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Destaque Quitandas e a volta aos tempos românticos Thiago Schwartz


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quinta-feira, novembro 26, 2009

Como enganar a morte

*Thiago Schwartz | twitter.com/perereco

Durante muitos anos (mais precisamente, desde 1998), convivia com uma certeza: A morte é inevitável.

Mas todos os conceitos humanos são passíveis de dúvida e refutação, e a morte é um deles. É possível enganar a morte, e prolongar sua vida por quanto tempo sua habilidade permitir.

Me refiro, claro, ao jogo SkiFree. O popular joguinho no qual você, no papel de um bravo esquiador, deve percorrer um percurso recheado de obstáculos, como montinhos de neve, árvores, cachorros e outros esquiadores de fim de semana.

Como é do conhecimento de todos, após a linha de chegada, percorrendo-se alguns metros, o nosso nobre cavaleiro encontra-se com aquilo que nos parece inevitável: O monstro cinza com bracinhos finos e cara de mau. Ele se aproxima, voraz, sedento pela carne de nosso heroi, enquanto olhamos para a cena com uma sensação de impotência, prevendo o final triste da história.

Como enganar a morte
A morte, surda, caminha ao meu lado...

Até que hoje recebi a visita do Anjo da Anunciação (XKCD), que do alto de sua sabedoria, bradou-me: "Aperte o F".

Imediatamente baixei o jogo, com o objetivo de testar aquela receita da imortalidade. E como preconizado, o valente esquiador tornou-se uma verdadeira flecha, singrando as neves, rumo ao infinito. Pelo menos durante mais alguns segundos, quando uma pedra frustrou aquela tentativa de libertação dos grilhões da inefável morte. Talvez a morte realmente seja inevitável, mas por alguns segundos ela foi enganada, posta em xeque, por aquele bravo homem de roupas coloridas.

Braşov


Autor: Valter Ziantoni
Local: Braşov, Romênia | Data: Outubro/2007
Site: www.flickr.com/trotamundus

quarta-feira, novembro 25, 2009

Não devemos odiar o São Paulo, devemos seguir o seu exemplo

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Quem, nesta reta final de Campeonato Brasileiro, que não seja são-paulino, e está torcendo para o São Paulo? Aposto minhas cuecas que são poucos, quiçá, não tenha ninguém.

Certamente apenas os vascaínos, botafoguenses e tricolores estão secando o Flamengo nesta batalha palmo a palmo contra o São Paulo.

É o São Paulo, com toda a sua estrutura européia, contra o Flamengo tipicamente brasileiro, carioca suburbano, com tudo o que há de bom e de ruim no Brasil ao mesmo tempo.

Dói ver a grama do vizinho mais verde do que a nossa. Da mesma forma, dói ver o São Paulo imbatível nos pontos corridos. Aí dissemos que esta forma de disputa está perdendo a graça, quando na realidade estamos apenas destilando inveja ao time do Morumbi. Se em todo o ano tivéssemos um campeão diferente, a conversa seria outra.

Esta má vontade que temos em relação ao São Paulo, talvez confirme a nossa síndrome de vira-latas. Enquanto os são-paulinos têm um grande estádio, planejamento, contas em dia, um centro médico de referência internacional, o Flamengo joga em um estádio do governo, pouco olha para sua casa e vem de um patrocínio envolto em mistério, que perdurou por décadas, com uma estatal.

Querer o Flamengo campeão é seguir a onda vintage. Torcer pelo Flamengo em detrimento do São Paulo, é olhar para trás. É patinar no tempo em que o nosso futebol era gerido com o coronelismo apaixonado dos cartolas.

Por outro lado, se um torcedor de outro clube admitir simpatia pelo São Paulo, vai ser achincalhado em praça pública. De visionário vai passar por segregador social e elitista.

Não sou nem flamenguista, nem são-paulino, mas, se uma mea culpa ainda cabe neste texto, admito a tendência retrô e a torcida pelo Flamengo, que mais do que nunca tem hoje quase o tamanho do Brasil.

terça-feira, novembro 24, 2009

Um Calvin para chamar de meu

*Camila Rufine | www.twitter.com/camilarufine

Quem conhece as tiras de Calvin e Haroldo (Calvin & Hobbes), de Tim Watterson, sabe que Calvin é um menino de 6 anos de idade dotado de uma imaginação ultra fértil, que odeia legumes e lição de casa e que divide seus questionamentos filosóficos com o melhor amigo: um sábio tigre de pelúcia chamado Haroldo.

E quem conhece Calvin e Haroldo deve achar que eu tenho problemas mentais por ver no menino mais velho que cuido um pouquinho do personagem. Ele só tem só dois anos de idade. Não fala nada além de algumas sílabas como 'dó' (dog) quando vê cachorros e um persistente 'ogdan' que ele usa para tudo e que ninguém descobriu o que significa. Ele adora frutas e legumes, ainda não estuda e a maior preocupação é não ir trocar a fralda sem levar o balão de gás hélio a tiracolo. Ele nem sequer tem um tigre de pelúcia... a única coisa em comum entre os dois seja a cor do cabelo.

Mas eu não consigo deixar de comparar. Ainda mais depois do último domingo, na hora de ele dormir.

