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quinta-feira, novembro 05, 2009

É documentário, hein...

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

— Duas entradas para o Alô, alô Terezinha.
— É documentário, hein...


É evidente que eu não esperava muita procura para assistir ao documentário Alô, alô Terezinha, de Nelson Hoineff, sobre Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Mas a frase da moça da bilheteria do cinema foi aterradora.

Na sessão, mais um recorde que eu e minha esposa quebramos: apenas nós dois na sala. A outra vez que isto aconteceu foi no também nacional O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburguer.

Alô, alô Terezinha confirma o paradoxo do palhaço, que apesar de fazer – ou tentar – rir, tem a aparência triste. Embora entrecortado por cenas pitorescas do Velho Guerreiro, acompanhei a película com um embaraço na garganta que crescia a cada fala.

Que não se espere deste documentário um mastigado pronto sobre quem e o que foi Chacrinha. Muito mais do que isso, o filme é composto por retalhos de depoimentos expostos de maneira tão anárquica quanto anárquico era Abelardo Barbosa à frente de seus programas televisivos.

Ex-calouros buzinados por Chacrinha ajudam a compor o cenário de saudade. Gente simples que divertiu outros tantos como eles próprios naqueles já distantes anos 60, 70 e 80. Alguns, ainda que claramente desprovidos de qualquer talento artístico, continuam sonhando com uma carreira como cantores.

Das “estrelas”, Roberto Carlos, Alceu Valença, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, entre outros, declaram sua paixão por Chacrinha e documentam a importância do pernambucano para a história da música e da tv brasileira.

Mas o lado melancólico também surge quando as falas são dos “peões” de Chacrinha. As Chacretes, por exemplo. O desprezo dado por muitos ao filme em cartaz é praticamente o mesmo dado àquele pessoal que de uma hora para a outra se viu em total ostracismo.

E é disto justamente que o filme trata com profunda maestria, embora sem demonstrar a menor ambição de ser um melodrama justiceiro dos excluídos televisivos. Muitas das Chacretes entraram em depressão. Algumas enfrentaram problemas com drogas.

O nó que permaneceu na garganta nos 90 minutos de duração do documentário apertou ainda mais quando o maestro do Cassino do Chacrinha, Aloyr Mendes, em idade avançada, toca em seu piano, a clássica melodia do “ô Terezinha, ô Terezinha, é um barato o Cassino do Chacrinha”.

Acompanha a imagem uns últimos depoimentos aonde todos seguram o choro até reaparecer Russo, numa simplicidade extrema, em um bairro pobre, quase sem conseguir falar de tamanha emoção, para depois seguir em frente, num plano de uma rua precária, com um andar trôpego, devagar, sem tentar fugir do destino que há muito lhe alcançou.

Três ou quatro lágrimas escapam furtivamente de cada um de meus olhos. É uma saudade de um tempo que vivi na inocência infantil que esquece de muita coisa.

É triste ver uma sala de cinema vazia quando quem na tela apareceu precisa mais do que ninguém do aplauso e da audiência de todos nós. Só assim, algumas daquelas feridas podem ser cicatrizadas. Por sinal, o Canal Brasil, da tv por assinatura, promete para 2010 uma série especial com as Chacretes.

Antes que esqueça: o diálogo logo no início do texto é uma ficção. A moça da bilheteria, ao contrário do que eu poderia esperar, não demonstrou qualquer reação ao meu pedido. Mas as lágrimas segundos antes dos créditos irromperem a tela foram reais.

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CONTATO
Colaboradores Ana Carla Teixeira, Anderson Paes, Camila Rufine, Carlos Karan, Deyse Zarichta, Eduardo Daniel, Emanuela Silva, Emanuelle Querino,
Emmanuel Carvalho, Fabiano Bordignon, Fabrício Espíndola, Francine de Mattos, Gabriel Guedes, Germaá Oliveira, Guilherme Marcon, Isabel Cunha, Kellen Baesso, Manuela Prá, Patrícia Martins, Thiago Antunes, Thiago Schwartz, Tiago Tavares, Valter Ziantoni,Van Luchiari, Vanessa Feltrin, Vitor S. Castelo Branco, Viviany Pfleger

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