*Gabriel Guedes | www.twitter.com/gabrielzguedes
Estava aqui, terminando o ritual de tomar café da manhã, acompanhando a música e as notícias pela Itapema FM de Porto Alegre nesta terça-feira. De repente, me dei conta que estava ouvindo uma música muito bem composta no rádio. Era o Marcelo D2 (e eu não sou fã do D2) interpretando um dos sucessos de Bezerra da Silva: Candidato caô caô.
Ele regravou a canção recentemente, neste mês de agosto ainda. Tanto é que ainda nem há vídeo ou áudio disponível na rede.
Sem problemas. O que você vê e ouve aqui é o original do Bezerra da Silva, nascido nordestino, do Recife, sambista carioca, que morreu em 17 de janeiro de 2005, aos 77 anos de idade. Foi mendigo por sete anos em Copacabana. Mas resgatado das ruas por um Santo da Umbanda, deslanchou a carreira musical. Nunca deixando para trás as raízes e a criação no Morro do Cantagalo.
Justamente por morar numa das favelas do Rio, só "enxergava o Estado" quando a PM subia o morro ou em época de eleições, quando os candidatos resolviam "cair no gosto do povão".
Agora, 2010, praticamente faltando um mês para o pleito. Para conquistar o voto dos eleitores vale tudo. Candidatos "podres de rico", que tem "nojo de pobre em dias normais" (ou sem eleição), vão nas favelas e até apertam a mão do povo (passando alcool gel em seguida). Aqui no Rio Grande do Sul, tem candidato encarando até dobradinha e mocotó (que é ruim de comer, porque cheira muito mal). Quem é de fora (como é o caso da maioria dos candidatos à Presidência da República) tenta tomar chimarrão e queima a língua. Ah, e disfarça a cara feia para mostrar que está tudo bem. Em Santa Catarina, candidato que não sabe pescar, tenta tarrafear, para mostrar que é amigo dos pescadores artesanais, e só puxa algas e conchas. Vai tentar tirar o siri da rede e ainda leva um beliscão do crustáceo.
É, temos que ficar de olho nestes candidatos que tentam dar o golpe, o "caô", na hora de conquistar teu voto. Todos vendem a imagem de que são de origem humilde, de famílias pobres. O que eu duvido muito. O marketing político faz alguns milagres. Então, se os nossos políticos não estão sendo honestos agora, imagina então quando estiverem no poder. A minha dica é: sempre, mas sempre desconfie das intenções de todos. Nada é o que parece ser o que é.
terça-feira, agosto 31, 2010
sexta-feira, agosto 27, 2010
Novatos de sucesso
*Kellen Baesso | www.twitter.com/kellenbaesso
Apresentada aos espectadores como Grey’s Anatomy policial, Rookie Blue estreou nos Estados Unidos no dia 24 de junho. O piloto, intitulado Fresh Paint, não decepcionou e a audiência dos primeiros três episódios garantiu a renovação para a segunda temporada. A série é fruto da criação de Morwyn Brebner, Cameron Tassie e Vantoni Ellen e tem como foco o drama e a vida dos personagens, nos mostrando seu dia a dia.
Mas por que Grey’s Anatomy policial? Bem, no piloto conhecemos policiais novatos que após o curso e a formação para desempenhar tal função, iniciam seu trabalho na delegacia. Cada um tem um mentor, digamos assim, alguém mais experiente que vai ser o responsável por ele e o ensinará como se portar diante das situações da profissão. Como ocorre em Grey’s, mas com médicos.
Porém, deixando essa comparação para lá, até porque só assisti a primeira temporada de Grey’s e odeio comparações, vamos ao piloto de Rookie Blue. Nele somos apresentados aos cinco novatos, que depois da noite de bebedeira e comemoração, aparecem prontos para o combate ao crime. Como o início na carreira nunca é fácil, eles sofrem com a inexperiência e precisam de seus tutores, além de muita força de vontade para superar seus medos e as dificuldades na estreia como policiais.