A rotina foi quase a mesma de sempre. O menino deu boa noite para o balão, para o irmão e a cachorra antes de subir para o banho. Gritou como se tivesse entrado em contato com ácido sulfúrico quando molhei o seu cabelo. Se debateu como sempre para vestir o pijama. Cantou o mesmo lalalá fora de ritmo (sua canção de ninar) abraçado ao meu pescoço. Mas quando dei o beijo de boa noite e fui encostando a porta do quarto, voltei meus olhos para o berço e me deparei com o menino pegando o urso (que é um cobertor peludo parecido com aqueles tapetes de urso dos desenhos animados, mas fofo e não assustador), trazendo para perto de si e começado um diálogo indecifrável, quase alienígena, com entonações de surpresa, carinho, curiosidade e até de bronca, como em qualquer conversa adulta.


Talvez ele e o urso estejam tramando alguma coisa para dominar o mundo. Ou, quem sabe, desenvolvendo uma nova teoria sobre o sentido da vida. Pode ser que estejam falando mal de mim. Pensando melhor, é possível que eu esteja apenas ounvindo choro de criança por horas consecutivas demais e falando bobagem. Mas oras... se ele pode dialogar qualquer coisa que seja com um objeto inanimado, eu também me acho no direito de compará-lo ao meu personagem de quadrinhos favorito.

quinta-feira, novembro 19, 2009

"Firmeza"


Autor: Tiago Tavares | www.twitter.com/tavarestattoo
Site: http://tavarestattoo.blogspot.com

quarta-feira, novembro 18, 2009

Tostão furado

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Tem que treinar pra mentir
Tem que torcer pra não ver
Tem que apertar pra nascer
Tem que penar pra viver

Tem que pedir pra sorrir
Ter permissão pra sentir
Tem que pagar para entrar
E nem pensar em sair

É bem melhor esquecer
Do que tentar ou insistir
É bem mais fácil morrer
Do que mudar pra existir

Mais vale um tostão furado
Que vender a alma ao diabo
Mais vale um passo seguro
Do que um salto amarrado

Quem patrocina a dor
Reclama do sofrimento
E quem quer sempre a verdade
Caminha só contra o vento

Queridos, encolhi o pijama

*Camila Rufine | www.twitter.com/camilarufine

Logo nas primeiras semanas aqui levei um susto ao recolocar um jeans. Estava apertando em todos os lugares possíveis. Maldito Subway, Mc Donald's, Pizza Hut, Dunkin Donnuts ou seja lá qual for a franquia que vende comida barata e deliciosamente calórica. Não podia ser possível que um lanchinho no sábado, após tanta andança pelo centro de Chicago e pelo Millenium Park (programação repetida durante uns 4 sábados consecutivos), fizesse tanto estrago em tão pouco tempo.

Comentei com tristeza o fato para uma menina que mora aqui há mais tempo. Ela, por sabedoria ou dó, disse que era pra eu ficar tranquila, pois a calça poderia ter encolhido na secadora de roupas, já que com as dela sempre acontecia isso. Para quem não sabe, aqui nos Estados Unidos não existe varal, roupa secando no gramado. Não que eu saiba. Talvez nos bairros pobres. Ou só nos filmes campestres. Mas ate onde eu sei, na vida real aqui as roupas sao jogadas na maquina todas misturadas e depois jogadas na secadora. E ponto. A propósito, passar roupa também não precisa.

Desculpa de gorda preguiçosa ou não, coincidiu de aquela calça realmente ser a única que eu já tinha lavado e secado no American Way. Ufa! Espalhei a notícia para todas au pairs que eu conheço aqui e comecei a evitar de secar as roupas mais justas na máquina, dando um jeito de estendê-las pelo quarto em algum lugar escondido, para não ficar parecendo um cortiço indoor, e sempre culpando a secadora pelos reajustes que eu vinha sentindo nas pecas mais largas.

Hoje fiz a minha laundry (maneira mais legal de dizer que lavei a roupa suja) decidida que essa história de encolher roupa seria apenas lenda e que eu teria que me conformar por ter ganhado umas libras. Joguei todas as roupas direto na secadora. Peguei todas as roupas na máquina e separei o pijama que iria colocar após tomar banho. Quando vesti meu pijama de pinguim de todo santo dia, senti uma vertigem. Ele estava curto nas pernas, justo no corpo, curto na barriga e as mangas, que eram longas, estavam quase nos cotovelos. Me senti a Alice depois do pedaço errado de cogumelo.

Quero só ver amanhã quando for colocar as roupas que uso para trabalhar. Calça de agasalho que virou capri, cacharrel-bolero, moletom-babylook... preciso começar a reforçar o controle nas calorias e arranjar umas pílulas de nanicolina se não quiser ficar magra de bolso. Não quero gastar meu salário com roupas de trabalho extra-grandes que terei que doar quando eu voltar para o Brasil. Preciso poupar dólares para encher minhas malas com um estoque bem grande de importados que tentarei revender pelo dobro do preço para meus amigos consumistas.

segunda-feira, novembro 16, 2009

A viciante Drop Dead Diva

*Kellen Baesso | www.twitter.com/kellenbaesso

De um lado uma aspirante a modelo com corpo perfeito, cabelos louros e um namorado maravilhoso. De outro, uma solitária advogada, com manequim GG e uma vida dedicada ao trabalho. O que elas têm em comum? Morreram no mesmo dia e na mesma hora. Em Drop Dead Diva – série que estreia no canal de TV por assinatura Sony hoje (16 de novembro) às 22h – Deb, a modelo, morre após uma colisão com um caminhão. Já Jane teve a má sorte de ficar frente a frente com um homem armado e levar um tiro.

