.

Não posso acreditar que um piloto de outra equipe teria permitido uma ultrapassagem desleal para entregar a um terceiro o título mundial na bandeja, mas, depois de tudo o que aconteceu com o caso Renault, Nelsinho Piquet, Flavio Briatore, Fernando Alonso e companhia no GP de Cingapura do ano passado, uma apuradinha naqueles instantes finais da corrida em São Paulo não seria má idéia...

terça-feira, setembro 22, 2009

Honduras: pegaram o presidente de pijamas

*Emanuelle Querino | www.twitter.com/manuquerino

Uma confusão danada em Honduras. Você já deve ter visto alguma coisa na TV ou na Internet sobre isso, mas não é muito fácil de entender. Agora imagine lá, onde os meios de comunicação estão sob censura e a população nem sabia que tinha acontecido um golpe de estado. Só quem soube da novidade foi a pequena parcela da população que tem Internet e TV a cabo.

Honduras é um país muito pobre, com um dos piores índices de desenvolvimento econômico na América Latina. A economia é baseada na agricultura, de onde vem a maior parte da receita do país, gerada pelo trabalho de 4,8 milhões de pessoas.

O golpe aconteceu no domingo do dia 28 de junho deste ano. No dia 30 aconteceria um referendo proposto pelo presidente deposto, Manuel Zelaya, para saber se a população concordava em ter uma Assembléia Constituinte para fazer uma revisão na constituição do país. Mas existiam comentários de que isso era uma tentativa ilegal de derrubar uma lei que define que o mandato presidencial é de quatro anos, sem direito a reeleição. A Justiça, o Congresso e o Ministério Público decidiram que o referendo era inconstitucional.

Tanto a população a favor e a contra ao presidente começaram a fazer manifestações nas ruas da capital Tegucigalpa.

Confusão de objetivos

Zelaya diz que queria abrir caminho para uma constituição que favorecesse os pobres, (70% do país), e que o referendo era apenas para saber o que povo pensa. Por ser aliado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, existe o medo que ele queira instalar o mesmo populismo socialista no país da América Central.

Sua oposição diz que na verdade, o presidente queria impor uma nova constituição que permita a reeleição. E que ele só foi preso, porque descumpriu uma ordem judicial.

Como o presidente foi deposto

Imagine acordar com ao som de tiros. Depois você é tirado da cama por militares mascarados e levado, ainda de pijamas para o aeroporto da capital. Você nem sabe para onde está indo e ainda tiram seu celular! Foi isso que aconteceu com Zelaya, presidente deposto.

Na tarde daquele dia 28 o congresso de Honduras fez uma sessão de emergência e votou a saída do presidente. Também leram uma suposta carta de renúncia, a qual Manuel Zelaya nega ter escrito. O presidente do congresso, Roberto Micheletti, assumiu a presidência interina de Honduras. Algumas horas depois de uma briga feia entre os cidadãos a favor de Zelaya e a polícia, Micheletti deu uma entrevista a Rádio Nacional dizendo que "não houve golpe de Estado e nem nada parecido".

Ele quer que os outros países acreditem que a sua chegada ao poder está de acordo com a constituição. O problema é que todos os países da América são contra o golpe militar e querem que Zelaya volte ao governo. Sobre isso, o presidente deposto disse que "um governo roubado, que surge pela força, não pode ser aceito, não irá ser aceito por nenhum outro país".

Mas a Justiça e o Congresso de Honduras afirmam que o governo interino vai continuar até as eleições gerais, em novembro.

Solução?

Da fronteira com a Nicarágua, ao sul de Honduras, Zelaya pediu o apoio do povo e principalmente de soldados e oficiais de alto escalão, para que eles se rebelem contra a cúpula militar. "Há muita gente sofrendo dentro de meu país. Resistimos firmemente 28 dias e não tem havido um minuto de descanso até que os usurpadores saiam", disse o presidente deposto.

Oscar Árias, presidente da Costa Rica, propôs medidas para acabar com a crise política, porém um dos pontos do projeto é a volta de Zelaya ao poder, e esta é uma questão indiscutível para o Exército e para Micheletti. Eles não vão deixar o governo.

O que piora a situação: os países que antes eram aliados agora começam a cortar auxílios a Honduras, que por ser muito pobre, precisa deles, principalmente em meio a crise econômica mundial.

Últimas informações

Manuel Zelaya conseguiu retornar ao país e está abrigado na embaixada brasileira. O presidente deposto diz que seu lema agora é “pátria, restituição ou morte”.

Nesta manhã a embaixada já estava sem energia elétrica e água. Houve conflito entre o exército do governo interino e manifestantes pró-Zelaya nos arredores da sede diplomática do Brasil.

A situação agora também é delicada para a diplomacia brasileira.

segunda-feira, setembro 21, 2009

'Brasil, meu Brasil brasileiro'

*Emanuelle Querino | www.twitter.com/manuquerino

Você conhece bem a cultura e os costumes brasileiros? Os problemas sociais, conflitos históricos, as lendas e as diferenças desse nosso país continental? Falamos sempre da importância de conhecer outras culturas, saber como e porque o mundo gira e as coisas acontecem. Mas hoje o assunto é outro e bem mais perto de você.

Filmes como Estação Carandiru, Pixote e Cidade de Deus representam problemas sociais com raízes na colonização. Não dá pra achar que a violência e o tráfico de drogas em comunidades onde o Estado não tem mais controle sejam culpa apenas dos governos atuais. Não tem como assistir a esses filmes e não pensar no porque de tanta diferença social.

Quando acabou a escravidão, em 1888, os escravos não tinham onde morar, onde trabalhar e nem sustento. Foram obrigados a ir morar mais longe dos centros e começaram a criar grupos que precisavam das suas próprias regras e autoridades. A ideia de liberdade é muito bonita e justa, mas o Brasil precisava de planejamento para receber os novos cidadãos.

“Gigante pela própria natureza”

Quando ouvimos que o Petróleo é nosso, o Pré-sal é nosso, o Biocombustível é nosso, a Amazônia é nossa, estamos fazendo uma relação com a frase de Getúlio sobre o petróleo brasileiro, lá em 1930. Os tempos mudam, os valores também e acabamos sem saber a origem e os motivos de vivermos neste tipo de sociedade. Vale lembrar que somos uma nação que foi colonizada e explorada. Nossas riquezas eram todas levadas para a Europa. Quando a Corte voltou para Portugal ainda levou todo o ouro e dinheiro que tinham guardados aqui.