Por que Rookie Blue? Rookie significa novato e o blue se refere a cor do uniforme dos policiais nos Estados Unidos. Os cinco protagonistas são Andy (Missy Peregrym), filha de um policial aposentado e alcoólatra; é quem resolve o caso principal do piloto e parece ter chamado a atenção do policial Sam Swareck e do detetive Luke Callaghan;Traci (Enuka Okuma), a novata tem um romance secreto com um dos instrutores, o detetive Jerry; Gail (Charlotte Sullivan), chama atenção já na primeira cena, uma loira de batom forte, assim como sua personalidade; ela meio que trapaceia no trote que recebem dos policiais e vem de uma família de policiais também; Dov (Gregory Smith), foi um dos “azarados” que não para as ruas no primeiro dia, ficou com a parte burocrática; e Chris (Travis Milne), que não chama muito a atenção no piloto, mas ganha seu espaço durante os episódios. Teve uma única namorada e pensa em pedí-la em casamento já que estão juntos há tanto tempo.
Ação, drama, romance e uma pitada de comédia são os ingredientes dessa estreante de sucesso. Confira!
Apresentada aos espectadores como Grey’s Anatomy policial, Rookie Blue estreou nos Estados Unidos no dia 24 de junho. O piloto, intitulado Fresh Paint, não decepcionou e a audiência dos primeiros três episódios garantiu a renovação para a segunda temporada. A série é fruto da criação de Morwyn Brebner, Cameron Tassie e Vantoni Ellen e tem como foco o drama e a vida dos personagens, nos mostrando seu dia a dia.
Mas por que Grey’s Anatomy policial? Bem, no piloto conhecemos policiais novatos que após o curso e a formação para desempenhar tal função, iniciam seu trabalho na delegacia. Cada um tem um mentor, digamos assim, alguém mais experiente que vai ser o responsável por ele e o ensinará como se portar diante das situações da profissão. Como ocorre em Grey’s, mas com médicos.
Porém, deixando essa comparação para lá, até porque só assisti a primeira temporada de Grey’s e odeio comparações, vamos ao piloto de Rookie Blue. Nele somos apresentados aos cinco novatos, que depois da noite de bebedeira e comemoração, aparecem prontos para o combate ao crime. Como o início na carreira nunca é fácil, eles sofrem com a inexperiência e precisam de seus tutores, além de muita força de vontade para superar seus medos e as dificuldades na estreia como policiais.
Por que Rookie Blue? Rookie significa novato e o blue se refere a cor do uniforme dos policiais nos Estados Unidos. Os cinco protagonistas são Andy (Missy Peregrym), filha de um policial aposentado e alcoólatra; é quem resolve o caso principal do piloto e parece ter chamado a atenção do policial Sam Swareck e do detetive Luke Callaghan;Traci (Enuka Okuma), a novata tem um romance secreto com um dos instrutores, o detetive Jerry; Gail (Charlotte Sullivan), chama atenção já na primeira cena, uma loira de batom forte, assim como sua personalidade; ela meio que trapaceia no trote que recebem dos policiais e vem de uma família de policiais também; Dov (Gregory Smith), foi um dos “azarados” que não para as ruas no primeiro dia, ficou com a parte burocrática; e Chris (Travis Milne), que não chama muito a atenção no piloto, mas ganha seu espaço durante os episódios. Teve uma única namorada e pensa em pedí-la em casamento já que estão juntos há tanto tempo.
Ação, drama, romance e uma pitada de comédia são os ingredientes dessa estreante de sucesso. Confira!
quinta-feira, agosto 26, 2010
terça-feira, agosto 24, 2010
Votar pra quê?
*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel
Não bastasse os resquícios nazifacista da Voz do Brasil de segunda a sexta-feira às sete horas da noite em todas as rádios do Brasil, temos que aturar de dois em dois anos a propaganda eleitoral gratuita.
Gratuita uma pinóia! Se tem dinheiro pra contratar marqueteiro, que pague pelo espaço. Se não tem, que nem funde o partido. Ou me explique como alguém que não pode pagar uma mísera propaganda quer governar um país?
É um assalto aos cofres das emissoras de TV e rádio do Brasil estes dois espaços diários em horários nobres dado aos partidos que visam apenas se locupletar do erário durante os próximos anos.
A intenção da gratuidade do espaço destinado aos partidos é nobre, não fosse a enorme diferença do investimento de uns e de outros, além das brechas que a luta por segundos a mais de exibição circense deixa para o surgimento dos partidos nanicos que nada mais servem do que se prestarem ao serviço sujo e relés de capacho dos maiores.
Existisse equilíbrio de forças nas propagandas, não teríamos candidatos comendo palavras para dizer tudo o que querem dizer e outros com tempo de sobra para mostrar musiquinhas grudentas feitas por encomenda a custo de muito dinheiro.
