*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel
De assunto para quando não tínhamos assunto, a preocupação com o tempo virou destaque nos noticiários de todo o país. A previsão do tempo ganhou chamada em bloco anterior de telejornal e manchete na escalada das notícias.
São os fenômenos climáticos novos que dão as caras no Brasil ou é a televisão que chega aonde não chegava antes e mostra o que não mostrava?
Vivo no Sul de Santa Catarina. Nosso estado nunca foi tão noticiado como agora. Inclusive minha cidade, Tubarão, com imagens de um tornado no Fantástico. Nem por isso, vivemos aqui num clima de pavor como devem pensar os brasileiros do resto do Brasil.
Mesmo assim, se você jogar a pergunta despretensiosa no ar “se vai chover” quando o assunto acabar, terá como resposta não apenas palpites, mas previsões embasadas em termos técnicos. A maioria por aqui tem o seu meteorologista preferido e o defende com ardor religioso.
Antes era a música do Plantão da Rede Globo que calava todos na sala. Hoje é uma mulher com pinta de atriz em frente a um mapa recheado de sóis e nuvens que rouba a atenção para a, como diria Sérgio Porto na pele de Stanislaw Ponte Preta, “máquina de fazer de doido”.
Se já tínhamos em cada um de nós um pouco de técnico de futebol, médico, louco, engenheiro aeronáutico, perito criminalista, advogado e jornalista, agora temos também em nosso ego um meteorologista.
E os meteorologistas de diploma na parede, tornaram-se estrelas. Dão entrevistas ao vivo em jornal de audiência nacional e ganham retratos nas capas dos periódicos impressos.
A previsão do tempo que antes roubava parcos minutos do nosso dia, hoje leva no bolso um quadro inteiro de qualquer programa de televisão. Conglomerados da mídia criaram sites especializados para tratar do tempo, com bate-papo on-line entre internautas e especialistas do tempo.
Há que se abrir um parêntese quando temos uma ameaça real de tempestade violenta, mas daí a tornarmos paranóicos pelo assunto? Daqui a pouco, neste mundo do politicamente correto, ninguém mais toma banho de chuva.
— Deus me livre! Com essa poluição? E se eu gripar? Pode virar Gripe Suína.
Bons tempos eram aqueles em que éramos rebeldes até em relação ao clima. A gente sabia que se nossa mãe mandava levar uma blusa porque ia esfriar ou um guarda-chuva porque ia chover, era batata, ia esfriar, e ou, ia chover. Mesmo assim tínhamos coragem de bater no peito e rasgar a garganta para desafiar:
— Não vai não, mãe.
E voltávamos encharcados. Encharcados e com a alma liberta.
Nem o tio Bartolomeu tem mais lugar com sua previsão tradicional. Meu velho parente anda cada vez mais cabisbaixo. Quem, diabos, vai trocar uma Rosana Jatobá, uma Flávia Freire, uma Flávia Alvarenga, por uma fisgada na cicatriz da apendicite aguda extirpada do abdômen do pobre aposentado há pelo menos quatro décadas?
Ah, e não esqueça o guarda-chuva se for sair de casa, que vai chover!
terça-feira, setembro 15, 2009
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5 comentários:
Sexta vai chover aí na tua cidade meu filho, nao esquece!
Faltou falar do detestável "tempo bom", como se o conceito de "bom" e "ruim", "belo" e "feio" fosse passível de unimidade.
O que é "tempo bom"? Sol? Para todos?
Pensem!
Quem é que sabe o que é que vem trazendo essa clarão
Se é chuva ou ventania, tempestade ou furacão
Ou talvez alguma coisa que não é nem Sim nem Não
Que luz é essa, gente
Que vem chegando lá do céu
Ou
Eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo
O meu medo da chuva
Pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar...
Se bem que seria muito óbvio.
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