De fora parece que no Brasil é sempre tudo muito bom. E é uma pena que poucas pessoas se deem conta de que é preciso prestar atenção na política para não deixar que as coisas que são decididas hoje se tornem um problema amanhã.

É importante preservar e valorizar a cultura brasileira. E só estudando é que vamos conhecer porque as coisas acontecem de um jeito no norte e de outro jeito no sul. Por que a forma de governo que temos é assim? Por que temos este tipo de ensino? Como cada região resolve seus problemas.

Conhecer a sua cidade, o seu estado e o seu país é o primeiro passo pra entender os problemas que eles têm. Assim como é preciso conhecer a fórmula do veneno para fazer o antídoto, você só vai poder argumentar suas soluções para a sociedade se souber por que as coisas são assim.

sábado, setembro 19, 2009

Prova oral

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Não existe viva alma que tenha estudado na Escola Técnica Diomício Freitas, em Tubarão, no Sul Catarinense, entre o final dos anos 80 e meados dos 90, que desconheça a história de uma professora que foi flagrada aplicando uma “prova oral” em um professor na biblioteca do colégio.

Uma lenda? Certamente jamais teremos a comprovação. De todo modo, íamos à forra quando a professora: uma morena, balzaquiana à época, baixinha, sempre com decotes provocantes, de sardas castanhas em seu peito alvo e um perfume que a seguia pelo imenso corredor da escola. Não era bonita, mas quem a visse de costas era capaz de trocar um reino por uma encostada bem dada.

Pois a pobre sofria a perseguição dos endiabrados do fundão, entre eles, este insignificante escriba. Gracejos e trocadilhos com seu nome eram proferidos por aqueles que não temiam baixar o calão nem ter seu nome eternizado na lista negra da escola.

Para nós, no auge das manifestações hormonais, pouco importava se não existia uma testemunha ocular da história para contar e comprovar ínterim por ínterim o acontecido. Todo mundo sabia e se todo mundo sabia, era verdade.

O que aconteceu naquela biblioteca entre os dois amantes professores, deve ter deixado Aurélio Buarque de Holanda sem palavras, com seu dicionário recheado de expressões adormecidas no ostracismo.

Os tomos didáticos de Geografia não descreveriam tão bem os relevos dos corpos; os de Matemática, não calculariam as chances de serem pegos; os de Língua Portuguesa, não encontrariam regras para os monossílabos emitidos em uníssono; os de Ciências, enfim, não seriam capazes de medir os níveis de adrenalina no coração do casal de docentes amantes.

Os volumes e verbetes das enciclopédias dividiram-se entre os horrorizados e os entusiasmados. Gritinhos de revolta e regozijo ecoavam das páginas mordiscadas pelas traças oportunistas.

O canhoto Machado de Assis, ao lado de Brás Cubas, Capitu, Quincas Borba e companhia, emudecidos, acompanhavam sem desgrudas os olhos do despudor no educandário.

Graciliano Ramos tivesse visto antes aquele destempero sexual, provavelmente mudaria o título de seu Memórias do Cárcere para Memórias da Biblioteca. É possível que até a cachorra Baleia, o animalzinho de estimação da família de Fabiano, flagelados pela seca, tenha sentido as faces ruborizadas com a cena.

Nem dona Flor, Tieta e Gabriela resistiram e pararam para assistir, ao lado, é claro, de Jorge Amado.

Antonio Conselheiro, seus seguidores e Euclides da Cunha, devem ter ficados estarrecidos com os descaminhos da República. Erguerem suas toscas armas e bradaram pela Monarquia uma vez mais.

Nelson Rodrigues, antes que esqueça, foi um dos poucos que se deliciou com o que viu. Só faltou para ele, um marido traído e uma vingança à bala.

O médico, diplomata e escritor Guimarães Rosa, com o sertanejo Riobaldo e o chefe dos jagunços Diadorim, teriam novidades para levar aos sertões dos muitos Brasis.

Nem a previsão fúnebre da cartomante ou a tuberculose da infeliz retirante Macabéa foram mais fortes que o choque tomado por ela e Clarice Lispector naquele instante memorável.

Dom Quixote e menos ainda Cervantes, viram tamanha fábula em todas as peripécias errantes do cavaleiro castelhano.

Talvez apenas o Senado brasileiro consiga repetir segredos que repetem aos ventos como verdade, mas ninguém prova nada, como fizeram aqueles dois professores há vinte e tantos anos. Estão aí os atos secretos que não deixam meu nariz crescer. Por debaixo dos tapetes, entre cochichos ao pé do ouvido atrás de portas trancadas, tem senador que nomeia, desnomeia, manda e desmanda.

Democracia nem sempre significa transparência. De lendas anunciadas e jamais comprovadas, apuradas ou investigadas, o Senado está cheio. Assim como com aqueles dois pobres professores que sofreram por uma carreira com piadinhas infames, vamos rindo dos políticos, sem nos preocuparmos com as verdades escondidas e o resultado do jogo, na maioria das vezes, favorável a eles, que seguem em seus atos secretos e sacanas.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Uma revolução no seu bolso

*Emanuelle Querino | www.twitter.com/manuquerino

Você já deve ter percebido que a tecnologia está tomando conta da nossa vida e a gente não está nem percebendo. Se falta energia uma hora é uma agonia, não dá pra ver TV, tomar banho, acender as luzes, muito menos usar o computador. Mas tem um aparelhinho chamado celular que continua funcionado, porque ele usa bateria (o problema é se ele ficar sem bateria, porque vai precisar carregá-lo na tomada).

E com o celular você pode assistir TV, acessar a Internet, e até usar o MSN. Sem contar com a câmera, que pode até ter flash, os joguinhos e as músicas em MP3, vídeos e tudo o mais. E como dizem por aí, dá até pra telefonar! Se você estiver com um celular num lugar sem luz, já tem bastante coisa pra fazer.

Li que os inscritos no Enem que informaram o número do seu celular irão receber o número de inscrição por mensagem de texto, ou SMS. O Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais) está analisando a possibilidade de enviar o número e o local de prova por e-mail. Mesmo assim, todas essas informações ainda serão enviadas pelo correio, até 25 de setembro.

E quem não receber pode ainda acessar o site do Enem com a sua senha e CPF, pra conferir tudo certinho lá. A ideia é mesmo enviar a informação por todos os meios possíveis. Não tem desculpa pra perder a prova. Informação é o que não falta.

Apenas um celular

E, por falar em informação, estamos na era dela. Hoje podemos saber o que está acontecendo do outro lado do mundo por uma informação enviada em 140 caracteres, pelo Twitter. Foi isso que permitiu que o mundo todo soubesse o que estava acontecendo no Irã, no dia 13 de junho.