Sem contar no tremendo desperdício de tempo com tanta bobagem e mentiras deslavadas. Ou tem gente que ainda acredita em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Mula Sem Cabeça?
Todo candidato tem a solução para todos os problemas. Não sei então porque sofremos com tantas mazelas. Todos eles tocam em saúde, educação, segurança e geração de emprego. Mas seguimos morrendo em corredores de hospitais públicos, analfabetos, assaltados e de pires nas mãos em busca dos benefícios sociais, geração após geração, presidente após presidente, partido após partido, idelogia após ideologia...
E o mesmo lenga-lenga acontece nos debates. As perguntas são sempre direcionadas pensando na réplica e nada mais. Duvido que uns prestem atenção nas respostas dos outros. E como o discurso é sempre ensaiadinho, não?
Tudo dá tão certo, tudo é tão fácil. Todos são tão iguais...
Sei que política é importante (o problema são os políticos) e de toda a falácia em cima do tema de que quem não se interessa é governado por quem se interessa. Eu me interesso, mas mesmo assim sou governado por gente da qual eu não ligo a mínima. Desprezo e ignoro veementemente votando seguindo um conselho do mestre Raulzito:
– Vote nulo, não alimente os parasitas!
Não bastasse os resquícios nazifacista da Voz do Brasil de segunda a sexta-feira às sete horas da noite em todas as rádios do Brasil, temos que aturar de dois em dois anos a propaganda eleitoral gratuita.
Gratuita uma pinóia! Se tem dinheiro pra contratar marqueteiro, que pague pelo espaço. Se não tem, que nem funde o partido. Ou me explique como alguém que não pode pagar uma mísera propaganda quer governar um país?
É um assalto aos cofres das emissoras de TV e rádio do Brasil estes dois espaços diários em horários nobres dado aos partidos que visam apenas se locupletar do erário durante os próximos anos.
A intenção da gratuidade do espaço destinado aos partidos é nobre, não fosse a enorme diferença do investimento de uns e de outros, além das brechas que a luta por segundos a mais de exibição circense deixa para o surgimento dos partidos nanicos que nada mais servem do que se prestarem ao serviço sujo e relés de capacho dos maiores.
Existisse equilíbrio de forças nas propagandas, não teríamos candidatos comendo palavras para dizer tudo o que querem dizer e outros com tempo de sobra para mostrar musiquinhas grudentas feitas por encomenda a custo de muito dinheiro.
Sem contar no tremendo desperdício de tempo com tanta bobagem e mentiras deslavadas. Ou tem gente que ainda acredita em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Mula Sem Cabeça?
Todo candidato tem a solução para todos os problemas. Não sei então porque sofremos com tantas mazelas. Todos eles tocam em saúde, educação, segurança e geração de emprego. Mas seguimos morrendo em corredores de hospitais públicos, analfabetos, assaltados e de pires nas mãos em busca dos benefícios sociais, geração após geração, presidente após presidente, partido após partido, idelogia após ideologia...
E o mesmo lenga-lenga acontece nos debates. As perguntas são sempre direcionadas pensando na réplica e nada mais. Duvido que uns prestem atenção nas respostas dos outros. E como o discurso é sempre ensaiadinho, não?
Tudo dá tão certo, tudo é tão fácil. Todos são tão iguais...
Sei que política é importante (o problema são os políticos) e de toda a falácia em cima do tema de que quem não se interessa é governado por quem se interessa. Eu me interesso, mas mesmo assim sou governado por gente da qual eu não ligo a mínima. Desprezo e ignoro veementemente votando seguindo um conselho do mestre Raulzito:
– Vote nulo, não alimente os parasitas!
domingo, agosto 22, 2010
O motorista iraquiano
*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes
No meu último dia em Londres, a caminho do aeroporto de Heathrow, o motorista que me leva até lá é um iraquiano que foge ao estereótipo pré-fabricado no ocidente. Um sujeito com seus 40 e poucos anos, olhos claros, cabelos brancos. Um sotaque aparente, simpatia e indignação.
