*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes
Entre 1981 e 1983 o mundo passou por uma forte crise econômica. Na América Latina falava-se em moratória e o México puxava a fila em um de seus períodos mais graves. A crise do início da década de 80 também chegou ao Brasil, o assunto por aqui era a dívida externa impossível de se pagar e a inflação – a renda per capita despencou.
Naquele ano de 1983 um vírus originário dos símios foi identificado por franceses e portugueses, estava desvendado o causador da síndrome da imunodeficiência adquirida – a AIDS, na sigla em inglês. O sistema imunológico humano não soube combater o invasor e a esperança para os que contraem a doença ficou nas mãos dos laboratórios e seus coquetéis de alto preço. A crise passou e a AIDS alcançou o mundo todo, silenciosamente. Matou todo tipo de pessoa, independente de sexo, raça ou classe social.
Os anos 80 passaram, o muro de Berlim caiu, a Guerra Fria acabou e lá estávamos em 1995 quando uma nova crise ameaçou se formar e desestabilizar o sistema econômico. No Brasil, esta quase-crise fez com que alguns bancos fossem vendidos e outros fechassem – Nacional, Bamerindus, Econômico, por exemplo. No ano seguinte, uma doença rara e mortalmente rápida reapareceu na África central: o ebola. Dessa vez a crise não aconteceu de fato e passou, como o vírus, de forma bastante rápida. Mas não sem antes espalhar o medo pelo mundo.
Entre 1997 e 1999 breves doses de novas crises, mas foi possível chegar com certa tranquilidade ao novo milênio. Veio o medo do Bug do ano 2000, queda nas bolsas; em 2001 o atentado do dia 11 de setembro e um mundo preocupado com a segurança, no mesmo ano os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e dois anos depois o Iraque também estava explosivo – o que resultou no alto preço do petróleo. Nos anos seguintes a Ásia balançou, a crise voltou a atingir América Latina, a Rússia e chegou à Europa. Foi nessa época que a gripe das aves foi identificada em humanos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou o mundo para o risco de uma nova pandemia, gastou-se milhões com remédios e vacinas. Possivelmente o dinheiro que circulou devido ao medo do terrorismo e da “nova” gripe tenha contribuído para reanimar o mercado internacional nesse começo de século. A tempestade passou, veio a calmaria.
E tudo ia bem até o ano de 2008, quando uma nova crise chegou. Todos os jornais do mundo noticiaram o infeliz momento da economia global – cada vez mais integrada e virtual. Bancos quebraram, empresas pediram ajuda aos governos, as maiores economias do mundo entraram em recessão. Dessa vez, os países em desenvolvimento sentiram menos o impacto da crise e continuaram a vida a seu modo. Foi quando, no México, uma nova doença foi identificada: a gripe suína – mais tarde chamada de Influenza A, H1N1. Logo o medo da pandemia estava na cara das pessoas, nas capas dos jornais, nos anúncios da TV. O vírus alcançou as maiores cidades do mundo em pouco tempo, mas se adaptou mesmo foi ao inverno gelado dos países do hemisfério sul – milhares de casos registrados na Argentina e no Chile.
A gripe, apesar de ter tirado a vida de muita gente, gerou dinheiro e emprego – como todas as outras doenças e guerras que conhecemos. Os governos dos países atingidos ou não, pelo vírus, passaram a comprar grandes doses de medicamentos e acessórios para uma possível “prevenção”. O dinheiro do mundo voltou a circular. O comércio exterior não parou como ameaçava meses antes. Mais uns meses e alguns países saíram da recessão. E a melhor notícia: a vacina está quase pronta para o uso, em tempo de impedir que a gripe alcance os países do hemisfério norte durante o inverno que está por vir.
Mais uma vez a crise dá sinal de que logo vai passar – já é possível ver no noticiário que algumas economias mundiais saíram do vermelho –, e o número de casos de gripe tem diminuído por aqui.
Revendo o passado, ligando os pontos, pode-se pensar numa relação entre economia e saúde – não é de hoje que esses dois assuntos andam juntos. A gripe espanhola, por exemplo, foi identificada logo após a Primeira Guerra Mundial por volta de 1918. A gripe aviária, na Ásia, já havia aparecido nos anos 60 – durante a disputa Estados Unidos x União Soviética e as guerras no Vietnã e na península da Coreia. O ebola também já havia afetado alguns povos da África no ano de 1976.
Talvez nossa História seja mesmo cíclica – com umas poucas mutações.
quarta-feira, setembro 16, 2009
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4 comentários:
Buliram muito com o planeta
E o planeta como um cachorro eu vejo
Se ele já não aguenta mais as pulgas
Se livra delas num sacolejo
Muitas dúvidas, algumas teorias suicidas circulando na internet e enfim de forma clara um comparativo que nos mostra que realmente tua tese pode fazer sentido!
Muito bom teu texto.
Gostei da analogia entre crises e doenças! Bom texto...
Muito bom o texto,adorei.
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