*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes
No meu último dia em Londres, a caminho do aeroporto de Heathrow, o motorista que me leva até lá é um iraquiano que foge ao estereótipo pré-fabricado no ocidente. Um sujeito com seus 40 e poucos anos, olhos claros, cabelos brancos. Um sotaque aparente, simpatia e indignação.
Bom, isso só descobri no caminho para o aeroporto. Sabe-se lá porquê me perguntou sobre a Holanda, pensando que eu fosse de lá. Quando eu disse que era brasileiro e novas perguntas vieram. Tínhamos algo em comum agora. “Temos um povo acolhedor em comum. Os latinos e as pessoas do Oriente Médio são mais felizes e acolhedoras, não são?”, perguntou ele, sorrindo. Concordei e comentei que conheci alguns árabes no tempo que vivi no Canadá, sempre fazendo piadas. Ele completou: “É, a gente tem que superar com o humor”. Algo que reconheci bem brasileiro.
Em seguida questionou se as coisas eram caras, se comparássemos Brasil e Inglaterra. Talvez pelo peso da minha mala, que só anda pesada porque cansei de carregar duas e coloquei a pequena dentro da maior. Bem, ele não conhece nossa carga tributária.
Mas o assunto foi interrompido por uma questão de trabalho:
— Terminal 5, certo?
— Sim, cinco.
Passado uns minutos, enquanto eu olhava pela janela as casas sem grades, ele tocou no assunto da guerra e na esperança que ainda tem. Comentei que os americanos estão deixando o Iraque. Ele disse que sim e continuou: “Mas essa guerra, essa coisa toda que acontece na minha terra, é por dinheiro. Ninguém se importa se somos muçulmanos, cristãos ou qualquer outra coisa. Disseram que havia armas por lá e não havia nada. Só desculpa. Só querem saber do dinheiro. E essa gente é tão gananciosa que no fim alguma razão têm uns loucos como Chávez e Ahmadinejad. É bem capaz de outra guerra começar. Gananciosos!”, exclamou, mostrando-se indignado.
O Terminal 5 estava próximo. O clima londrino com umas nuvens escuras viraram pergunta: “Você gostou do clima de Londres?”, questionou. Concordei e disse que me sentia bem naqueles 19 graus – depois de quase um ano vivendo no frio já não enfrento mais o calor do mesmo jeito.
“É aqui. Você já esteve aqui antes?”, perguntou enquanto parava o carro. Paguei a viagem e ele me ajudou com a mala. Agradeceu a corrida e a conversa.
E hoje penso que o iraquiano de Londres gostava de conversar e talvez, mais que isso, tivesse necessidade de ser ouvido. A população em geral não tem tanto espaço assim para comentar o que pensa e muitos não sabem como, onde ou a quem dizer. Ainda mais para alguém que vem de um país em conflito, coberto de preconceito pelo mundo ocidental e inconscientemente vigiado.
1 comentários:
Se eu dirigisse 8 horas por dia, também gostaria de conversar :)
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