Depois da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad milhares de pessoas foram pras ruas protestar contra o resultado da votação. Foi considerada a maior onda de protestos desde a Revolução Islâmica em 1979. Para cobrir as eleições, 650 jornalistas estrangeiros estavam em Teerã, a capital. Mas ninguém estava transmitindo porque todas as credenciais da imprensa foram canceladas.

Acontece que a população, sabendo que no mundo que vivemos se dá muito valor à imagem, começou a tirar fotos, fazer vídeos pro Youtube e postar tudo na rede através dos celulares. E tudo isso ia crescendo no Twitter dos iranianos. A hashtag, ou marca nas mensagens pra identificar o assunto, #iranelection (eleições do Irã) tomou conta dos microblogs.

Parando pra pensar, o governo iraniano só poderia bloquear as manifestações para o mundo se cortasse as redes de telefonia. Mas a preocupação era com a mídia tradicional, principalmente a televisão. A informação hoje já ultrapassa todas as barreiras. Se dizem que quem detém a informação, detém o poder, os manifestantes foram além das suas fronteiras, pra mostrar o seu poder pro governo.

Quando Martin Cooper inventou o celular em 1973, nem imaginava que ele pudesse ser tão importante na manifestação do pensamento de um povo. Um pequeno aparelho se transformou em uma ferramenta que mantém sua função original, que é transmitir uma informação pra alguém. Mas hoje essa comunicação não se limita a apenas um telefonema. O mundo pode te ouvir, ver, ler e ainda responder. Você tem uma arma na mão e nem sabia, né? Nem eu.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Fotografe uma Ideia #2


Autor: Francine de Mattos | www.twitter.com/fotografe
Local: Barra Velha, Santa Catarina (Brasil)
Site: www.fotografeumaideia.com.br

Deixe sua sugestão de título para a imagem.

Ouro negro: o petróleo do pré-sal

*Emanuelle Querino | www.twitter.com/manuquerino

Se você está ligado no noticiário já deve ter ouvido falar no pré-sal, que tem alguma coisa a ver com petróleo e gás, e que tem alguma coisa que está fazendo com que isto seja assunto de discussão no Congresso e no país inteiro. Quer saber o que é essa coisa? Dinheiro.

O petróleo que é encontrado depois do pré-sal tem as qualidades preservadas. O pré-sal é uma camada que fica há mais de 7 mil metros de profundidade, abaixo do mar, se estendendo por 800 quilômetros do litoral brasileiro. Essa extensão vai desde o Espírito Santo até Santa Catarina. Faz parte três bacias sedimentares: Santos, Campos e Espírito Santo.

Outros campos de petróleo já foram encontrados no pré-sal, o principal é o de Tupi. A diferença é que a nova descoberta indica que existe muito mais petróleo naquela área. A Petrobras acredita que Tupi tenha entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo, mas os novos cálculos indicaram que essa capacidade pode ficar entre 12 e 30 bilhões de barris.

“Moro num país tropical, abençoado...”

Agora veja, o Brasil produz pouco mais de 13 bilhões de barris por ano (dados da ANP – Agência Nacional de Petróleo). Com a exploração das novas reservas poderia até dobrar a produção de óleo e gás. Ficaríamos entre os 10 países mais produtores do mundo. É uma sorte grande!

Acontece que a Petrobrás ainda não tem certeza dessa capacidade. E isso não permite que se saiba ao certo quando vamos poder começar a extrair e quanto dinheiro iremos lucrar. Iremos, ou irão. Ainda não se decidiu como será a exploração.

Como existem diversas possibilidades de lucro, e a grana que vai rolar é bem alta, a área do pré-sal não vai ser leiloada antes da definição da nova Lei do Petróleo. O governo tem falado em investir os lucros na educação, como forma de reverter o benefício para os mais pobres. Para a exploração, fala-se em criar uma nova empresa estatal – a Petrosal. E esta, então, contrataria outras empresas petrolíferas para dividir os custos, já que este tipo de negócio é muito caro.

E toda essa indefinição só causa discussão, porque cada estado quer receber o chamado royalty, que são os direitos sobre a posse. Se há petróleo no seu terreno, você tem direito de receber uma porcentagem do lucro, porque o que existe abaixo da terra é, por lei, da união.

Mas muita água, ou muito petróleo, ainda vai rolar até o fim dessa história.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Crise econômica e novas doenças

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

Entre 1981 e 1983 o mundo passou por uma forte crise econômica. Na América Latina falava-se em moratória e o México puxava a fila em um de seus períodos mais graves. A crise do início da década de 80 também chegou ao Brasil, o assunto por aqui era a dívida externa impossível de se pagar e a inflação – a renda per capita despencou.

Naquele ano de 1983 um vírus originário dos símios foi identificado por franceses e portugueses, estava desvendado o causador da síndrome da imunodeficiência adquirida – a AIDS, na sigla em inglês. O sistema imunológico humano não soube combater o invasor e a esperança para os que contraem a doença ficou nas mãos dos laboratórios e seus coquetéis de alto preço. A crise passou e a AIDS alcançou o mundo todo, silenciosamente. Matou todo tipo de pessoa, independente de sexo, raça ou classe social.

Os anos 80 passaram, o muro de Berlim caiu, a Guerra Fria acabou e lá estávamos em 1995 quando uma nova crise ameaçou se formar e desestabilizar o sistema econômico. No Brasil, esta quase-crise fez com que alguns bancos fossem vendidos e outros fechassem – Nacional, Bamerindus, Econômico, por exemplo. No ano seguinte, uma doença rara e mortalmente rápida reapareceu na África central: o ebola. Dessa vez a crise não aconteceu de fato e passou, como o vírus, de forma bastante rápida. Mas não sem antes espalhar o medo pelo mundo.

Entre 1997 e 1999 breves doses de novas crises, mas foi possível chegar com certa tranquilidade ao novo milênio. Veio o medo do Bug do ano 2000, queda nas bolsas; em 2001 o atentado do dia 11 de setembro e um mundo preocupado com a segurança, no mesmo ano os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e dois anos depois o Iraque também estava explosivo – o que resultou no alto preço do petróleo. Nos anos seguintes a Ásia balançou, a crise voltou a atingir América Latina, a Rússia e chegou à Europa. Foi nessa época que a gripe das aves foi identificada em humanos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou o mundo para o risco de uma nova pandemia, gastou-se milhões com remédios e vacinas. Possivelmente o dinheiro que circulou devido ao medo do terrorismo e da “nova” gripe tenha contribuído para reanimar o mercado internacional nesse começo de século. A tempestade passou, veio a calmaria.

