*Camila Rufine | www.twitter.com/camilarufine
Quinta-feira foi meu primeiro dia de folga em La Grange Park.
Muito insegura e descoordenada para arriscar sozinha um trem para Chicago, decidi me aventurar pelas ruas da cidadezinha e descobrir se eu poderia gastar uns dólares, como terapia. Lembrei-me que precisava de agasalhos.
Passei por algumas lojas e tentei enxergar, do lado de fora dos estabelecimentos, se lá dentro havia alguma possibilidade de boa compra. Várias decepções, até que os manequins de outra vitrine me chamaram a atenção para uma jaqueta de couro bem bonita, com etiqueta de $30 dólares. Olhei para o lado de dentro e vi um bando de mulheres alvoroçadas. Pensei comigo: o paraíso deve ser aqui mesmo! E entrei.
Na primeira arara da loja percebi umas roupas meio retrôs demais. Achei meio estranho, mas passei direto para a arara que tinha a placa: barganhas femininas. Remexi e vi um suéter de lã verde-quase-limão. Gostei. Procurei pelo preço na peça, até que encontrei uma etiqueta que dizia "US$ 2". "Não era possível", pensei. "Achei um brechó? Mas essa loja está arrumadinha demais para ser um brechó". Na dúvida, medi as mangas da peça nos meus braços e procurei por algum defeito. Tudo certo, então agarrei o suéter com as forças que tinha e continuei a explorar a loja.
Nas outras araras, encontrei sobretudos de lã por $20 dólares. Jaquetas não tão bregas por $15. Definitivamente, aquilo era um brechó. Fiquei tão feliz. Quem me conhece pode imaginar o quanto um brechó me alegra. Depois de vasculhar muito, encontrei uma jaqueta de couro forrada com aquelas pelúcias felpudinhas, em perfeito estado, por apenas $25. Experimentei no espelho que havia em um dos pilares da loja e fui em direção ao caixa. As duas peças, com a cobrança de taxas, saíram por $29 dólares. Um verdadeiro tesouro, segundo a antendente.
Cheguei em casa e tentei ir direto ao meu quarto sem que meus hosts (meus anfitriões e patrões) percebecem por onde eu havia andado. Pendurei as minhas novas peças de vestuário no meu closet e resolvi usar meu suéter verde naquela mesma noite.
Minha host elogiou meu suéter. Eu apenas agradeci. Não contei a história para ela. Mas fiquei preocupada. Será que era dela antigamente? Será que ela sabe por onde andei? Ou será que ela só achou verde-limão demais para minha pele e não soube o que dizer?
No outro dia de manhã, usei novamente o suéter, para levar os meninos que estou cuidando passearem. E novamente, ouço da minha host:
— Eu realmente gostei do seu suéter. Adoro verde.
Agradeci novamente, mas não contei que ele me custou apenas dois dólares em um brechó. Acho que, assim como acontece com o direito e com as salsichas, ela não precisa saber como o meu guarda-roupa é feito.
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