Bom, isso só descobri no caminho para o aeroporto. Sabe-se lá porquê me perguntou sobre a Holanda, pensando que eu fosse de lá. Quando eu disse que era brasileiro e novas perguntas vieram. Tínhamos algo em comum agora. “Temos um povo acolhedor em comum. Os latinos e as pessoas do Oriente Médio são mais felizes e acolhedoras, não são?”, perguntou ele, sorrindo. Concordei e comentei que conheci alguns árabes no tempo que vivi no Canadá, sempre fazendo piadas. Ele completou: “É, a gente tem que superar com o humor”. Algo que reconheci bem brasileiro.
Em seguida questionou se as coisas eram caras, se comparássemos Brasil e Inglaterra. Talvez pelo peso da minha mala, que só anda pesada porque cansei de carregar duas e coloquei a pequena dentro da maior. Bem, ele não conhece nossa carga tributária.
Mas o assunto foi interrompido por uma questão de trabalho:
— Terminal 5, certo?
— Sim, cinco.
Passado uns minutos, enquanto eu olhava pela janela as casas sem grades, ele tocou no assunto da guerra e na esperança que ainda tem. Comentei que os americanos estão deixando o Iraque. Ele disse que sim e continuou: “Mas essa guerra, essa coisa toda que acontece na minha terra, é por dinheiro. Ninguém se importa se somos muçulmanos, cristãos ou qualquer outra coisa. Disseram que havia armas por lá e não havia nada. Só desculpa. Só querem saber do dinheiro. E essa gente é tão gananciosa que no fim alguma razão têm uns loucos como Chávez e Ahmadinejad. É bem capaz de outra guerra começar. Gananciosos!”, exclamou, mostrando-se indignado.
O Terminal 5 estava próximo. O clima londrino com umas nuvens escuras viraram pergunta: “Você gostou do clima de Londres?”, questionou. Concordei e disse que me sentia bem naqueles 19 graus – depois de quase um ano vivendo no frio já não enfrento mais o calor do mesmo jeito.
“É aqui. Você já esteve aqui antes?”, perguntou enquanto parava o carro. Paguei a viagem e ele me ajudou com a mala. Agradeceu a corrida e a conversa.
E hoje penso que o iraquiano de Londres gostava de conversar e talvez, mais que isso, tivesse necessidade de ser ouvido. A população em geral não tem tanto espaço assim para comentar o que pensa e muitos não sabem como, onde ou a quem dizer. Ainda mais para alguém que vem de um país em conflito, coberto de preconceito pelo mundo ocidental e inconscientemente vigiado.
No meu último dia em Londres, a caminho do aeroporto de Heathrow, o motorista que me leva até lá é um iraquiano que foge ao estereótipo pré-fabricado no ocidente. Um sujeito com seus 40 e poucos anos, olhos claros, cabelos brancos. Um sotaque aparente, simpatia e indignação.
Bom, isso só descobri no caminho para o aeroporto. Sabe-se lá porquê me perguntou sobre a Holanda, pensando que eu fosse de lá. Quando eu disse que era brasileiro e novas perguntas vieram. Tínhamos algo em comum agora. “Temos um povo acolhedor em comum. Os latinos e as pessoas do Oriente Médio são mais felizes e acolhedoras, não são?”, perguntou ele, sorrindo. Concordei e comentei que conheci alguns árabes no tempo que vivi no Canadá, sempre fazendo piadas. Ele completou: “É, a gente tem que superar com o humor”. Algo que reconheci bem brasileiro.
Em seguida questionou se as coisas eram caras, se comparássemos Brasil e Inglaterra. Talvez pelo peso da minha mala, que só anda pesada porque cansei de carregar duas e coloquei a pequena dentro da maior. Bem, ele não conhece nossa carga tributária.
Mas o assunto foi interrompido por uma questão de trabalho:
— Terminal 5, certo?
— Sim, cinco.
Passado uns minutos, enquanto eu olhava pela janela as casas sem grades, ele tocou no assunto da guerra e na esperança que ainda tem. Comentei que os americanos estão deixando o Iraque. Ele disse que sim e continuou: “Mas essa guerra, essa coisa toda que acontece na minha terra, é por dinheiro. Ninguém se importa se somos muçulmanos, cristãos ou qualquer outra coisa. Disseram que havia armas por lá e não havia nada. Só desculpa. Só querem saber do dinheiro. E essa gente é tão gananciosa que no fim alguma razão têm uns loucos como Chávez e Ahmadinejad. É bem capaz de outra guerra começar. Gananciosos!”, exclamou, mostrando-se indignado.
