*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel
Foi em Brusque, cidade catarinense localizada no Vale do Itajaí, distante 218 quilômetros da minha Tubarão, ao Sul do Estado, durante uma curta viagem a serviço, que eu tive a inadiável constatação: estou ficando velho.
Eram os primeiros meses do ano e aquele sol de verão contra meu rosto que refletia no espelho do banheiro de um shopping me pregou uma peça:
– Quem plantou estes pinheiros cobertos de neve em minhas frontes? Quantos cabelos brancos!
Embora este início pareça um fútil comercial de pintura capilar, o assunto é mais sério e acredite: se você não passou, vai passar por isso.
Sempre achei que eu aparentava ter menos idade do que registra impiedosamente meus documentos. Aquela descoberta que me fez conferir por mais duas vezes cada lado da minha grande cabeça, mostrou que a natureza veio cobrar rápido o que demorou pra exigir antes.
Aos trinta anos, parece que a areia da ampulheta se tornou mais fina.
De lá para cá foram dois ouvidos inflamados (coisa que nunca tive), uma micro-cirurgia para retirada de um cisto-sebáceo com biopsia (quadro histopatológico compatível com epitelioma calcificante de malherbe (pilomatrima)), uma suspeita de infarto com um eletrocardiograma (distúrbio da condução em ramo direito e alteração da repolarização ventricular em parede inferior), uma ressonância magnética, que detectou um início de hérnia de disco (sinais de degeneração no disco de D10-D11, com desidratação; abaulamento de redução de altura e degeneração gordurosa focal no corpo vertebral de L2). Sem contabilizar um tratamento contra minha fiel acompanhante enxaqueca, que se estende por mais de um ano e deve se prolongar por meses infindáveis.
Como de costume e por não restar outra alternativa, escrevo a noite, antes de dormir. Logo a dor nas costas vai me tirar da cama antes do despertador tocar. Coisa de velho.
Quando menos esperamos, lê-se nos obituários e nas notícias de jornais, sobre a morte de gente com uma idade próxima da nossa, sem que isso provoque comoção. Começamos a ser atendidos por médicos da nossa faixa etária, sem que nos admiremos com a sua precocidade.
Ainda lembro quando o Ronaldo, ainda Ronaldinho, mais dentuço, muito mais magrinho, apareceu no Cruzeiro. O primeiro craque que, com apenas dois anos há mais que eu, vi arrebentar. Eu tinha 15 e ele 17.
Quem com pelo menos 30 anos não lembra quando Ronaldinho aproveitou o descuido do experiente goleiro Rodolfo Rodrigues, do Bahia, e numa travessura com requinte de gênio, escondeu-se atrás do arqueiro, que ajoelhado de frente para a trave, largou a bola? Milésimos de segundos foram necessários para o menino dar um toque na gorduchinha e marcar uns dos cinco naquela vitória do Cruzeiro.
Depois veio a Europa no PSV Eindhoven, Barcelona, Internazionale, Real Madrid e Milan, até o retorno ao Brasil no Corinthians. Sem contar as Copas do Mundo, de 94, que não entrou em campo, de 98 que teve problemas na final, a de 2002 que brilhou e a de 2006, apagado como todo o resto da Seleção Brasileira.
Todos aqueles bons momentos passaram. Ronaldo está ficando velho e me levando junto (no bom sentido).
Ronaldo já passou por quatro cirurgias nos joelhos e mais recentemente implantou placas nos metacarpos e 12 pinos na mão esquerda para corrigir uma fratura. Aproveitou e já retirou 700 mililitros de gordura da região da barriga (semelhante a minha) em uma lipoaspiração.
Quando os meninos que se tornam heróis ao mesmo tempo em que ganhamos os primeiros pelos de barba, envelhecem, é sinal de que não somos tão imortais quanto acreditávamos que fôssemos.
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