*Camila Rufine | www.twitter.com/camilarufine
Passada mais de uma semana na casa dos meus hosts, já coleciono algumas táticas de ludibriação infantil.
Para quem ainda não sabe, sou Au Pair de dois garotos. Um de um ano e sete meses e outro de quatro meses. O mais velho só diz algumas palavras monossílabas (ainda assim incompletas), mas é muito ativo e entende tudo o que você diz – tanto que já temos que usar com ele o artifício da soletração. O mais novo é muito desenvolvido para a idade, mas só faz chorar, sorrir, mamar, sujar fraldas, querer colo e dormir.
Cuidar de duas crianças em momentos tão diferentes está sendo mais difícil do que imaginei. Quando o mais novo está calmo no meu colo, vem o mais velho fazer birra (a la novela mexicana, com direito a se jogar no chão e tudo), e vice versa. Eu pensava que estava imune a esse drama, já que ajudei durante alguns meses duas educadoras a monitorar mais de 20 crianças, de uma só vez, na creche na qual fui voluntária. Tolice.
Maldita a hora que, na entrevista por telefone com os hosts, tentei ser a engraçadinha conhecedora dos ditos americanos e disse que achava que cuidar dos dois seria ‘piece of cake’.
Mas nem tudo está perdido e estou exercitando meu poder de copiação. Com o menino mais velho, pelo menos.
Um dia, enquanto tomava meus cereais no café da manhã, ele cismou que não queria mais o café da manhã dele e, sim, o meu. O pai dele olhou para mim e me ensinou o truque: pegou o pedaço de maçã do prato do menino e fingiu que tirava da minha tigela de cereais. O menino viu toda a cena, mas foi o suficiente: deduziu que eu estava comendo o mesmo que ele e terminou a refeição sem mais um 'a'. Agora, todo café da manhã é a mesma história, e ele sempre cai.
Já para os momentos de manha, quem me ensinou o truque foi a avó dos meninos. Um dia ela estava aqui me ajudando a familiarizar com os hábitos da casa e novamente o garoto mais velho começou um episódio de birra gratuita. Ela só gritou ‘Look at the squirl, boy!’. Foi como presenciar um milagre. O rosto deixou de ficar vermelho, as lágrimas secaram e ele foi correndo apontar para a rua, gritando 'uh, uh, uh' (ele só usa esse linguajar quando vê três coisas: caminhões grandes, balões de gás hélio e esquilos).
Aqui, aonde estou morando, você cruza com uma dúzia de esquilos a cada volta no quarteirão. Isso faz o artifício ter validade, pois as probabilidades são altas de que, na hora exata em que eu disser ‘olha o esquilo!’ realmente haja um na rua.
Fico pensando o que será de mim quando essas táticas perderem o efeito. Só saberei realmente do que sou capaz quando for obrigada a inventar meus próprios artifícios de distração. Mas ontem a avó do menino me deu outra dica: ele gosta mais de coelhos do que de esquilos.
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