*Anderson Paes | www.twitter.com/andersonpaes
Nos dias de chuva ou quando todos tinham vontade, alguns amigos se reuniam e continuavam uma partida de War, que começaram havia um certo tempo. Resolveram deixar os objetivos das cartas de lado e tentar dominar o mundo – mesmo sabendo que o jogo se tornaria quase interminável. Mas estavam de férias, então continuaram.
No sorteio das cartas ele havia tirado “América Latina e outro continente a sua escolha”, mas com a decisão de conquistar o mundo todo, fez pouco caso e jogou. Num lance de dados, tio Sam começa a avançar para o sul do Caribe. Era a parte que faltava para sua estratégia, pois não há mais perigo de reação do velho Kremlin – agora roncando – com suas poucas peças na Ásia.
A Europa, depois de anos lutando contra os dados que eram jogados por lá, se rebelou e acumulou peças, conquistou parte da África e hoje vive sem grandes objetivos nesse tabuleiro. Quase o mundo todo já foi vencido, pelas armas ou pelos ideais e culturas. Até a China se deixou invadir.
De vez em quando ainda se ouve reações de pequenos exércitos querendo lançar seus dados contra o sempre atento e hiperativo tio Sam. Batem na mesa e jogam sem saber que logo perderão suas últimas pedras coloridas.
A entrada do exército do Norte no território sul americano, ao que tudo indica – depois de algumas rodadas –, será pelos Andes. Ali perto, um último combatente ameaça contra-atacar. Huguito, como é chamado pelos amigos da mesa – com seu sorriso sarcástico estampado na cara –, vive reclamando das novas regras do jogo e ainda pensa em liderar a América do Sul. Os demais jogadores parecem aceitar a vitória e querem apenas cuidar do que têm, travando pequenas batalhas regionais – para que os jogadores mais exaltados não queiram acabar com o tabuleiro e recomeçar a partida.
Quando o clima começa a esquentar, a mãe de Europa, Terra, traz um lanche e suco para acalmar os jogadores. Ainda assim, de vez em quando, discutem. Foi o que aconteceu com um velho amigo chamado Hussein, que brigou com todo mundo e quase partiu para a agressão – acabou mandado embora pelos outros colegas, antes que a coisa piorasse. Depois de momentos assim, os amigos deixam o tabuleiro de lado e vão brincar com seus foguetes de água, nadar, contar piadas, jogar bola – chamam de Olimpíadas.
Dia desses, Terra chegou em casa dizendo que tinha pouca coisa para oferecer e que estava em crise. Os jogadores ficaram desanimados e resolveram ajudá-la nas tarefas do lar. “Depois a gente termina, vamos brincar”, chamou um dos mais novos jogadores, Luís.
Luís não parecia muito preocupado. “É só um jogo!”, repetia – tentando controlar seus amigos, os irmãos Álvaro e Huguito, que haviam discutido dias antes quando um quis atacar o território do outro. Álvaro, que controlava os Andes e perdeu nos dados para o tio Sam, chamou Luís para uma conversa – estava preocupado com as reações nervosas do irmão.
Sorridente e não compreendendo bem o espanhol do colega andino, Luís tratou de acalmar a todos contando que havia encontrado algo interessante em seu quintal. Tio Sam disfarçou, como se deixasse o assunto com Álvaro esfriar, e foi logo conversar com Luís. Ofereceu uns brinquedos em troca do novo achado e estão até agora conversando.
Qualquer dia eles voltam para o tabuleiro.
quinta-feira, agosto 06, 2009
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