*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel
Durante o final de semana do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 deste ano, Nelsinho Piquet participava de um torneio de kart em Mônaco. Nem por isso a torcida brasileira presente em Interlagos esqueceu do ex-piloto da Renault que confessou ter batido propositalmente durante a corrida de Cingapura, em 2008, para beneficiar seu então companheiro de equipe, Fernando Alonso.
— Nelsinho, “fiado”! Nelsinho, “fiado”! – era o adjetivo mais usado pela turba ignara a cada vez que um torcedor desfilava com um boné ou camiseta da Renault ou a rádio ambiente no circuito mencionava o nome de Nelsinho.
Como justiceiros sedentos por vingança, os brasileiros bradam aos quatro cantos, ensurdecedores gritos por honra, caráter e honestidade. De uma hora para outra, este mesmo povo que ultrapassa pela direita, fala no celular enquanto dirige, guia seu veículo embriagado, joga lixo pela janela do automóvel, suborna quem aceita seu suborno, fuma aonde não deveria fumar, estaciona aonde não deveria estacionar e procura meios de burlar as leis, as normas e as regras, arvorou-se em defensor da ética e dos bons costumes.
Longe de mim querer defender Nelsinho Piquet, mas muitos daqueles que “elogiavam” o piloto, na noite anterior se esbaldaram em boates longe dos olhos das esposas e dos filhos.
Superficialmente dá a impressão nítida de que o brasileiro mudou e não tolera mais deslealdade nem desvios de conduta. Ledo engano. E se Nelsinho Piquet, ao bater propositadamente em Cingapura, tivesse, mesmo que sem querer, beneficiado Felipe Massa, qual seria o comportamento do torcedor brasileiro?
Um banho de mar gratuito na praia de sua preferência se acertar!
Nelsinho Piquet seria homenageado efusivamente em Interlagos. Não faltariam faixas bem humoradas para agradecer o anti-herói tupiniquim. O brasileiro em matéria de caráter ainda é muito centrado no que diz respeito ao bem de seu próprio umbigo e nada mais. Pode até ser solidário na hora da desgraça, mas é capaz de qualquer jeitinho para se dar bem.
Não precisemos dar muitas voltas em um bólido de Fórmula 1 para encontrar um exemplo da clara aplicação da Lei de Gerson nesta que é a categoria do automobilismo preferida dos brasileiros. Alguém, por um acaso, ao reclamar que Rubinho Barrichello entregou várias vitórias no colo do companheiro Michael Schumacher cita o prejuízo causado aos adversários diretos do alemão na peleja pelo título do mundial de pilotos? Não. O brasileiro reclama, sim, porque não foi Rubinho o beneficiado.
terça-feira, outubro 20, 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
9 comentários:
É aquela coisa: A única lei que o brasileiro respeita é a Lei de Gérson.
Há exceções, dizem.
Foda! Sem mais...
Concordo plenamente com o texto.
E ainda a roubalheira de deputados e senadores, sem falar no molusco que "governa" a nação...
Ou o imbecil que passa no amarelo, vermelho, que anda na contra-mão, que poe a moto na calçada, e ainda olha feio pq o pedestre quer passar...
O problema é que o mal exemplo vem de quem deveria zelar, fica td mundo, ah é só um clips de papel, o deputado construiu um castelo e não aconteceu nada...
o que impera é a m... da impunidade, a lei é pra todos, e não pra quem tem o melhor advogado, foro previlegiado... Se tem suspeita já começa errado, sim, pode recorrer, mas afastado e sem receber nada, enquanto a bandalheira não acabar e as pessoas aprenderem a votar, nada muda, o pais é lindo, sem destres naturais, terrorismo, mas o povinho...
Gostei do comentário, não concordo apenas com um ponto, o Rubens não entregou diversas vitórias ao Michael, ele entregou duas corridas, e após garantir o campeonato, a Ferrari deu a mesma ordem ao Michael, que ficou proibido de ultrapassar o Rubens...
Deviam mandar um e-mail com esse conteúdo para o Felipe Massa, um exemplo fiel do texto. Recentemente ele desprezou o Nelsinho como se este fosse o principal culpado do seu infortúnio, falando muita besteira sobre o caso. Ele esquece que perdeu o campeonato também por incompetência própria - por não ter ganho um ponto a mais - e por conta de sua desastrada equipe que lhe ferrou tantas vezes.
Muitos desses torcedores, posso apostar, levaram faixas no final do campeonato do ano passado com os dizeres "Bate nele, Rubinho!" sugerindo que seria legal rubinho banter em Hamilton para beneficiar Massa. Lembram?
Infelizmente, tem uma corja de FDP no Brasil que faz com esse país não saia do lugar.
Certo estava o gari que devolveu o dinheiro achado no banheiro da rodoviária, chamado de otário nas rodinhas de boteco.
Texto perfeito. Parabéns!
Este texto fez a poli!!! Parabéns.
abs aldo
Postar um comentário