Lá em cima, Deb é recebida por seu Anjo da Guarda, Fred. O anjo é quem decide se a jovem de 24 anos vai para o céu ou para o inferno, decisão baseada nos feitos de Deb enquanto vivia na Terra. Os dois não se deram bem e no meio de uma discussão sobre Deb ser fútil, ela aperta o botão no computador destinado a devolver as almas à Terra. O que ela não esperava era que as almas voltassem para o primeiro corpo vago que encontrassem e, infelizmente para ela ou não, sua alma foi para o corpo de Jane Bingum, a advogada vivida pela atriz Brooke Elliott, muito talentosa e carismática.

Após o estresse inicial e a histeria de estar gorda, a nova Jane procura pela melhor amiga de Deb, Stacy – também magérrima e modelo. Jane/Deb consegue convencer a amiga da louca história que viveu e garante ali uma ajuda para seguir como Jane. O outro auxílio vem lá de cima, Fred foi rebaixado e deve acompanhar todos os passos de sua protegida para que ela não faça ainda mais besteiras.

O corpo de Jane agora tem as lembranças de Deb, mas continua com a inteligência de Jane, com um QI acima da média. Para dificultar um pouco a nova vida de Deb, seu namorado, o viúvo Grayson começa a trabalhar na empresa que ela, como Jane, também trabalha. E esse contato diário não será nada fácil. Agora infeliz com o corpo, Deb não consegue arrumar coragem para revelar toda a verdade ao namorado. Este por sua vez, começa a receber flertes da nova colega de trabalho, Kim.

Por incrível que pareça, encontrei semelhança de Drop Dead Diva com House. O fabuloso médico resolve quebra-cabeças envolvendo a doença dos pacientes, muitas vezes “a luz” para desvendar o caso vem em conversas com os colegas, principalmente Wilson. E assim ocorre com Jane, mas nos tribunais. Nos mais diferentes casos, Jane precisa de bons argumentos para vencer suas causas e nos momentos difíceis, que parecem sem solução, “a luz” aparece em conversas também com seus colegas e sua amiga Stacy.

Um outro ponto forte na produção é o uso de uma protagonista fora dos padrões estéticos de beleza. E até aqui, a série mostra que está no caminho certo, a temporada 2010 já está garantida. E esta primeira temporada conta com 13 episódios. Assisti nove deles e são divertidíssimos, ao mesmo tempo em que nos faz pensar em certos paradigmas, como o de que para ter sucesso, as estrelas precisam vestir tamanho P.

sexta-feira, novembro 13, 2009

O dilema de um fotógrafo

*Francine de Mattos | www.twitter.com/fotografe

O fotojornalismo é capaz de nos colocar em situações difíceis muitas vezes, dramas que fotógrafos como Kevin Carter e Tiago Brandão já viveram e foram duramente criticados por fazerem fotos de situações complicadas em vez de oferecer ajuda.

É nessas horas que nos surge uma grande dúvida,fotografar ou ajudar? A reposta pode parecer simples, mas existem vários fatores envolvidos. No filme Fomos Heróis (We Were Soldiers, 2002) aonde o fotógrafo Joe Gallowar (Barry Pepper) concluiu que a melhor maneira de ajudar seus colegas de combate era registrando o seu sofrimento e perdas para que seu sacrifício não fosse esquecido. Essa é uma vertente do trabalho jornalístico fotográfico.

Uma situação citada pelo colunista do site Meio Bit (gilsonlorenti) me chamou atenção, conta ele que presenciou o atropelamento de uma criança. O garoto não sobreviveu ao acidente, tinha fugido dos pais e atravessado a avenida. Ele estava com a câmera na mão.

Qualquer imagem daquele acidente seria prato cheio aos jornais da região. Ele se perguntou qual seria o mérito daquela foto? Qual seria a compensação social daquela imagem para família da criança? Nenhuma! Seria apenas uma exploração visual para saciar a curiosidade mórbida do publico. Ele preferiu não utilizar aquela situação dolorosa para conseguir uma imagem impactante. Muitos criticaram por sua falta de senso de oportunidade, mas eu vejo como sinal de respeito.

No vídeo One Hundredth of a Second que está percorrendo blogs sobre fotografia e grupos de discussão pela internet. A mensagem é curta e direta, pois não existe resposta simples sobre a questão dos limites do fotojornalismo entre função social e exploração irresponsável da notícia. Mas, além disso, mostra que o fotógrafo não é um ser desprovido de emoções e que a carga psicológica desse trabalho é gigantesca.

As cenas são fortes, mas vale a pena ser assistido inteiramente. Mais do que o impacto visual, vale pela reflexão sobre essa profissão.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Banca 66


Autor: Tiago Tavares | www.twitter.com/tavarestattoo
Site: http://tavarestattoo.blogspot.com

quarta-feira, novembro 11, 2009

Desculpe qualquer coisa

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

Há alguns dias quis cancelar uma linha telefônica. Entrei em contato com o 0800 da operadora durante o dia e o atendente me orientou a imprimir um formulário direto do endereço eletrônico da empresa. Anotei as instruções e a noite fui realizar a tarefa que prometia ser simples.