O Terminal 5 estava próximo. O clima londrino com umas nuvens escuras viraram pergunta: “Você gostou do clima de Londres?”, questionou. Concordei e disse que me sentia bem naqueles 19 graus – depois de quase um ano vivendo no frio já não enfrento mais o calor do mesmo jeito.
“É aqui. Você já esteve aqui antes?”, perguntou enquanto parava o carro. Paguei a viagem e ele me ajudou com a mala. Agradeceu a corrida e a conversa.
E hoje penso que o iraquiano de Londres gostava de conversar e talvez, mais que isso, tivesse necessidade de ser ouvido. A população em geral não tem tanto espaço assim para comentar o que pensa e muitos não sabem como, onde ou a quem dizer. Ainda mais para alguém que vem de um país em conflito, coberto de preconceito pelo mundo ocidental e inconscientemente vigiado.
quinta-feira, agosto 19, 2010
terça-feira, agosto 17, 2010
Reatando laços com o Rio dos Sinos
*Gabriel Guedes | www.twitter.com/gabrielzguedes
Existem várias maneiras de se contemplar o Rio dos Sinos. Um rápido e corriqueiro passar de olhos sobre as pontes na BR-116 e BR-386, um livro de fotos do rio ou até mesmo um exótico passeio a bordo do barco Martim Pescador. São Leopoldo e Novo Hamburgo se desenvolveram com o Rio dos Sinos como referência. Foi por ele que chegaram os imigrantes alemães, que muitas famílias se alimentaram de peixes, lavaram roupas e se refrescaram durante os tórridos verões da região. No entanto, o desenvolvimento do Vale nos levou a se distanciar do Sinos e a cortar os laços de amizade que existiam desde os primórdios.
Separadas pelo Rio dos Sinos, juntas, as duas cidades são maiores que muitas capitais brasileiras, com cerca de 500 mil habitantes. As margens, amplas, foram engolidas pela selva de concreto e asfalto. Com isso, as enchentes que antigamente eram sinônimo de terra fértil para a agricultura, se tornaram entrave para a expansão urbana. Ergue-se, então, um muro e com ele, a separação quase que definitiva entre comunidade e rio.
Não se questiona a construção dos diques. Uma obra essencial, sem dúvida. Muitas vidas foram salvas diante dos alagamentos ocasionados pelo Rio dos Sinos.
No entanto, como num dever de gratidão por tudo o que possibilitou, a comunidade de Novo Hamburgo e, principalmente, São Leopoldo, precisa voltar o olhar para o rio. Reatar os laços de afeto.
Um dos programas preferidos de quem habita a Capital, nos finais de semana, é ver o pôr do sol no Guaíba. E você sabia que o pôr do sol, no Rio dos Sinos, em São Leopoldo, também propicia prazerosos finais de tarde?
Contudo, o aproveitamento do Sinos na área urbana esbarra em diversos fatores. Desde a poluição na água, causando mau cheiro, até a falta de segurança. Como fotografar e sorver um chimarrão no fim de tarde se há o risco de tomarem sua câmera de assalto?
Além do mais, é preciso criar uma infraestrutura de lazer: pistas de cooper, equipamentos de exercícios físicos, passarelas e decks, acessibilidade para portadores de deficiência, parque de brinquedos e quiosques, por exemplo. Entretanto, muito mais do que lazer, é uma maneira de reunir pessoas em torno de atividades saudáveis e que promovam a integração familiar. Ganha também a cidade, com revitalização de áreas degradadas e a população de baixa renda, que terá futuro com melhor infraestrutura urbana e de moradia. A economia será aditivada pelo dinheiro do turismo, com a criação deste novo cartão-postal.
A tarefa é árdua e requer dos administradores de ambas cidades atitude para colocá-la em prática. O primeiro passo pode começar pela despoluição do Rio dos Sinos.
Este artigo foi publicado jornal ABC Domingo (Novo Hamburgo, RS) em 8 de agosto de 2010 e está também em www.gabrielguedes.com.br
Existem várias maneiras de se contemplar o Rio dos Sinos. Um rápido e corriqueiro passar de olhos sobre as pontes na BR-116 e BR-386, um livro de fotos do rio ou até mesmo um exótico passeio a bordo do barco Martim Pescador. São Leopoldo e Novo Hamburgo se desenvolveram com o Rio dos Sinos como referência. Foi por ele que chegaram os imigrantes alemães, que muitas famílias se alimentaram de peixes, lavaram roupas e se refrescaram durante os tórridos verões da região. No entanto, o desenvolvimento do Vale nos levou a se distanciar do Sinos e a cortar os laços de amizade que existiam desde os primórdios.
