*Thiago Schwartz | www.twitter.com/perereco
Há mais ou menos dois meses, abriu na esquina da rua de casa uma quitanda. Sim, uma quitanda.
Um espaço bastante restrito, onde disputavam espaço as verduras, as frutas, os legumes, as garrafas de melado, a água, os mantimentos e o carvão. Basicamente isso. E um balcão, cheio de balas, que faz sucesso entre a garotada ali do bairro. As frutas, mirradas, não têm condição de fazer frente às grandes e bonitas frutas do supermercado. Mas todas carregam uma espécie de orgulho, próprio daqueles que se recusam a fazer parte disso tudo, em nome da tradição da quitanda.
Por volta das 18 horas, o dono da quitanda coloca algumas mesas de plástico na varandinha, para receber os senhores que estão por vir. É a transfiguração da quitanda. Senhores de meia-idade – alguns já na terceira – iniciam uma procissão casa-boteco e, uma vez lá, tem início o ritual sagrado, realizado diariamente: Pedem um aperitivo (quase sempre amendoim, por ser mais barato), uma cerveja, e começam a discutir os assuntos mais importantes do cotidiano.
Futebol, coisas do passado e futebol do passado. Quase sempre a conversa gira em torno disso. Sobre como os tempos antigos eram melhores que os de agora. É fácil ver lágrimas nos olhos de um senhor ao falar dos tempos de FerroLuz. Aquilo sim era clássico, não o Flamengo x Corinthians sofrível que passou na televisão domingo.
A quitanda que abriu na esquina da minha rua é uma espécie de portal. A vontade das pessoas que frequentam a quitanda fez com que o tempo lá corresse numa velocidade diferente do resto do mundo. Os rostos envelhecem, os corpos minguam, as línguas tropeçam – algumas por força do excesso –, mas o romance dos tempos idos, tão bem lembrados por Cartola, continua lá, somente à espera de alguém que o reviva.
segunda-feira, agosto 10, 2009
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