Fuça daqui, fuça dali e nada. Quem disse que encontrava o caminho indicado pelo dito cujo? Impropérios não faltaram em meu pensamento. Lasquei a mão no telefone.

Após intermináveis segundos ouvindo as vantagens de optar por aquela telefônica fui acolhido por uma bela voz feminina em seus rodeios formais e decorados. “Pois não senhor”, “boa noite senhor”, “algo mais senhor?”.

Expliquei meu caso e a moça apenas repetiu o que eu já sabia ser uma furada: no site não existia o bendito formulário. E a cada nova explicação minha, ela pedia uns segundos, voltava, pedia “desculpas senhor” e tentava me convencer de que no site existia o tal documento.

Por mais robóticos que sejam estes operadores, pelo tom de minha voz ela deve ter percebido minha impaciência. Apesar de toda educação que mantive, estava ríspido nas respostas e perguntas.

Demorou uns belos sete ou oito minutos para que eu a convencesse de me enviar por e-mail o maldito formulário. Por precaução, a segurei na linha até verificar em minha caixa de entrada o que tanto esperava.

E foi ai neste instante de espera que poucas palavras mudaram a minha forma de encarar estes operadores.

Eu disse qualquer coisa para quebrar o gelo e o que ouvi me fez esquecer a minha frase:

— Está um sufoco aqui. Estou com o senhor e outra ligação. Um segundo senhor...

Não deu outra. No fim do atendimento só tive que agradecer e pedir desculpa por qualquer coisa. Gentileza não faz mal a ninguém. Pelo contrário, faz muito bem, já pregava o saudoso profeta Gentileza.

Nós reclamamos que os operadores das centrais de atendimento são praticamente uns robôs, mas esquecemos de observar que muitas vezes não os tratamos com o devido respeito a ser destinado a qualquer ser vivo errante.

Do outro lado da linha está um trabalhador de carne e osso como eu e você. Ou você acha que eles sentem prazer de ouvir tua voz muitas vezes mal-educada? Eles estão no papel deles de nos oferecer os serviços e a nós cabe a opção de aceitar ou não. E esta negativa deve ser feita com respeito.

E quando durante o atendimento perdermos a linha, não custa no final encerrar com pedido de desculpas e lembrar que a melhor maneira de conquistar um aliado que dantes foi opositor, é reconhecendo o quão difícil é o seu trabalho.

Com educação, gentileza, paciência, respeito e generosidade, nós, os clientes, podemos provocar uma revolução nos telemarketing. Uma revolução que vai partir de fora para dentro. É só querer!

terça-feira, novembro 10, 2009

FlashForward: 2'17''

*Kellen Baesso | www.twitter.com/kellenbaesso

Um dia que começa normal para os moradores de Los Angeles – café da manhã, trânsito, trabalho –, mas que muda drasticamente às 11h. Um apagão levou todos ao chão inconscientes – era o que se pensava – por dois minutos e 17 segundos.

Quando acordam, as pessoas se deparam com uma cena catastrófica, muitos acidentes terrestres e aéreos, explosões, prédios em chamas, mortes, a verdadeira imagem do caos. Ninguém sabe o que aconteceu e todos querem respostas. Cogita-se ataque terrorista, mas a suspeita acaba quando se percebe que o apagão ocorreu no mundo todo.

Durante o tempo que ficaram desacordadas, as pessoas tiveram visões de seu futuro. Para uns, um milagre, um recado divino de boas novas, para outros um grande pesadelo. E ainda há os que não tiveram visão nenhuma, o que deve significar que não estavam mais vivos naquele futuro.

A possibilidade é assustadora, será que é possível mudar aquele futuro? O que aconteceu? Por que aconteceu? Essas são perguntas que os personagens da estreante FlashForward se propõem a descobrir no decorrer da série.

O agente especial do FBI de Los Angeles, Mark Benford – vivido por Joseph Fiennes –, é um dos protagonistas da trama. É casado com a cirurgiã geral Olívia e pai de Charlie. A filha foi a grande força para Mark lutar contra seu vício com bebidas. Mark, com a ajuda de seus colegas de trabalho, tem a missão de desvendar o mistério do apagão. Uma das primeiras constatações após os relatos é que todas as visões são do dia 29 de abril de 2010, às 22h.

Em sua visão, Mark trabalha na Operação Mosaico, que investiga o misterioso incidente, e é dela que ele conseguirá tirar algumas pistas para desvendar o apagão. Um detalhe interessante e, claro, misterioso – mistério é a palavra-chave da série – gera ainda mais questionamentos ao departamento de Mark: um vídeo analisado mostra um homem acordado e andando enquanto os outros estão no chão desmaiados.

FlashForward é baseada no livro homônimo de Robert J. Sawyer. Uma diferença da série para o livro é sobre as visões, na série o intervalo é de seis meses e na obra de Sawyer são 21 anos à frente.

O piloto me cativou e vou dar chance à série. Nos Estados Unidos a audiência não vai bem, mas por aqui li muitos elogios. Talvez, a pressão gerada em torno da produção, dita por muitos que seria o novo Lost, tenha atrapalhado. Vamos ver o que os próximos episódios me reservam, algo me diz que será muitos mistérios.

