*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel
Pensei – pode não parecer, mas eu penso – em começar este texto com a batida expressão: “a vingança é um prato que se come frio”. Mas, porém, todavia, quem sabe, “vingança” propriamente dita não seria o sentimento do Peru em relação à Argentina desde aquela Copa do Mundo de 1978. Um acerto de contas com o passado para tirar um peso das costas, talvez se enquadre melhor.
Amiúde os deuses do esporte vivem pregando peças em todo mundo.
A Argentina vivia em 1978 uma das mais brutais ditaduras da América Latina. Sob o comando do presidente militar, o tenente-general Jorge Rafael Videla, o regime totalitário platino viu naquela copa uma oportunidade de anestesiar o país e desviar o foco das violações dos direitos humanos cometidos contra los hermanos opositores ao governo.
Diferente de hoje, a Copa de 1978 não teve semifinal. Dois grupos com quatro seleções cada, duelaram entre si. O primeiro de cada chave disputou a final. No grupo um, a Holanda ficou à frente de Itália, Alemanha Ocidental e Áustria. Pelo grupo dois, de uma forma obscura, deu Argentina
Na última rodada o Brasil venceu a Polônia por 3x1 e colocou um pé na final. Os argentinos precisavam vencer o Peru por uma diferença de quatro gols. Na escolha dos horários dos jogos a história começou a ser moldada em favor da Seleção Argentina. A Fifa, de uma hora para outra, resolveu adiantar o jogo dos brasileiros para a tarde, atendendo pedidos das emissoras de TV locais, que alegavam estarem se adaptando a transmissão em cores. Os argentinos entraram em campo a noite, já sabendo de quanto precisariam vencer.
E em uma atuação vexatória do goleiro Quiroga – argentino naturalizado peruano – o Peru levou seis, não marcou nenhum e a vaga ficou com os argentinos. Esta história mal contada é alvo até hoje das mais inventivas teorias. Desde subornos entre dirigentes e jogadores, ao envolvimento dos mais altos quadros governamentais de Argentina e Peru em colaboração militar. Não bastasse, o jornal inglês Sunday Times denunciou uma fraude nos testes antidoping dos argentinos. Segundo o periódico um homem teria sido contratado apenas para urinar.
Moralmente, para os brasileiros, o Brasil foi o campeão, por ter sido eliminado invicto da Copa. Na final, a Argentina venceu a Holanda – sem o craque Johan Cruijff, que não foi ao torneio em protesto contra a ditadura – por 3x1.
E lá se foram sete Copas do Mundo. Muita coisa mudou. Tudo parecia resolvido. Aí aqueles benditos deuses do futebol resolvem colocar de novo o Peru no caminho da Argentina. Para Freud é um prato cheio!
Sábado às 19h (horário de Brasília) a Argentina pega – no bom sentido – o Peru mais uma vez em um momento delicado. O Peru vem atrás de todo mundo – no bom sentido novamente, é o lanterna das Eliminatórias –, mas promete dar de tudo para vencer a seleção de Maradona. Se perder, os argentinos praticamente dão adeus à Copa da África do Sul.
A imprensa peruana diz que os jogadores e a população querem resgatar a honra perdida em 1978. E mais, querem repetir um feito histórico: a última vez que os argentinos ficaram fora de uma Copa do Mundo foi em 1970 e, adivinhem quem os eliminou? "Piiiiiiiiiiruuuu!? Glu, glu, glu, glu!"
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