E tudo ia bem até o ano de 2008, quando uma nova crise chegou. Todos os jornais do mundo noticiaram o infeliz momento da economia global – cada vez mais integrada e virtual. Bancos quebraram, empresas pediram ajuda aos governos, as maiores economias do mundo entraram em recessão. Dessa vez, os países em desenvolvimento sentiram menos o impacto da crise e continuaram a vida a seu modo. Foi quando, no México, uma nova doença foi identificada: a gripe suína – mais tarde chamada de Influenza A, H1N1. Logo o medo da pandemia estava na cara das pessoas, nas capas dos jornais, nos anúncios da TV. O vírus alcançou as maiores cidades do mundo em pouco tempo, mas se adaptou mesmo foi ao inverno gelado dos países do hemisfério sul – milhares de casos registrados na Argentina e no Chile.

A gripe, apesar de ter tirado a vida de muita gente, gerou dinheiro e emprego – como todas as outras doenças e guerras que conhecemos. Os governos dos países atingidos ou não, pelo vírus, passaram a comprar grandes doses de medicamentos e acessórios para uma possível “prevenção”. O dinheiro do mundo voltou a circular. O comércio exterior não parou como ameaçava meses antes. Mais uns meses e alguns países saíram da recessão. E a melhor notícia: a vacina está quase pronta para o uso, em tempo de impedir que a gripe alcance os países do hemisfério norte durante o inverno que está por vir.

Mais uma vez a crise dá sinal de que logo vai passar – já é possível ver no noticiário que algumas economias mundiais saíram do vermelho –, e o número de casos de gripe tem diminuído por aqui.

Revendo o passado, ligando os pontos, pode-se pensar numa relação entre economia e saúde – não é de hoje que esses dois assuntos andam juntos. A gripe espanhola, por exemplo, foi identificada logo após a Primeira Guerra Mundial por volta de 1918. A gripe aviária, na Ásia, já havia aparecido nos anos 60 – durante a disputa Estados Unidos x União Soviética e as guerras no Vietnã e na península da Coreia. O ebola também já havia afetado alguns povos da África no ano de 1976.

Talvez nossa História seja mesmo cíclica – com umas poucas mutações.

terça-feira, setembro 15, 2009

Será que chove?

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

De assunto para quando não tínhamos assunto, a preocupação com o tempo virou destaque nos noticiários de todo o país. A previsão do tempo ganhou chamada em bloco anterior de telejornal e manchete na escalada das notícias.

São os fenômenos climáticos novos que dão as caras no Brasil ou é a televisão que chega aonde não chegava antes e mostra o que não mostrava?

Vivo no Sul de Santa Catarina. Nosso estado nunca foi tão noticiado como agora. Inclusive minha cidade, Tubarão, com imagens de um tornado no Fantástico. Nem por isso, vivemos aqui num clima de pavor como devem pensar os brasileiros do resto do Brasil.

Mesmo assim, se você jogar a pergunta despretensiosa no ar “se vai chover” quando o assunto acabar, terá como resposta não apenas palpites, mas previsões embasadas em termos técnicos. A maioria por aqui tem o seu meteorologista preferido e o defende com ardor religioso.

Antes era a música do Plantão da Rede Globo que calava todos na sala. Hoje é uma mulher com pinta de atriz em frente a um mapa recheado de sóis e nuvens que rouba a atenção para a, como diria Sérgio Porto na pele de Stanislaw Ponte Preta, “máquina de fazer de doido”.

Se já tínhamos em cada um de nós um pouco de técnico de futebol, médico, louco, engenheiro aeronáutico, perito criminalista, advogado e jornalista, agora temos também em nosso ego um meteorologista.

E os meteorologistas de diploma na parede, tornaram-se estrelas. Dão entrevistas ao vivo em jornal de audiência nacional e ganham retratos nas capas dos periódicos impressos.

A previsão do tempo que antes roubava parcos minutos do nosso dia, hoje leva no bolso um quadro inteiro de qualquer programa de televisão. Conglomerados da mídia criaram sites especializados para tratar do tempo, com bate-papo on-line entre internautas e especialistas do tempo.

Há que se abrir um parêntese quando temos uma ameaça real de tempestade violenta, mas daí a tornarmos paranóicos pelo assunto? Daqui a pouco, neste mundo do politicamente correto, ninguém mais toma banho de chuva.

— Deus me livre! Com essa poluição? E se eu gripar? Pode virar Gripe Suína.

Bons tempos eram aqueles em que éramos rebeldes até em relação ao clima. A gente sabia que se nossa mãe mandava levar uma blusa porque ia esfriar ou um guarda-chuva porque ia chover, era batata, ia esfriar, e ou, ia chover. Mesmo assim tínhamos coragem de bater no peito e rasgar a garganta para desafiar:

— Não vai não, mãe.

E voltávamos encharcados. Encharcados e com a alma liberta.

Nem o tio Bartolomeu tem mais lugar com sua previsão tradicional. Meu velho parente anda cada vez mais cabisbaixo. Quem, diabos, vai trocar uma Rosana Jatobá, uma Flávia Freire, uma Flávia Alvarenga, por uma fisgada na cicatriz da apendicite aguda extirpada do abdômen do pobre aposentado há pelo menos quatro décadas?

Ah, e não esqueça o guarda-chuva se for sair de casa, que vai chover!

segunda-feira, setembro 14, 2009

O homem que queria voar

*Thiago Schwartz | www.twitter.com/perereco

A ilusão tomou conta daquele coração tão puro e cheio de esperança. A ilusão de um futuro longe dos que lhe faziam algum tipo de mal.

Entorpecido por essa ilusão, ele voa. Para longe, para algum lugar desconhecido. 

Longe, onde nem os pássaros conseguem voar, onde nem o Sol consegue mostrar sua luz. Ele voa. Lágrimas secas pelo vento. Tudo lhe vem à cabeça. Sonhos, esperanças, mentiras, amores. 

Nada faz sentido. Ele está cansado e enojado daquilo. Ele quer descanso. Ele só quer voar... 



Você pode ouvir? São as vozes que invadem sua cabeça. Mandam-lhe fazer coisas que ele nem sempre gosta. Coisas que ele nem sempre faz, e por isso as vozes lhe castigam. Ele se retorce de culpa, de dor, de saudade.