A maré trouxe outra garrafa

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

Bom dia! Segue um texto para seguidores e seguidos. Um texto em blocos que não ultrapassam os 140 caracteres. Apenas a refletir.

Discute-se política, piada, polêmica, pobreza, putaria. Que p@#%, não? Ora "falamos" sozinhos. Há alguém à deriva?

Lê-se de baixo para cima, de cima para baixo e tanto faz. Que importam os sentidos agora? A esta altura, quase nada.

Há no Twitter mais gente a dar RT do que a pensar e escrever. É auto-censura? Às vezes os outros falam mais besteiras que nós.

Por que copiam tanto? Pode-se criar mais. Diga alguma coisa! Traduza pensamentos.

Houve um tempo em que pensávamos por noites inteiras. Filosofia de praia. Conversa de quem não dorme.

Hoje pensamos, sozinhos, em poucas palavras. Com contadores de letras e espaços, símbolos gráficos... São 140 e nada mais.

Às vezes limitados pela métrica (?) de uma micro-mensagem, enviamos a nova garrafa com bilhetes – a ser levada pela maré. A perder de vista!

Mais uma onda quebrou na praia. As mensagens que por aqui chegavam eram únicas. Hoje a maioria vem com tampa plástica. E começa com “RT”.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Os visitantes vêm aí

*Kellen Baesso | www.twitter.com/kellenbaesso

Apesar de não apreciar muito as produções que envolvem invasão alienígena, resolvi assistir a nova série que estreou nos Estados Unidos nesta semana, V – Visitors. Um dos motivos para assistir foram os elogios à obra e outro foi a presença de Elizabeth Mitchell no elenco, a Juliet de Lost. Gostei do que vi e vou acompanhar os próximos episódios.

Após alguns tremores a população fica assustada, mães preocupadas com seus filhos, casais se preocupam com os companheiros e no meio de tanta agitação naves gigantescas aparecem nos céus de 29 cidades em todo o mundo, denominadas cidades anfitriãs. Entre elas aparece o Rio de Janeiro.

Para tranqüilizar o povo, as naves passam uma mensagem de que vieram em paz e que pensavam ser as únicas vidas inteligentes no universo. O contato com os humanos ainda esclarece que os visitantes querem compartilhar sua tecnologia e milagres médicos com os habitantes da Terra. A porta-voz de tal mensagem é Anna, uma mulher envolvente e de boa aparência, a líder dos V, como são chamados.

Como sempre, as opiniões são divididas, alguns confiam e quase veneram os V, outros, porém, estão bem desconfiados com estes visitantes. Os tripulantes das naves têm a aparência idêntica a dos humanos, talvez por isso ganham a simpatia de alguns.
Inclusive um repórter, que faz uma aliança com Anna e vê nela uma oportunidade para alavancar sua carreira.

Uma das pessoas que não acreditam nessa mensagem bondosa é a agente de segurança Erica Evans (Elizabeth Mitchell) que de tanto investigar, descobre um plano bastante sinistro. Os alienígenas são, na verdade, reptilianos que se escondem atrás da carcaça de aparência humana e que possuem planos para dominar a terra de forma nada agradável. Então um pequeno grupo de resistência começa a se reunir.

Os planos dos V para dominar a terra incluem infiltração nos governos, seduzir admiradores e também recrutar jovens humanos para embaixadores da paz. Um deles será, claro, o filho adolescente de Erica Evans, Tyler, que resolve entrar para o grupo porque se apaixona pela alienígena Lisa. Os recrutas, no entanto, não passam de pequenos espiões.

V é um remake da famosa série homônima da década de 80, considerada por muitos a precursora das séries de ficção científica. A produção original foi cancelada na primeira temporada. A nós, resta esperar pelos próximos episódios e pela audiência, especula-se que este V tenha quatro temporadas.

quinta-feira, novembro 05, 2009

É documentário, hein...

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

— Duas entradas para o Alô, alô Terezinha.
— É documentário, hein...


É evidente que eu não esperava muita procura para assistir ao documentário Alô, alô Terezinha, de Nelson Hoineff, sobre Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Mas a frase da moça da bilheteria do cinema foi aterradora.

Na sessão, mais um recorde que eu e minha esposa quebramos: apenas nós dois na sala. A outra vez que isto aconteceu foi no também nacional O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburguer.

Alô, alô Terezinha confirma o paradoxo do palhaço, que apesar de fazer – ou tentar – rir, tem a aparência triste. Embora entrecortado por cenas pitorescas do Velho Guerreiro, acompanhei a película com um embaraço na garganta que crescia a cada fala.

Que não se espere deste documentário um mastigado pronto sobre quem e o que foi Chacrinha. Muito mais do que isso, o filme é composto por retalhos de depoimentos expostos de maneira tão anárquica quanto anárquico era Abelardo Barbosa à frente de seus programas televisivos.

Ex-calouros buzinados por Chacrinha ajudam a compor o cenário de saudade. Gente simples que divertiu outros tantos como eles próprios naqueles já distantes anos 60, 70 e 80. Alguns, ainda que claramente desprovidos de qualquer talento artístico, continuam sonhando com uma carreira como cantores.

Das “estrelas”, Roberto Carlos, Alceu Valença, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, entre outros, declaram sua paixão por Chacrinha e documentam a importância do pernambucano para a história da música e da tv brasileira.

