*Deyse Zarichta | www.twitter.com/deysezarichta
Nada escapa à arte. Nada escapa à rapidez da arte. Você pensa em um tema qualquer e descobre que ele já existe em algum lugar. Já é um filme assistido, resenhado e criticado antes mesmo de ser lançado.
Quando o tema é bom e rende será reciclado e resgatado por várias gerações. Amor e guerra, por exemplo, ou guerra sem amor – mas isso nem sempre chama muito a atenção da audiência –, ou amor em meio a guerra.
É clássica a cena de Ingrid Bergman em ‘Casablanca’, a mocinha apaixonada com cara pensativa enquanto escuta ao piano: “You must remember this, a kiss is just a Kiss”.O filme tornou-se clássico pela originalidade: foi a primeira vez em que um casal não pôde ter seu final feliz em Hollywood. A guerra os separa.
É o que se espera da arte,que ela supreenda-nos.Mesmo quando o tema já foi remoído por gerações. A lista dos filmes anti-nazistas ultrapassava 365 nomes já durante o Terceiro Reich.
Dia 9 de outubro estreia mais um filme com o tema anti-nazista: “Bastardos Inglórios”.
O melhor de tudo é que Bastardos Inglórios é mais do que um filme com o belo engajamento anti-nazista, se fosse só isso chegaria perto de ser obsoleto ou,no mínimo,arquetipado. Ele vai um pouquinho além – além de ser um filme de tema anti-nazista, o próprio cinema como arma anti-nazista é também tema.
A mocinha francesa escapa de um coronel nazista após a execução completa de sua família pelo mesmo, troca de identidade e torna-se proprietária de um cinema — além de ser a mocinha do filme, ela é a ‘mocinha dos filmes’ no filme.
A mocinha, que planeja uma vingança – uma daquelas super-vinganças femininas-tarantinescas – terá seu destino cruzado ao esquadrão de Raine (Brad Pitt) que já tem sua própria atriz aliada à missão de aniquilar nazistas.
Hoje qualquer vídeo sobre tortura é escancarado para o mundo tão logo é gravado. Durante o Holocausto a coisa era um pouquinho mais complicada. Créditos à Hollywood pelo sucesso em mostrar a verdade ao mundo.
A relação cinema e nazismo evidencia uma importante face da arte: o artista pobre de espírito une-se à parte podre da história — Leni Riefenstahl, atriz alemã, tornou-se cineasta de Hitler após ter frustrado seu sonho de ser atriz em Hollywood. O artista verdadeiro não se enfurece, nem mesmo quando tem seu símbolo roubado — ou você acredita mesmo que aquele bigodinho do Führer era original? — Charles Chaplin já era o comediante mais famoso do mundo quando teve seu bigode 'roubado' por Hitler, numa tentativa de marcar seu rosto para o mundo.
Com isso Chaplin pôde facilmente fazer a melhor sátira do cinema em “O grande ditador”, ele interpreta 'Adenoid Hynkel': ditador que usa uma farda com um simbolozinho no ombro lembrando duas cruzes e discursa delirante e histericamente. No mesmo filme Chaplin interpreta um barbeiro judeu, que é confundido com o ditador devido as semelhanças físicas e assim acaba por ir a rádio e discursa à nação sobre a liberdade, amizade e amor. Esses sim são temas clássicos, nunca clichês. You must remember this.
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