*Emanuelle Querino | www.twitter.com/manuquerino
Vi um sinal do fim do verão. As jaboticabas caídas na ciclovia. Nem sei se realmente jaboticabas são. Pequenas frutinhas roxas pisadas, com marcas de pés e pneus de bicicletas. E de repente, do púrpura que cobria o chão, surge uma pequena borboleta laranja que voa para o verde da grama no canteiro. E as pessoas passando para lá e para cá, pisoteando-as cada vez mais, sem se importar com alimento no chão. Reclamando que vão manchar-lhes os sapatos.
Fiquei feliz em ver que mesmo às margens de um rio poluído nascem vidas nas grandes árvores que restaram depois de tantas podas. Fiquei triste, em ver, mais à frente, o contraste. Do chão tingido para o chão batido, sofrido, coberto de papeis e roupas de moradores de rua, de baixo da ponte.
O verde mistura-se ao branco, ao azul, ao vermelho das camisetas e bermudas penduradas em um varal improvisado. Pessoas pisoteadas pelas outras que passam por cima da ponte, indiferentes, sem se importar com o irmão no chão. Reclamando que ainda vão roubar-lhes os sapatos.
Quanto mais caminho pela cidade e me misturo aos anônimos, mais anônima fico. Sinto nos olhares que cruzam com o meu a curiosidade de saber quem é ele é: o que faz, de onde vem, para onde vai? O que pensa quando olha para mim querendo saber quem se esconde atrás dos óculos escuros que uso. Querem saber quem sou ou quem estou?
Quem sou, não sei. Mas hoje estou tocada pelas jaboticabas, que nem sei se jaboticabas são, pisoteadas na ciclovia.
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