Mas o lado melancólico também surge quando as falas são dos “peões” de Chacrinha. As Chacretes, por exemplo. O desprezo dado por muitos ao filme em cartaz é praticamente o mesmo dado àquele pessoal que de uma hora para a outra se viu em total ostracismo.

E é disto justamente que o filme trata com profunda maestria, embora sem demonstrar a menor ambição de ser um melodrama justiceiro dos excluídos televisivos. Muitas das Chacretes entraram em depressão. Algumas enfrentaram problemas com drogas.

O nó que permaneceu na garganta nos 90 minutos de duração do documentário apertou ainda mais quando o maestro do Cassino do Chacrinha, Aloyr Mendes, em idade avançada, toca em seu piano, a clássica melodia do “ô Terezinha, ô Terezinha, é um barato o Cassino do Chacrinha”.

Acompanha a imagem uns últimos depoimentos aonde todos seguram o choro até reaparecer Russo, numa simplicidade extrema, em um bairro pobre, quase sem conseguir falar de tamanha emoção, para depois seguir em frente, num plano de uma rua precária, com um andar trôpego, devagar, sem tentar fugir do destino que há muito lhe alcançou.

Três ou quatro lágrimas escapam furtivamente de cada um de meus olhos. É uma saudade de um tempo que vivi na inocência infantil que esquece de muita coisa.

É triste ver uma sala de cinema vazia quando quem na tela apareceu precisa mais do que ninguém do aplauso e da audiência de todos nós. Só assim, algumas daquelas feridas podem ser cicatrizadas. Por sinal, o Canal Brasil, da tv por assinatura, promete para 2010 uma série especial com as Chacretes.

Antes que esqueça: o diálogo logo no início do texto é uma ficção. A moça da bilheteria, ao contrário do que eu poderia esperar, não demonstrou qualquer reação ao meu pedido. Mas as lágrimas segundos antes dos créditos irromperem a tela foram reais.

O Rio de Janeiro continua lindo, apesar de tudo...


Título: O Rio de Janeiro continua lindo, apesar de tudo...
Autor: Emmanuel Carvalho | www.twitter.com/emmanuelphoto
Local: Praia Vermelha, Urca – Rio de Janeiro, RJ
Site: www.emmanuelcarvalho.com.br

quarta-feira, novembro 04, 2009

Passado recente, memória presente

*Emanuelle Querino | www.twitter.com/manuquerino

Nem sempre o povo sabe da sua história ou lembra dos problemas do passado. Você já ouviu falar em anistia? No dia 28 de agosto a assinatura da anistia militar no Brasil completou 30 anos. A Lei 6.683, assinada pelo presidente João Figueiredo, permitiu que mais de 2000 pessoas que estavam exiladas e 150 banidas voltassem ao país e libertou mais de 100 presos políticos.

Anistia é o termo jurídico usado no perdão de culpados por delitos coletivos, especialmente de caráter político. Assim, acabam as penas contra eles e tudo o que envolve o crime deverá ser mantido sob silêncio perpétuo (do art. 107, II, Código Penal). A grande questão é que também foram anistiados os militares acusados de terem violado os direitos humanos. Aí então você pensa: então nunca saberemos nada sobre os crimes da ditadura, nunca ninguém será punido?

Existem dois lados nessa história: o contra e o a favor. Cada um interpreta a lei de um jeito. O artigo primeiro da lei é o causador de tanta confusão: "É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes (...)". Os que são contra dizem que a anistia é só para as vítimas e aqueles a favor afirmam que os militares estão incluídos no trecho “conexo com estes”.

“Memórias Relevadas”

A campanha Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, tem o objetivo de reunir informações sobre os fatos da história política recente do país. Agora pessoas que têm informações sobre o período do governo militar pode enviar o que sabe ou o que tem, como fotos, documentos e cartas para que todo o Brasil saiba a sua história. Espera-se, principalmente, que netos e parentes das pessoas mais atingidas e envolvidas divulguem esses fatos.

Os dados sigilosos que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) guardava dos arquivos dos serviços extintos como o Conselho de Segurança Nacional, Comissão Geral de Investigações e o Serviço Nacional de Informações foram transferidos para o Arquivo Nacional. Aos poucos o Brasil vai descobrindo o que foi calado e escondido.

Depois de recuperar a democracia o que precisamos agora é resgatar a verdade. Muita coisa já foi documentada e publicada, mas ainda existe um clima de silêncio quando o tema é a ditadura. Os mais jovens não sabem muito bem o que aconteceu e o que é mais falado nas escolas é sobre a censura. Os desaparecidos políticos da época, os conflitos, o movimento das Diretas Já, são citados por cima. E a cada geração, com exceção de poucos que se interessam pelo assunto, nos tornamos cada vez mais esquecidos de nosso passado, não tão passado.

Nunca é tarde para começar

Para quem não viveu essa época do Brasil, uma boa maneira de entender o que aconteceu no período da Ditadura Militar é assistir filmes como O ano em que meus pais saíram de férias (Cao Hambúrguer, 2006), ou Batismo de Sangue (Helvécio Rattón, 2007) e O que é isso companheiro? (Bruno Barreto, 1997). Livros também são uma boa pedida, como Meu querido Vlado (Paulo Markun, Ed. Objetiva, 2005), Veja sob censura: 1936-1976 (Maria Fernanda Almeida, Ed. Jaboticaba, 2009) e A Ditadura Envergonhada (Elio Gaspari, Companhia das Letras, 2002).