Separadas pelo Rio dos Sinos, juntas, as duas cidades são maiores que muitas capitais brasileiras, com cerca de 500 mil habitantes. As margens, amplas, foram engolidas pela selva de concreto e asfalto. Com isso, as enchentes que antigamente eram sinônimo de terra fértil para a agricultura, se tornaram entrave para a expansão urbana. Ergue-se, então, um muro e com ele, a separação quase que definitiva entre comunidade e rio.
Não se questiona a construção dos diques. Uma obra essencial, sem dúvida. Muitas vidas foram salvas diante dos alagamentos ocasionados pelo Rio dos Sinos.
No entanto, como num dever de gratidão por tudo o que possibilitou, a comunidade de Novo Hamburgo e, principalmente, São Leopoldo, precisa voltar o olhar para o rio. Reatar os laços de afeto.
Um dos programas preferidos de quem habita a Capital, nos finais de semana, é ver o pôr do sol no Guaíba. E você sabia que o pôr do sol, no Rio dos Sinos, em São Leopoldo, também propicia prazerosos finais de tarde?
Contudo, o aproveitamento do Sinos na área urbana esbarra em diversos fatores. Desde a poluição na água, causando mau cheiro, até a falta de segurança. Como fotografar e sorver um chimarrão no fim de tarde se há o risco de tomarem sua câmera de assalto?
Além do mais, é preciso criar uma infraestrutura de lazer: pistas de cooper, equipamentos de exercícios físicos, passarelas e decks, acessibilidade para portadores de deficiência, parque de brinquedos e quiosques, por exemplo. Entretanto, muito mais do que lazer, é uma maneira de reunir pessoas em torno de atividades saudáveis e que promovam a integração familiar. Ganha também a cidade, com revitalização de áreas degradadas e a população de baixa renda, que terá futuro com melhor infraestrutura urbana e de moradia. A economia será aditivada pelo dinheiro do turismo, com a criação deste novo cartão-postal.
A tarefa é árdua e requer dos administradores de ambas cidades atitude para colocá-la em prática. O primeiro passo pode começar pela despoluição do Rio dos Sinos.
Este artigo foi publicado jornal ABC Domingo (Novo Hamburgo, RS) em 8 de agosto de 2010 e está também em www.gabrielguedes.com.br
terça-feira, agosto 10, 2010
Nas entrelinhas do Cálice e a ditadura militar
*Emanuela da Silva | www.twitter.com/manujnl
A forma como o governo pensava sobre a classe artitisca: O regime militar da época pode ser definido como simples, controlador, ditador, pois "isolado, cantando para a classe média da cultura, o artitista não era um perigo", no entando a estratégia do governo mudou depois da radicalização que atingiu a classe média.
O autor da música Cálice , Chico Buarque de Holanda foi um dos autores mais perseguidos pela posição política teve suas composições censuradas. Foi para o Exílio na Itália, em 1970, a época era marcada pela repressão militar pois o AI-5 (ato instiucional numero cinco, 13/12/1968), instaurou no país medo, revoltas e punições severas em todos os segmentos sociais e culturais.
Nada escapava aos olhos e ouvidos atentos do regime militar, essa foi a fase mais criativa da MBP, porque a vontade de falar inspirou músicas como Cálice, Construção, O bêbado e a equilibrista, Mestre Sala das Marés, Pra Não dizer que não falei das flores, e muitas outras.
Voltando a Chico, começou a usar o pseudonimo Julinho da Adelaide. Os trechos destacados na letra acima é uma pequena interpretação do período militar no Brasil. O contexto histórico é muito mais amplo, as entrelinhas sugerem diversas interpretações. Exemplos da crueldade da época de acordo com Arns (1985, p.39):
A pessoa acima torturada era uma mulher, imaginem o que mais esconde a nossa história? Muita dor vergonha, sangue, corpos nunca encontrados uma mancha irreversível na memória brasileira.
A forma como o governo pensava sobre a classe artitisca: O regime militar da época pode ser definido como simples, controlador, ditador, pois "isolado, cantando para a classe média da cultura, o artitista não era um perigo", no entando a estratégia do governo mudou depois da radicalização que atingiu a classe média.