Mas agora é muito tarde. Ele já as ouviu. Ele interrompe seu voo. Chegou a um lugar claro como o luar. Ele está sozinho, mas não se sente assim. Uma sensação diferente toma-lhe conta. Não é uma sensação boa, nem ruim, apenas diferente. Logo que se acostuma com a sensação, vem a ele uma mulher. Roupa branca, cabelos loiros, compridos, enorme sorriso de dentes alvos. Tem na mão um pedaço de papel. Escrito no papel, uma sentença. Ela lê para ele. Com voz doce e macia, pronuncia a palavra "Culpado". As vozes estavam certas, não há perdão para os que fogem. 



No Paraíso não há dor, apenas a ausência do homem que queria voar.

sábado, setembro 12, 2009

O que houve com o futebol argentino

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

A Revista Super Interessante deste mês trás dados de pesquisadores que apontam uma redução considerável no número de mortes decorrentes de conflitos armados. No século 21, aproximadamente 250 mil pessoas morrem por ano em conseqüência destes entraves. Na segunda metade do século 20, morriam cerca de 800 mil por ano, vítimas de escaramuças e até 1950 morreram 3,8 milhões por ano em função das guerras.

Para o psicólogo da Universidade Harvard, Steven Pinker, o que ajudou para a diminuição destes números foi o aumento da democracia, a nossa saúde – com uma expectativa de vida maior, temos menos ímpeto de morrermos jovens – e a globalização. “Um mundo mais integrado é um mundo mais tolerante”, destaca Pinker.

Os jogos dos argentinos contra Brasil e Paraguai foram demonstrações tristes de um futebol decadente e essa corrosão é em grande parte, devido à globalização. Hoje os jogadores rioplatenses jogam com os demais em grandes clubes da Europa, incluindo-se aí, para desgosto dos platinos mais garridos, times ingleses.

Essa amizade e influência fizeram extinguir-se do futebol o jogador cabeludo, mascarado e mal-encarado. Em dois clássicos do futebol latino de suma importância para uma vaga à próxima Copa do Mundo, a Seleção Argentina se comportou como um time de dondocas. Não fez catimba, não cuspiu e nem chutou nenhum adversário.

Nossos vizinhos já não são mais um mistério latino com perfume europeu. Os brasileiros agora retribuem as visitas que eles nos fazem lotando voos para Buenos Aires e Bariloche. No verão, não vemos mais aquela invasão de carros caindo aos pedaços. Sua frota melhorou. Nem parecem os mesmos.

Com essas mudanças o futebol argentino foi perdendo a graça. Aquele futebol de guerrilha, de torcida fanática, de jogador puro sangue, foi guilhotinado em nome da globalização. São apenas os clubes da república do Rio da Prata que continuam intocáveis em sua raça.

O futebol argentino tem que ser como um fado de Amália Rodrigues, um tango de Gardel, um choro de Pixinguinha, um lamento de Nelson Gonçalves, um conto de Nelson Rodrigues, uma poesia de Baudelaire ou um samba de Vinicius. Tem que ser pesado como o direto do boxeador e leve como o plié da bailarina. Triste para ser bonito. Tem que sofrer para vencer.

A eliminação da Argentina para a próxima Copa do Mundo, pode servir como o exorcismo de dois fantasmas: a conquista do Mundial de 1978 com a suspeita goleada de 6x0 contra um eliminado Peru, tirando as chances do Brasil ir à final e a Copa de 86, com o célebre gol de Maradona e “la mano de Dios”.

Não pensem, porém, que seria o fim para los hermanos. A Copa de 2014 será aqui e não tenho a menor dúvida de que eles fariam das tripas coração para ir à forra em terras tupiniquins.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Desde aquele dia 11

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

Já passava das 9h quando fui acordado com aquela agitação pedindo que ligasse a TV. Abri os olhos, meio perdido, e apertei o botão vermelho do controle remoto. Na tela um avião acabava de atingir um prédio em Nova York. Logo depois, outro. O edifício se desfez e queimou de um jeito que pôde ser visto até do espaço.

Passado o momento trágico do plantão da semana, soube que encontraram no meio de tudo aquilo que caiu e queimou, o passaporte de um dos sequestradores do avião. Parece que o tal cara tinha ligações com uma organização chamada AlQaeda – que não era tão conhecida como é hoje. Algum tempo depois era o 43º presidente dos Estados Unidos que falava do assunto e dava nome aos bois. George Bush, o filho, dizia que Osama bin Laden era o líder daquela organização e, agora, o inimigo público número um.

Iniciavam ali uma nova cruzada. Tempos depois o contra-ataque começava. O Afeganistão estava cheio de soldados, alvos errados atingidos, destruição e gente pulando o muro na fronteira. O Iraque também virou alvo. Sob a hipotética ameaça de armas químicas – nunca encontradas – Saddam Hussein foi caçado e morto, enforcado no dia 31 de dezembro de 2006. A democracia foi imposta e quase funciona até os dias atuais – com eventuais ataques explosivos. As bombas pipocando em Bagdá ou em Cabul foram das mais impopulares e, hoje, oito anos depois, o inimigo continua desaparecido.

O tal Osama nunca foi encontrado. De vez em quando novos vídeos em que ele discursa aparecem na grande mídia. “Exclusivo! Osama diz...”, isso me lembra aquele filme Mera Coincidência (Wag the Dog, 1997), onde Robert De Niro interpreta um marketeiro contratado para que o presidente não perca as eleições por conta de um escândalo. A solução, no filme, foi criar uma guerra fictícia na Albânia – com personagens feitos para ganhar o público.

Aquela história iniciada em 11 de setembro de 2001, longe das teorias conspiratórias que vemos por aí, foi encerrada com um fade-in sobre a histórias das vítimas – do atentado e das guerras –, os créditos subiram e restou uma certa dose de suspense quanto ao que aconteceu com o cara-mau ficou no ar.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Toda ajuda será bem-vinda


Título: Toda ajuda será bem-vinda
Autor: Tiago Tavares | www.twitter.com/tavarestattoo
Site: http://tavarestattoo.blogspot.com/

terça-feira, setembro 08, 2009

Vamos torcer o pepino!

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Assisti, noites atrás, ao filme Sonhadora – assim mesmo, sem o artigo “a”. A trama retrata uma história baseada em fatos reais. Tudo começa quando uma égua de corrida, a Sonhadora, sofre uma séria lesão em uma das patas, durante uma prova e, seu dono, um ricaço sem escrúpulos ordena o seu sacrifício. O treinador do equino e seus ajudantes insistem que podem salvá-la. Desafiam o patrão, são demitidos e topam receber o que tem em atraso em troca do animal condenado.

