*Camila Rufine | www.twitter.com/camilarufine
Ontem me senti muito discriminada aqui. De novo.
Da primeira vez, eu e mais duas Au Pairs estávamos com dificuldade para compreender os detalhes sobre o pedido de mudança de endereço da conta do celular de uma delas. Depois de muito custo e repetição, entendemos o que a atendente-número-um queria dizer. Foi quando a atendente-número-dois resolveu perguntar há quanto tempo estávamos aqui. Respondi, toda simpática, que fazia quatro meses. Ela fez um sinal negativo com a cabeça, como quem não quer se conformar com algum caso perdido. Muito inocente, perguntei para ela se nosso inglês estava tão ruim e ela só deu de ombros, provavelmente agradecendo a Deus, em pensamento, por ter compensado a sua feiura com a naturalidade norte-americana. Eu não fui madura a ponto de não me afetar e fiquei o resto do dia inconformada com a minha falta de progressos no Inglês.
O segundo episódio da série 'Discriminados' aconteceu no mesmo shopping. Eu e mais três amigas estávamos sentadas em dois dos bancos do corredor com nossas várias sacolas de compras, esperando outra Au Pair chegar para irmos a um barzinho. Nesse meio tempo, passou um xerife boa pinta e uma das minhas comentou em voz baixa - e em Português: "Que policial bonito!". Demos uma risadinha silenciosa, mas logo continuamos nossos assuntos anteriores, também em Português. Foi quando o xerife, que já estava longe, voltou para a nossa direção, perguntando se a gente estava ali à espera de alguma carona. A gente respondeu que não. Ele disse então que era pra gente sair de lá. Ainda sem entender nada, perguntamos se o shopping estava fechando. Ele falou que não, mas que era pra gente encontrar o nosso carro e ir embora, naquele momento. Intimidadas, dissemos que tudo bem e ele saiu de perto da gente.
Depois de uns 10 minutos paralisadas e tentando descobrir qual teria sido o motivo daquela cena, concordamos que ele só poderia ser um desses americanos xenofóbicos com síndrome de superioridade e que, quando ouviu a palavra 'policial', bem parecida com 'policeman', em Inglês, deduziu que estávamos falando mal dele. Achamos melhor sair de lá, pois se o xerife decidisse dizer que nos ouviu combinando queimar uma bandeira americana gritando por Alá, todo mundo poderia acreditar.
Nunca esperei chegar aqui no país dos egocentrismo paranóico e receber tratamento especial. Mas tem dias que é dificil achar inteligente a minha decisão de ter vindo pra cá.