*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel
António Lobo Antunes, um dos escritores portugueses mais lidos da atualidade, contraria o seu estilo de escrita densa e labiríntica, ao afirmar em sua palestra na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que “se queres ser um escritor, precisas ver Garrincha jogar e ser espontâneo como tal”.
O escritor lisboeta arrancou da platéia em Paraty uma das participações mais entusiasmadas. Tudo porque, para utilizar uma imagem mais familiar ao Brasil, citou um ídolo tupiniquim: Garrincha:
— Qualquer pessoa que queira ser escritora precisava ver Garrincha jogando, ou melhor, a jogar por dez minutos – disse em conversa com o jornalista Humberto Werneck, em referência a espontaneidade do anjo de pernas tortas.
António Lobo que também é psiquiatra e serviu na Angola na Guerra do Ultramar, como tenente e médico do Exército Português de 1971 a 1973, ainda mencionou outro craque brasileiro: Didi:
— Em um escritor, Didi é a cabeça e Garrincha é a mão. Você tem que ter os dois. A mão tem que escrever com a espontaneidade de Garrincha, mas com a cabeça acima, em vigia.
Mesmo sem querer, Lobo Antunes toca num ponto crucial em que as escolas de jornalismo, os jornalistas e os patrões da comunicação debatem com o fim da exigência do diploma para a profissão: a formação acadêmica e o talento inerente.
Garrincha era craque. Quem sabe jogar futebol nasce sabendo. Não se discute. Meu tio Bartolomeu mesmo tem certeza de que Garrincha foi muito mais jogador do que Pelé.
Mas e se Garrincha não treinasse? Se não aprimorasse a técnica, o preparo físico, o entrosamento com o grupo? Seria o mesmo? E se não fosse o mesmo, quem perderia? Certamente Garrincha sairia perdendo, seria preterido por um atleta dedicado aos treinamentos e obediente as ordens táticas.
O talento é a cereja do bolo. É a pedrinha de ouro no meio dos pedregulhos na peneira do garimpeiro. O mais é suor, muito estudo e trabalho duro.
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