Cálice
(Chico Buarque)
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Afastar a repressão comemorada com vinho simbolizando o sangue dos muitos torturados, cálice: aquiete-se, não fale... essa bebida tão amarga pro corpo dos perseguidos e para a sociedade.
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Neste período as casas dos presos políticos eram invadidas muitas mulheres foram espancadas, estupradas e mortas.
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Calar é a ordem , ficar mudo diante da injustiça, calar para não denúnciar,
e durante a noite as tropas saiam perseguindo os "traidores" ao regime.
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Torturas de todos os tipos físicos e morais, a morte não era nada perto das agressões , humilhações nos porões do DOI-CODI, e do DOPS quero gritar e mostrar tudo o que não pode ser visto.
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Censura nos jornais, músicas, revistas, rádios e tvs nada pode ser denunciado sobre o regime. Em silêncio muitos corpos foram atirados em corregos, outros apodreceram em hospícios com nomes trocados sob torturas, choque elétricos, remédios etc..
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
"A porca" referente ao governo, golpes,desvio de verbas, armas compradas com capital estrangeiro, a corja do poder.
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
É impossível andar nas ruas os toques de recolher se estivesse em lugares não altorizados sem documentação cadeia na certa.
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
Só beber para esquecer o caos a ilusão que alimenta o coração dos deseperados sem solução, condenados.
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Não a minha mas a quem me atrapalha , meus planos, perder acabar com o juízo transformar em loucos.
Minha cabeça perder teu juízo
Não juízo que não o do regime o poder dos militares só está voz poderia ser ouvida. Beber esquecer a repressão,revolta, tentar achar uma solução na alienação.
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Fumaça sinal do progresso, a indústria nas capitais.
Me embriagar até que alguem me esqueça
O autor da música Cálice , Chico Buarque de Holanda foi um dos autores mais perseguidos pela posição política teve suas composições censuradas. Foi para o Exílio na Itália, em 1970, a época era marcada pela repressão militar pois o AI-5 (ato instiucional numero cinco, 13/12/1968), instaurou no país medo, revoltas e punições severas em todos os segmentos sociais e culturais.
Nada escapava aos olhos e ouvidos atentos do regime militar, essa foi a fase mais criativa da MBP, porque a vontade de falar inspirou músicas como Cálice, Construção, O bêbado e a equilibrista, Mestre Sala das Marés, Pra Não dizer que não falei das flores, e muitas outras.
Voltando a Chico, começou a usar o pseudonimo Julinho da Adelaide. Os trechos destacados na letra acima é uma pequena interpretação do período militar no Brasil. O contexto histórico é muito mais amplo, as entrelinhas sugerem diversas interpretações. Exemplos da crueldade da época de acordo com Arns (1985, p.39):
O interrogado sofreu espancamento com um cassetete de alumínio nas nádegas, até deixá-lo, naquele local, em, carne viva, o colocaram sobre latas abertas, que se recorda bem , eram de massa de tomates, para que ali se equilibrassem, descalços, e, toda vez que ia perdendo o equilíbrio acionavam uma máquina que reproduzia choques elétricos , o que obrigava ao interrogado à recuperação do equilíbrio [..] a interro gada quer ainda declarar que durante a primeira fase do interrogatório fortam colocadas baratas sobre seu corpo e introduzida uma no seu ânus.
A pessoa acima torturada era uma mulher, imaginem o que mais esconde a nossa história? Muita dor vergonha, sangue, corpos nunca encontrados uma mancha irreversível na memória brasileira.
segunda-feira, agosto 09, 2010
Opinião é pra quem quer
*Ana Carla Teixeira | www.twitter.com/kahteixeira
— Quero comprar alguma coisa. Me dá tua opinião?
— Compre um liquidificador novo.
— Nós temos liquidificador!
— E ele tem 5 potencias e para de funcionar na 2ª.
— Bom! Ele ainda funciona na 1ª! Vou comprar uma TV nova.
— Nós temos TV!
— E ela tem uma mancha rosa muito estranha no meio da tela.
— Bom! Nós gostamos de rosa. Compre um ar condicionado novo.
— Estamos no inverno!
— E é quando os preços de ar condicionados caem.
— Bom! E ele enferruja até o verão. Vou comprar uma cama nova.
— Você tem uma cama!
— Mas você já viu as novas camas box?
