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terça-feira, setembro 08, 2009

Vamos torcer o pepino!

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Assisti, noites atrás, ao filme Sonhadora – assim mesmo, sem o artigo “a”. A trama retrata uma história baseada em fatos reais. Tudo começa quando uma égua de corrida, a Sonhadora, sofre uma séria lesão em uma das patas, durante uma prova e, seu dono, um ricaço sem escrúpulos ordena o seu sacrifício. O treinador do equino e seus ajudantes insistem que podem salvá-la. Desafiam o patrão, são demitidos e topam receber o que tem em atraso em troca do animal condenado.

Claro, não estou aqui para estragar o final do filme e contar que a égua se recupera e vence um prêmio milionário, montada pelo jóquei fracassado que até então apenas lhe montava nos treinos.

Neste belo filme, me chamou a atenção uma garotinha de uns dez anos. Ela mora no haras de seu avô, um conhecido e talentoso ex-treinador de cavalos de corrida. A menina sofre porque aquele é o único estábulo da região que ironicamente não tem um cavalo sequer.

O pai da menina vive de mau humor. Não encontra mais prazer na profissão que herdou do pai. Pai e filho, por sinal, não se entendem. Os filmes americanos adoram retratar esses problemas familiares, tanto quando adoram filmes que terminam em aplausos. Mas ainda não é sobre isso que quero falar.

É a teimosia da menina que chama a atenção. Antes da corrida em que a égua se fere, ela aborda o pai tentando escapar da promessa de levá-la junto à prova. A sua presença e seu olhar extremamente duro para uma criança de sua idade fazem o pai abrir mão do emprego em nome de um desafio praticamente perdido.

De tanto insistirem, eles recuperam a égua e, o que é mais inusitado, conseguem uma vaga para uma das corridas mais importantes do país. O antigo dono do animal oferece um bom dinheiro pelo animal de volta. Uma quantia que não chega aos pés da recompensa pela vitória na mencionada corrida. Mas, como diria meu tio Bartolomeu do alto de sua sapiência, “mais vale um pombo na mão, que dois avuando”.

O magnata chega esnobando e faz a oferta ao pai de menina. Ela sentada, de braços cruzados. O pai dá às costas. O antigo dono do cavalo vai ao avô. Ele ouve calado e apenas diz: “o cavalo agora é dela”. O vilão da história vai a ela. A garota se levanta. Os braços seguem cruzados. São segundos de suspense.

Não! Irredutível e com uma firmeza de caráter invejável, a menina, assim como qualquer criança, nos dá uma lição de moral, ética e compromisso.

A petulância daquela garotinha e a sua persistência deveriam ser valores perseguidos por todos nós. Com o tempo estragamos as nossas crianças lhes enquadrando nos patrões sociais da sobrevivência.

Ainda sonho ver a Ana Maria Braga levando crianças para julgar seus pratos. Não uma só, que pode se inibir, mas uma turma inteira de quarta série.

Não que as crianças não mintam. Elas mentem sim. Mentem quando querem um carinho, um colo ou um lugarzinho no meio do pai e da mãe na cama do casal. A diferença entre elas e os adultos é que os pequenos não escondem o que pensam se querem expressar seus sentimentos. A auto-censura não comanda suas vidas como comanda a nossa. Elas jamais entenderiam o quanto de veneno pode existir em um tapinha nas costas.

Por sentimentalismos, quando aceitamos as mentiras inocentes das crianças e lhes respondemos com afagos suas pequenas armações, podemos estar plantando uma sementinha que ira germinar anos mais tarde em troca de votos, de favores e de vantagens ilícitas.

Vamos dar carinho ao nosso futuro, mas vamos deixar claro que sabemos da malandragem. Bem como diz o tio Bartolomeu, dono de uma autenticidade ímpar e um profundo conhecedor dos nossos ditos: “é de cedo, que se torce o pepino”.

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CONTATO
Colaboradores Ana Carla Teixeira, Anderson Paes, Camila Rufine, Carlos Karan, Deyse Zarichta, Eduardo Daniel, Emanuela Silva, Emanuelle Querino,
Emmanuel Carvalho, Fabiano Bordignon, Fabrício Espíndola, Francine de Mattos, Gabriel Guedes, Germaá Oliveira, Guilherme Marcon, Isabel Cunha, Kellen Baesso, Manuela Prá, Patrícia Martins, Thiago Antunes, Thiago Schwartz, Tiago Tavares, Valter Ziantoni,Van Luchiari, Vanessa Feltrin, Vitor S. Castelo Branco, Viviany Pfleger

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