Os títulos são recentes, com diferentes pontos de vista. Assim você pode criar a sua própria opinião sobre o assunto. Quanto mais conhecermos o passado, melhor entenderemos o presente e poderemos mudar o futuro.

terça-feira, novembro 03, 2009

Paralisia Facial Periférica

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

Era um dia agradável quando ele entrou em seu carro e partiu para a praia, na cidade vizinha. Após procurar um local para estacionar, subiu até seu apartamento e deixou a mochila. Não havia ninguém em casa. Passava das 17h30 do dia 7 de janeiro de 2004, quando foi à praia com uma amiga e juntos saíram a caminhar pela areia. Andaram um por alguns minutos e pararam pouco antes de um dos pontos mais movimentados da Praia do Mar Grosso, em Laguna (SC).

Ali sentaram e conversaram – de tudo um pouco. Entre uma fala e outra, ele sentiu a musculatura de sua boca puxar para cima. Estranhou a fisgada, mas ficou por aquilo mesmo. Passado algum tempo, foram embora.

Sozinho em casa, ele foi cruzando o apartamento até chegar no banheiro da suíte. Tirando a camisa, foi logo ao espelho sobre a pia para ver se havia algo errado com sua boca. Havia! Foi quando percebeu que ao sorrir não conseguia mais mexer o lado esquerdo do rosto. Tudo era puxado para o lado direito. Seu sorriso estava torto.

Ligou de imediato para a irmã e foram para o Hospital de Laguna. Diagnóstico: Paralisia Facial Periférica. Recomendações médicas: procurar um neurologista na cidade vizinha (Tubarão) no dia seguinte; enquanto isso, compre chicletes para a musculatura não ficar parada por muito tempo.
— Feito.

No dia seguinte, em Tubarão, exames de todos os tipos. Medicação: nove injeções de um remédio do qual não lembra o nome; mais uns comprimidos de vitamina B e coisas que qualquer hipocondríaco ficaria satisfeito. Ah, e fisioterapia por alguns meses. Início do tratamento: Já! E em breve uma tomografia só para verificar se não houve problemas maiores.

Durante o período de tratamento,
sentiu-se inconformado com a
fragilidade de um tal de nervo facial.

Durante o período de tratamento, sentiu-se inconformado com a fragilidade de um tal de nervo facial. Pois agora, sequer podia fazer bochecho ao escovar os dentes, ou tomar qualquer tipo de bebida em copos normais – precisava de canudos. Ao mesmo tempo sentia-se bem por saber que o mesmo nervo, que considerou frágil, possuía a capacidade de se regenerar. Coisas do corpo humano!

Ao mesmo tempo sentia-se bem
por saber que o mesmo nervo possuía
a capacidade de se regenerar.

E assim aconteceu. Pouco antes de completar dois meses do fatídico dia na praia, e de ter passado pelas injeções e fisioterapia, ele já estava 99% recuperado. Sentia a musculatura do lado esquerdo da face novamente. Tudo estava quase normal, a não ser pelo reflexo um pouco lento do olho esquerdo em fotos com flash – o que logo recuperou.

A história acima é real e aconteceu comigo. Resolvi narrar este caso que vivi porque muitos ainda desconhecem a Paralisia Facial Periférica (PFP) ou Paralisia de Bell – aquela que os mais velhos insistem em dizer que é por causa da mudança brusca de temperatura –, e por isso acabam deixando para depois um tratamento que pode reverter 100% a situação.

As razões para a ocorrência da PFP sao desconhecidas. Acredita-se que alguns eventos possam prejudicar o nervo facial, como um trauma ou inflamação (em contato) na região por onde passa o tal nervo. A mudança brusca de temperatura, para os que ainda creem, é uma opção descartada pelos médicos. "Caso contrário, quem trabalha em frigorífico seria alvo fácil para a PFP", afirmam alguns.

Enfim, o problema se resolveu. Tratamento químico de imediato e exercício para que a musculatura não venha a atrofiar é a resposta. Pouco tempo depois tudo volta ao normal.

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Mais sobre a PFP: Ayrton Senna e Sylvester Stallone passaram pela mesma situação, mas na época não havia o tratamento atual; A PFP pode atingir pessoas de ambos os sexos e de todas as idades – lembro de um menino de três anos que estava na fisioterapia pelo mesmo motivo que eu; Quanto antes iniciar o tratamento mais chances de voltar ao que era antes; Alguns casos, quando não tratados logo no início, exigem cirurgias corretivas.

De liberdade e esperança

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

Todo tipo de idealismo parece ter morrido. O que temos hoje são resquícios de tudo e de nada, distorções e mutações de todos os gêneros; e de todas as formas de governo conhecidas, não houve uma que não tenha tomado gosto pelo poder e usado isto em benefício próprio. Do ideal comunista vimos surgir o autoritarismo – da igualdade pela mão de ferro –, e do capitalista o consumismo – do quanto mais, melhor e para o bolso de poucos.

