PRIMEIRA PÁGINA | FOTOGRAFIA | SÉRIES | TWITTER | FACEBOOK
Destaque Quitandas e a volta aos tempos românticos Thiago Schwartz


Blog •

quinta-feira, outubro 01, 2009

Vila Xurupita de luto

*Eduardo Daniel | www.twitter.com/eduardosdaniel

A Vila Xurupita foi o cenário para a maioria das aventuras literárias da minha infância. Localidade carioca situada no Morro do Papagaio, este bairro fictício é a casa do bom malandro e boa pinta Zé Carioca. Na vila humilde, que retratava a realidade suburbana dos anos 70 e 80, Zé Carioca, Nestor e Pedrão eram os reis do pedaço. Circulavam por entre os barracos e ruas de chão com desenvoltura e sagacidade.

No mundo de hoje, onde todos se levam muito a sério, o pobre do Zé certamente não teria chances de sobrevivência. Quem sabe arrumaria um emprego para se casar com Rosinha e satisfazer Rocha Vaz, seu sogro sovina.

Eram tempos difíceis aqueles, nem por isso se deixava de sorrir. A Vila Xurupita entrava em clima de festa no carnaval com a Escola de Samba Unidos da Vila Xurupita e o Vila Xurupita Futebol Clube nos clássicos que normalmente acabavam em confusão e pancadaria.

Por detrás daquelas deliciosas histórias, estava Ivan Saindenberg, roteirista da Disney no Brasil e que de 1971 a 1978 escreveu mais de mil roteiros para personagens como Pato Donald, Peninha, Mickey, Pateta e o melhor de todos: Zé Carioca.

Quando criança não me importava com quem escrevia aqueles textos do brasileiríssimo e carioca Zé, só lamentava que em seus gibis apenas a primeira e última história eram do papagaio malandro. No recheio da revista eu apenas folheava por entre os demais personagens Disney. Passava tão rápido como o próprio Zé fugindo da Anacozeca (Associação Nacional de Cobradores do Zé Carioca).

Desde a manhã do dia 30 de setembro, a Vila Xurupita estará para sempre um pouco mais triste. As complicações da diabete e uma insuficiência arterial levaram Ivan Saindenberg aos 68 anos.

A leveza dos textos do Zé Carioca contrastava com a sisudez dos demais integrantes da trupe da Disney. Não à toa, era no cotidiano e na poesia de Carlos Drummond, de Manuel Bandeira, de Camões, de Castro Alves e de Fernando Pessoa que Ivan bebia para nos servir da filosofia simplista de Zé Carioca.

Nas histórias do Zé Carioca escritas por Ivan era perfeitamente possível sentir os cheiros do morro, ouvir a algazarra dos moleques nos becos e ruelas da favela. Dava pra sentir no rosto a maresia que a brisa trazia do mar distante, quando Zé Carioca, Nestor e Pedrão deitavam para vagabundear e curtir a paisagem do Rio de Janeiro.

Ivan nasceu em Piracicaba, interior de São Paulo e morreu em Santos. Em 1960 entrou para o universo dos quadrinhos. Foi “apresentado” por seu amigo Mauricio de Sousa (o pai da Mônica) à Editora Abril e recebeu a missão de resgatar o então esquecido e querido Zé Carioca. Na editora ficou de 1971 até 1985.

0 comentários:

Postar um comentário

 

CONTATO
Colaboradores Ana Carla Teixeira, Anderson Paes, Camila Rufine, Carlos Karan, Deyse Zarichta, Eduardo Daniel, Emanuela Silva, Emanuelle Querino,
Emmanuel Carvalho, Fabiano Bordignon, Fabrício Espíndola, Francine de Mattos, Gabriel Guedes, Germaá Oliveira, Guilherme Marcon, Isabel Cunha, Kellen Baesso, Manuela Prá, Patrícia Martins, Thiago Antunes, Thiago Schwartz, Tiago Tavares, Valter Ziantoni,Van Luchiari, Vanessa Feltrin, Vitor S. Castelo Branco, Viviany Pfleger

©2010 GeloEmMarte.com Todos os direitos reservados. As opiniões aqui expressas são de responsabilidade de seus respectivos autores.