Claro, não estou aqui para estragar o final do filme e contar que a égua se recupera e vence um prêmio milionário, montada pelo jóquei fracassado que até então apenas lhe montava nos treinos.

Neste belo filme, me chamou a atenção uma garotinha de uns dez anos. Ela mora no haras de seu avô, um conhecido e talentoso ex-treinador de cavalos de corrida. A menina sofre porque aquele é o único estábulo da região que ironicamente não tem um cavalo sequer.

O pai da menina vive de mau humor. Não encontra mais prazer na profissão que herdou do pai. Pai e filho, por sinal, não se entendem. Os filmes americanos adoram retratar esses problemas familiares, tanto quando adoram filmes que terminam em aplausos. Mas ainda não é sobre isso que quero falar.

É a teimosia da menina que chama a atenção. Antes da corrida em que a égua se fere, ela aborda o pai tentando escapar da promessa de levá-la junto à prova. A sua presença e seu olhar extremamente duro para uma criança de sua idade fazem o pai abrir mão do emprego em nome de um desafio praticamente perdido.

De tanto insistirem, eles recuperam a égua e, o que é mais inusitado, conseguem uma vaga para uma das corridas mais importantes do país. O antigo dono do animal oferece um bom dinheiro pelo animal de volta. Uma quantia que não chega aos pés da recompensa pela vitória na mencionada corrida. Mas, como diria meu tio Bartolomeu do alto de sua sapiência, “mais vale um pombo na mão, que dois avuando”.

O magnata chega esnobando e faz a oferta ao pai de menina. Ela sentada, de braços cruzados. O pai dá às costas. O antigo dono do cavalo vai ao avô. Ele ouve calado e apenas diz: “o cavalo agora é dela”. O vilão da história vai a ela. A garota se levanta. Os braços seguem cruzados. São segundos de suspense.

Não! Irredutível e com uma firmeza de caráter invejável, a menina, assim como qualquer criança, nos dá uma lição de moral, ética e compromisso.

A petulância daquela garotinha e a sua persistência deveriam ser valores perseguidos por todos nós. Com o tempo estragamos as nossas crianças lhes enquadrando nos patrões sociais da sobrevivência.

Ainda sonho ver a Ana Maria Braga levando crianças para julgar seus pratos. Não uma só, que pode se inibir, mas uma turma inteira de quarta série.

Não que as crianças não mintam. Elas mentem sim. Mentem quando querem um carinho, um colo ou um lugarzinho no meio do pai e da mãe na cama do casal. A diferença entre elas e os adultos é que os pequenos não escondem o que pensam se querem expressar seus sentimentos. A auto-censura não comanda suas vidas como comanda a nossa. Elas jamais entenderiam o quanto de veneno pode existir em um tapinha nas costas.

Por sentimentalismos, quando aceitamos as mentiras inocentes das crianças e lhes respondemos com afagos suas pequenas armações, podemos estar plantando uma sementinha que ira germinar anos mais tarde em troca de votos, de favores e de vantagens ilícitas.

Vamos dar carinho ao nosso futuro, mas vamos deixar claro que sabemos da malandragem. Bem como diz o tio Bartolomeu, dono de uma autenticidade ímpar e um profundo conhecedor dos nossos ditos: “é de cedo, que se torce o pepino”.

segunda-feira, setembro 07, 2009

7 de Setembro graças a Napoleão

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

No ano da França no Brasil, os brasileiros não podem esquecer de agradecer a independência celebrada neste 7 de Setembro a um francês com ímpeto conquistador, tão desconhecido de nós como nossos próprios heróis e vilões: Napoleão Bonaparte.

Quando Napoleão escreveu em suas memórias, pouco antes de morrer desterrado na Ilha de Santa Helena, “foi o único que me enganou”, referindo-se a Dom João VI, rei do Brasil e de Portugal, deixou a impressão de que entre os últimos suspiros do imperador e general da França no fatídico dia 5 de maio de 1821, ouviu-se a exclamação delirante de Brésil.

Napoléon Bonaparte, nasceu em Ajaccio, na Córsega, em 15 de agosto de 1769. Em poucas palavras, suas conquistas tem início em 1794, quando toma parte do cerco de Toulon e teve sucesso na campanha da Itália, em 1796. Depois, seguiu para o Egito e conquistou o Cairo e Alexandria, em 1798. Voltou à França e deu o golpe de Estado de 18 Brumário, a Revolução Francesa, em novembro de 1799: assumiu o poder como primeiro cônsul e, logo depois, como cônsul vitalício de República. Em 1804, tornou-se imperador, com o nome de Napoleão I. Casou-se em 1809 com Maria Luisa, arquiduquesa da Áustria. Com seus exércitos, derrotou os austríacos, apoderou-se de Nápoles, subjugou e reorganizou a Alemanha, venceu a Prússia, invadiu a Espanha e Portugal, e em 1812 chegou até Moscou. Em solo russo, o inverno foi o seu adversário mais violento. Todos os países da Europa se uniram e venceram Napoleão em Fontainebleu. Bonaparte foi expulso para a Ilha de Elba e retornou para a campanha dos 100 dias. É então vencido na famosa batalha de Waterloo pelo Lord Wellington, sendo exilado na Ilha de Santa Helena.

Em acelerada expansão territorial de seu império, Napoleão colocou seus olhos de lince na pérola da coroa portuguesa: o Brasil. Em 1807 invade a metrópole lusitana com a intenção de aprisionar a Família Real Portuguesa e força-la a abdicar do trono, como faria depois com Fernando VII e Carlos IV da Espanha. Dom João, então príncipe português, com muito jogo de cintura, conseguiu tapear Napoleão e os aliados ingleses e numa manhã chuvosa e lamacenta de 29 de novembro, embarcou todos seus entes queridos, amigos mais chegados e uma caravana de 15 mil súditos, entre comerciantes ricos, nobres, clérigos e juizes.

O Brasil, de uma colônia de luxo, passa a reino, com o aparato governamental e a estrutura que a elite portuguesa exigia aos seus. O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves perdura entre 1816 e 1826. A Revolução de 1820 em Portugal, força a corte lusitana a voltar para a beira do Tejo. Dom Pedro I, no entanto, fica. O Brasil, até a independência em 1822, voltou a se tornar outra vez uma colônia.

Exilado em Santa Helena em 1815, Napoleão, morto em 1821, não chegou a ver o seu sonho de império além-mar, independente. Passou os últimos anos de vida com um pequeno grupo de seguidores que ouviam suas memórias. Bonaparte teria morrido envenenado por arsênico, encontrado em suas roupas, cabelos, pratos, talheres e móveis de sua última casa. Ou ele teria sido assassinado lentamente, ou essas doses do veneno foram ministradas no combate a um câncer de estômago, através de um remédio da época que continua arsênico em sua constituição.