De toda forma, parte do mundo está migrando do consumismo – que ainda predomina – para um liberalismo real. Não aquele liberalismo econômico padronizado dos clássicos de economia, mas um que também possibilita a liberdade de pensamento. Um liberalismo mais social. A humanidade parece ter adquirido nestes últimos anos uma certa consciência de que a informação e a capacidade de pensar traz benefícios não só para o indivíduo, mas também para a sociedade. Pois é verdade que produzimos mais informações nos últimos 50 anos do que em vários outros séculos de História.

É claro que, em muitos lugares, muita gente ainda está longe disso. Além das limitações promovidas pela influência dos idealismos do passado – fatores econômicos, por exemplo –, há ainda os limitadores sociais – questões como o analfabetismo e a fome. Mas também se vê, em algumas regiões, o povo a escapar de dogmas – gerais, não somente os da fé –, e que a ciência tem possibilitado novas ideias – por mérito do acesso à informação. Ideias que podem mudar ainda mais o mundo.

Temos muito ainda para refletir e desenvolver, mas a saída desta mais recente crise econômica mostra que o mundo se reergueu com novas ideias, como novos anti-corpos. A crise ainda provou que o liberalismo atual não era lá muito liberal e que o Estado ainda é parte importante deste sistema. Mas agora, com as coisas voltando aos eixos, pode-se planejar uma nova estratégia para a economia – para que os erros não se repitam. E o papel do Estado não deve voltar a ser o proposto pelo capitalismo ou comunismo – como alguns acusaram o governo de Barack Obama, pós-crise –, nem por outros tantos ...ismos.

Resta a esperança de que se faça um Estado-Livre, planejado para que sua população tenha tempo de receber uma formação adequada e livre. O que só teremos depois de uma consciente disputa eleitoral e da pressão popular por resultados das ações dos eleitos. Bem, como disse: liberdade e esperança – ainda sonhos.

domingo, novembro 01, 2009

A cultura do anunciante de cidade pequena

*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes

Existe nas cidades pequenas uma espécie de anúncio por indicação ou camaradagem. Boa parte dos anunciantes acabam fechando acordos comerciais no velho estilo “caderneta” do mercado da esquina. Há também grandes anunciantes que, apesar de terem agências de publicidade, acabam cedendo a todo tipo de mídia.

Mas a questão está na informação de qualidade – rara ou pouco acessível nessas cidades. Jornais semanários são produzidos aos montes em cidades menores – pode-se tirar um ou dois que publicam algo relevante; os demais, no maior espaço da edição, publicam releases de assessoria de políticos da região.

Já nos diários, a relação muda: publicam assuntos relevantes, mas são poucas as histórias que chamam a atenção no meio de tanta coisa noticiada. Aliás, a maior parte das coisas há tempos são apenas noticiadas. Poucas são as histórias que ganham uma narrativa, uma forma bem contada. E o profissional de jornalismo – quando profissional – às vezes se acomoda na pauta repetida, na cadeira e ao telefone; "muitas vezes por força do patrão", como disse um amigo jornalista.

O mesmo ocorre nas Rádios. Programas cheios de anúncios ou terceirizados. E onde o grande chamariz para o anunciante não é a audiência, mas a boa fala do apresentador – que quase sempre vende seus próprios anúncios. É um cargo bastante indefinido este de comunicador e vendedor de publicidade. Algumas TVs também oferecem espaço para anúncios e os produzem – aproveitando-se da cultura (ou falta de) dos anunciantes locais.

Observa-se que, sendo as coisas como são, os anunciantes de cidades pequenas não são muito exigentes – esperam apenas aparecer e certamente não tem controle do retorno de sua publicidade. No máximo possuem estimativas do alcance, de acordo com a tiragem do veículo impresso – que muitas vezes não condiz com a realidade.

E então podemos questionar: se um novo veículo, interessado numa publicação de bom conteúdo, surgisse numa cidade dessas, teria sucesso? É possível que venha a fracassar em pouco tempo. Pois entraria na disputa pelos mesmos anunciantes que já possuem um laço com seus veículos preferidos – difícil de ser quebrado –, e pouco se importam com os leitores destes veículos – preocupam-se mais com o preço do anúncio e a exibição de sua marca, da maneira que for.

É por este motivo que sempre existem anunciantes em revistas que publicam somente classificados e anúncios em geral – comum em cidades pequenas. É uma questão cultural que só se modificará com o acesso à informação de qualidade – e levará um certo tempo para que a população exija tal informação; assim como também levará tempo para que os anunciantes percebam as exigências do público e então escolham anunciar em veículos de qualidade.

No momento, na maioria dessas cidades, a informação vale menos que o espaço, o nome da empresa de comunicação, e a influência das pessoas que fazem a grande imprensa de uma pequena cidade.
 

CONTATO
Colaboradores Ana Carla Teixeira, Anderson Paes, Camila Rufine, Carlos Karan, Deyse Zarichta, Eduardo Daniel, Emanuela Silva, Emanuelle Querino,
Emmanuel Carvalho, Fabiano Bordignon, Fabrício Espíndola, Francine de Mattos, Gabriel Guedes, Germaá Oliveira, Guilherme Marcon, Isabel Cunha, Kellen Baesso, Manuela Prá, Patrícia Martins, Thiago Antunes, Thiago Schwartz, Tiago Tavares, Valter Ziantoni,Van Luchiari, Vanessa Feltrin, Vitor S. Castelo Branco, Viviany Pfleger

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