— Lindas! Mas venda um dos seus rins para pagar uma. Compre um cachorro.
— Cachorros cagam.
— Você também.
— Mas vai pra um lugar que não é a minha calçada. Você não está me ajudando.
— Desculpe, vou te dar uma ótima opinião agora!
— E qual é?
— Compre nitroglicerina e vá pro inferno.
— Espera…
— Quero comprar alguma coisa. Me dá tua opinião?
— Compre um liquidificador novo.
— Nós temos liquidificador!
— E ele tem 5 potencias e para de funcionar na 2ª.
— Bom! Ele ainda funciona na 1ª! Vou comprar uma TV nova.
— Nós temos TV!
— E ela tem uma mancha rosa muito estranha no meio da tela.
— Bom! Nós gostamos de rosa. Compre um ar condicionado novo.
— Estamos no inverno!
— E é quando os preços de ar condicionados caem.
— Bom! E ele enferruja até o verão. Vou comprar uma cama nova.
— Você tem uma cama!
— Mas você já viu as novas camas box?
— Lindas! Mas venda um dos seus rins para pagar uma. Compre um cachorro.
— Cachorros cagam.
— Você também.
— Mas vai pra um lugar que não é a minha calçada. Você não está me ajudando.
— Desculpe, vou te dar uma ótima opinião agora!
— E qual é?
— Compre nitroglicerina e vá pro inferno.
— Espera…
terça-feira, agosto 03, 2010
As viúvas do Senna
*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel
Tornou-se lugar comum para os fãs de automobilismo no Brasil, dizer que depois da morte do tricampeão mundial Ayrton Senna, a Fórmula 1 nunca mais foi a mesma. Uns dizem até que depois daquele 1° de maio de 1994 nunca mais acordaram cedo aos domingos para acompanhar uma corridazinha que fosse.
Puro jogo de cena. Pode apostar que quem nunca assistiu a uma corrida de Fórmula 1 depois da morte de Senna, também nunca assistiu uma prova antes de seu falecimento.
Também é evidente que a Fórmula 1 depois da morte do Senna mudou. Para pior, ou para melhor, é questão de opinião, mas o fato é que, a categoria mais famosa do automobilismo para nós brasileiros, mudaria com ou sem Ayrton Senna.
Lamentar, após cada escândalo de ética da Fórmula 1, a morte de Senna, ligando a sua pessoa a lisura que o esporte teria hoje, não faz o menor sentido, uma vez que, para Senna, o que importava mesmo era a vitória, custasse o que poderia custar.
Outro senão cabe ao fato de que o brasileiro, infelizmente e historicamente, não é tão ético quanto parece só porque joga tudo o que tem em mãos no ventilador a cada escândalo na Fórmula 1.
Se 90% dos brasileiros queimariam o Massa numa fogueira se assim pudessem, quase 100% também construiria uma estátua para Alonso, se o espanhol desse a preferência ao nosso compatriota.
Tornou-se lugar comum para os fãs de automobilismo no Brasil, dizer que depois da morte do tricampeão mundial Ayrton Senna, a Fórmula 1 nunca mais foi a mesma. Uns dizem até que depois daquele 1° de maio de 1994 nunca mais acordaram cedo aos domingos para acompanhar uma corridazinha que fosse.
Puro jogo de cena. Pode apostar que quem nunca assistiu a uma corrida de Fórmula 1 depois da morte de Senna, também nunca assistiu uma prova antes de seu falecimento.
Também é evidente que a Fórmula 1 depois da morte do Senna mudou. Para pior, ou para melhor, é questão de opinião, mas o fato é que, a categoria mais famosa do automobilismo para nós brasileiros, mudaria com ou sem Ayrton Senna.
Lamentar, após cada escândalo de ética da Fórmula 1, a morte de Senna, ligando a sua pessoa a lisura que o esporte teria hoje, não faz o menor sentido, uma vez que, para Senna, o que importava mesmo era a vitória, custasse o que poderia custar.
Outro senão cabe ao fato de que o brasileiro, infelizmente e historicamente, não é tão ético quanto parece só porque joga tudo o que tem em mãos no ventilador a cada escândalo na Fórmula 1.
Se 90% dos brasileiros queimariam o Massa numa fogueira se assim pudessem, quase 100% também construiria uma estátua para Alonso, se o espanhol desse a preferência ao nosso compatriota.
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