Ainda guardada em algum mistério, a “descoberta” do Brasil pelos portugueses é alvo de críticas da maioria dos brasileiros. Muitos desejam abertamente que gostariam de ter sido colonizados por ingleses, holandeses e espanhóis. É preciso fazer uma pequena viagem no tempo para lembrar o que aconteceria com o Brasil se uma dessas metrópoles atracasse aqui suas naves.

Se fossemos colonizados por ingleses, não seriamos sombra do que são hoje os Estados Unidos. Lá o clima era propício à instalação dos lordes. Também o processo de abolição da escravatura seria dado muito mais tarde. Os ingleses não se meteram na causa em favor dos africanos por mero humanismo. Existia o interesse comercial na concorrência contra Portugal, suas metrópoles e o comércio privilegiado com o Brasil.

É no continente africano, aliás, que estão expostas os exemplos das colonizações de ingleses e holandeses em terras tropicais. Não me resta dúvida de que o Brasil seria uma nova áfrica e nossos índios serviriam como escravos na América do Norte e Europa. Estaríamos divididos em diversos países que abrigariam tribos inimigas e separariam aliadas. Tornaríamos-nos independentes somente nos anos 60 ou 70.

É em republiquetas, por sinal, que estaria o Brasil se fossem os espanhóis os primeiros donos civilizados desta terra. Vide nossos vizinhos latinos.

E o mais importante: o Brasil não seria a casa de uma corte, não se tornaria um reino, porque mesmo que Napoleão invadisse a Holanda, a Inglaterra ou a Espanha, com o fez, nenhum de seus reis aportariam neste canto sub-equatorial. Se já nos achamos atrasados, imaginem se não fosse Napoleão e Dom João?

Essa herança dos fatos que acontecem por uma força do destino deve estar em nossos sangues até hoje, refletidas em nossa mania de “deixar tudo para a última hora”. Começou em 1807, quando Dom João fugiu de Lisboa com a tropa de Napoleão divisando a Torre de Belém e, passou pela frase de Maria Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, antes do famoso grito de “Independência ou Morte”: “o pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece”.


Sugestão de leitura
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca,um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil.
SALLES, Iza. O Coração do Rei.
ZWEIG, Stefan. Brasil, um país do futuro.

domingo, setembro 06, 2009

Ouviram do Ipiranga e nem mais um pio

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

O Dia da Independência é só mais uma folga no calendário do Brasil. Dom Pedro parece não ter dado muita importância, Portugal não bateu pé, e foi algo tão calmo e natural que não se tem o que comemorar. Nem a quem homenagear. Não houve luta nem paixões, apenas um homem num cavalo à margem de um rio. Simplesmente o Brasil fez as malas, deixou Portugal, e foi morar sozinho naquele 7 de setembro de 1822. Foi o que contaram na escola.

E conhecendo a história por esse ponto de vista, é difícil imaginar qual estudante tem vontade de pular da cama ao cantar do galo, num feriado, para participar de um desfile com um toque de militarismo. Eu, que sempre assisti da plateia – quando não ficava em casa dormindo –, lembro deles:

— Todas as manhãs do dia sete de setembro estarão lá, na avenida, sonolentos, em marcha, ao som de fanfarras desajustadas e carregando uma única bandeira, sem cor: passar de ano.


Desfile da Independência de setembro de 2008 em Tubarão (SC).
Imagens: Anderson Paes


Não é de hoje que escolas públicas e particulares oferecem uns pontos por fora para que seus alunos participem deste grande dia da pátria. E é mesmo difícil encontrar motivação, senão essa, para que acordem cedo e comemorem a conveniente liberdade que herdamos.

E essa prática inocente se repete a cada ano. A mesma prática que se torna intolerável no cenário político, por vezes tão parecido com o ambiente de uma sala de aula. Todo aquele sussurro, conchavo – sem falar das férias duas vezes por ano e da bagunça que fazem –, que só pode ser mudado pelo voto popular. Triste que muitos votos partam daqueles que não se importam com a chantagem da mesma pátria mãe gentil e vão marchar por esmolas ao conhecimento.

Um estranho e infeliz patriotismo.

Sasha, Vanusa e nós mesmos

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Quando Sasha escreveu sena no Twitter de Xuxa, justificado em seguida pela desculpa de sua mãe de que a menina fora alfabetizada em inglês (scene?) e quando Vanusa, executou o Hino Nacional Brasileiro no Primeiro Encontro dos Agentes Públicos do Estado de São Paulo da forma que todos viram, erguemos nossas foices e tochas incendiárias e partimos à forra como caçadores de bruxas na Idade Média.

Só esquecemos de olhar para nossos próprios traseiros e descortinar o véu da ignorância em que vive grande parte dos brasileiros no quesito respeito ao Hino Nacional e à Língua Portuguesa.

No caso de Sasha, a mãe poderia ter sido mais humilde em sua defesa, dizer que todos erram, ao invés de partir para a esnobação ao falar que a filha foi alfabetizada em inglês.

O erro é como um pequeno demônio à espreita do menor deslize.

Sasha é uma criança, que como qualquer outra nos dias atuais, se diverte em suas teias virtuais. Dados dão conta de que no Brasil o número de analfabetos é de 16 milhões. Eu ainda acrescento gente fina, importante, dona de fortuna, que não só é mal educado, literalmente, como também o é em termos comportamentais.

Quantos endinheirados você conhece que jamais leram um livro, na escrita são um horror, cometem os erros de português mais absurdos, desconhecem a história regional, nacional e mundial, e em conhecimentos gerais são verdadeiros fracassos?

Da Vanusa, não entrarei no mérito de suas alegações para os erros durante o hino, mas pedirei uma reflexão a nós: quantos brasileiros sabem cantar o Hino Nacional? Talvez nem a própria Vanusa o saiba, pois estava com uma pasta que devia ser a letra em um púlpito.

Vem de berço a ideia repugnante de que nosso hino é difícil. A criança com a idade contável nos dedos de apenas uma das mãos provavelmente ouviu que nossa canção maior é complicada. Mas como decoram funks, sertanejos, forrós, pagodes e orações de trás para frente e de frente para trás?

Vi muito analfabeto malhando a Sasha e muita gente que jamais cantou o Hino Nacional corretamente às gargalhadas assistindo a Vanusa. A turba ignara esbaldou-se nestes dias, mas não colocou um espelhinho nas “póprias” mazelas.

sábado, setembro 05, 2009

Minha vez de usar

*Viviany Pfleger | vivianypfleger@yahoo.com.br

Você está numa boa, navegando por diversos sites, e lá vem o seu irmão, pai, mãe, vizinho ou amigo... alguém querendo usar o PC.

É uma das coisas mais chatas, ter que ceder o computador para alguém. Seja por uma questão importante ou apenas por diversão, é algo que ninguém gosta: ser mandado embora do PC.

Antigamente – nem tanto –, esse tipo de necessidade nem existia. Hoje ainda dá pra dizer que quem não trabalha diretamente com o computador só o utiliza mesmo pra se ocupar com sites intitulados 'mídias sociais' – bobinho isso, não? Mas todo mundo tem.

A situação de ter que sair do computador quase sempre faz barulho, principalmente entre irmãos ou colegas – no caso das crianças. Experimente ficar numa lan house por uma hora para ver. Mas só vale se tiver guri pequeno usando o PC, e circulando entre uma máquina e outra.

Você pode ser o “senhor paciência”, mas se não colocar o fone, meu amigo, seus ouvidos vão sofrer. A coisa está um tanto barulhenta e agitada – pra não dizer, séria. A gurizada anda gastando dinheiro pra jogar Counter Strike e ver Orkut das menininhas nas Lan Houses por aí. É só constatar.

Fazem vaquinhas pra pagar os jogos em rede e quando brigam então...!
— Ei, minha vez de usar.
— Calma, já tô saindo.
... e demora. Quase se estapeiam na pequena sala e não se importam com quem está ao redor.
— Anda, minha vez de usar o pc.

Não importa a classe social, não importa quem, nem onde está o PC. Na Lan House ou no trabalho, e até na sua casa, pelo menos uma vez na vida alguém vai passar por essa situação.

Você já passou por isso?

sexta-feira, setembro 04, 2009

O número 666

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

Tubarão, sul de Santa Catarina. Uma cidade tranquila. O rio que corta a cidade tem nas margens árvores grandes que parecem cantar com o vento. À margem direita, na rua Lauro Müller, há uma casa de número 666.

As residências, por aqui, são numeradas de acordo com a distância que estão do início da rua. Se um prédio estiver distante 100 metros de onde a rua começa, terá o número 100 estampado em sua fachada.

No caso do número 666 tudo estaria em ordem, não fosse a coincidência de no local existir uma casa que pertence à Congregação da Divina Providência. Como sugere o nome da entidade, “Deus quis assim”.

“Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. E esse número é seiscentos e sessenta e seis” Apocalipse 13:18

É estranho pensar que uma ordem cristã aceite o número do que eles chamam de “a besta”, do oposto do seu Deus; de quem, para eles, fará mal ou até mesmo porá fim a este mundo. Estranho, também, é uma das freiras dizer que desconhecia o número da “própria” casa. “Não sabia não, meu filho! Mas vou procurar saber”, disse a velha senhora em seu hábito branco e azul acinzentado, numa conversa informal nos bastidores de um programa de rádio onde eu era o produtor.

“Mas o número marca a distância da casa (do início da rua), não é nada demais”, retrucou uma outra pessoa presente no estúdio. Em todo caso, poderiam ter trocado o simbólico número por 668. A numeração continuaria dentro dos limites do terreno, já que a casa seguinte é de número 700.

Resta a dúvida: se quem trabalha com a fé faz pouco caso do que está na Bíblia, o que vendem afinal? A mesma Congregação é responsável pelo Colégio São José e o Hospital Nossa Senhora da Conceição. Talvez o ceticismo da medicina tenha alcançado certos setores da religião. É mais lucrativo – pode-se fazer da casa um ponto turístico.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Beijo da Morte


Título: Beijo da Morte
Autor: Tiago Tavares | www.twitter.com/tavarestattoo
Ano: 2006
Site: http://tavarestattoo.blogspot.com/

Uma profecia?
Toda quinta-feira uma imagem.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Brasil e Argentina: "Já tá chato!"

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

A imprensa brasileira insiste na velha rivalidade e polêmica elaborada especialmente para um Brasil e Argentina no futebol. Repórteres de TV seguem com suas gracinhas enquanto os jogadores brasileiros desconversam e consideram que o assunto “já tá chato”.

Outros profissionais que acompanham a Seleção Brasileira relevam os comentários vindos do lado de lá da fronteira como se Diego Maradona e seus comandados fossem só provocação.

No site da revista Placar: “Brasil planeja transformar pressão argentina em motivação”; na matéria falam em “clima de guerra” – clima de guerra? Se falam da vontade de vencer... sabe-se que isso os argentinos sempre tiveram – não fazem como o Brasil em alguns jogos. Bom, ainda de acordo com a revista, Maradona disse que considera sua equipe superior e aposta na vitória de sua seleção. Mas nada mais lógico que um treinador elogiar seu grupo e apostar em si mesmo, não?

Numa breve passagem pelo site de esportes Olé, da Argentina, vê-se até uma entrevista com o atacante brasileiro Luís Fabiano, onde diz que espera “que a Argentina se classifique” para a Copa do Mundo de 2010; e há ainda uma realista e otimista frase do experiente Claudio Cannigia, dizendo que sua seleção “está por baixo (em relação à Seleção Brasileira), mas que vencerá no sábado”.

Essa polêmica por Brasil e Argentina no futebol fica apenas na imprensa – principalmente na de cá – e já incomoda mais do que contribui. Afinal, os jogadores se conhecem e costumam se encontrar nos clubes pela Europa – alguns até são amigos.

Enquanto do lado de lá informam mais e julgam menos, aqui a imprensa parece querer estimular uma antiga rivalidade com muito “disse-que-disse” – e tem gente que acredita em tudo o que vê na telinha. Que vejam a partida e que seja um bom jogo! Porque o extra-campo que é noticiado “tá chato” mesmo.
 

CONTATO
Colaboradores Ana Carla Teixeira, Anderson Paes, Camila Rufine, Carlos Karan, Deyse Zarichta, Eduardo Daniel, Emanuela Silva, Emanuelle Querino,
Emmanuel Carvalho, Fabiano Bordignon, Fabrício Espíndola, Francine de Mattos, Gabriel Guedes, Germaá Oliveira, Guilherme Marcon, Isabel Cunha, Kellen Baesso, Manuela Prá, Patrícia Martins, Thiago Antunes, Thiago Schwartz, Tiago Tavares, Valter Ziantoni,Van Luchiari, Vanessa Feltrin, Vitor S. Castelo Branco, Viviany Pfleger

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